OPINIÃO POLÍTICA | Leila Alexandre – Ativistas de polegar

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Ativistas de polegar

 

Ao ativista contemporâneo, bastam dois polegares, redes sociais, internet e um número bastante de seguidores.

Justiça seja feita que hoje nenhuma empresa, instituição ou pessoa que se queira apresentar e estabelecer perante um público consegue fazê-lo sem redes sociais. Tornaram-se, aos olhos de todos e com as vantagens que lhes são reconhecidas, um dos mais poderosos intrumentos que se pode utilizar. Ali se vende, divulga, mostra, comenta, critica, opina, constrói, destrói, mobiliza.

(Mobiliza?) Estou em crer que a mobilização nunca encontrou dias tão duros quanto os de hoje. A verdade que se apresenta é que ao cidadão de hoje conseguimos mobilizar os polegares, mas não mais. O resto do corpo mantém-se, inerte e confortável, onde está.

De quem é a culpa? De todos: de quem pode mobilizar e de quem pode ser mobilizado. Essa é outra discussão (ou outro texto).

Concretizemos no município de Mafra:

Quantos são os que criticam o cheiro nauseabundo com origem na Tratolixo? Comentários sobre esse assunto, fotos e partilhas são incontáveis. Promove-se um debate, com diagnóstico dos problemas e apresentação de possíveis soluções – as pessoas ficam em casa. “Eles hão-de publicar as conclusões a que chegaram.”

Há alguém que não reclame que em Mafra se aplica a taxa máxima de IMI? (Está a chegar.) Não, todos os que pagam reclamam do IMI. Quantos se fazem ouvir nos órgãos municipais sobre o assunto? Quantos se organizam para reivindicar a descida do IMI? Todos. Online.

As portagens na A21 são caras demais. São. Chega o extrato da Via Verde e é um susto. Todos reclamam. Com a ponta dos dedos. Nos grupos das operações STOP e de amigos do concelho.

As estradas têm buracos, os parques ecológicos não têm ninguém, falta manutenção no parque infantil, não há ecopontos, as bermas não são limpas, falta habitação municipal, aquela coletividade não tem apoio suficiente… queixamo-nos todos de tudo e com razão. Temos ideias, propostas, alternativas, queremos muito participar. E depois? Depois ficamos em casa, ou vamos passear ou não estamos com disposição para ir ao local adequado, na hora certa, exigir os nossos direitos, fazer valer o nosso ponto de vista, dar a cara por uma causa.

Participar é trabalhoso e muitas vezes inglório, mas é necessário. É necessário dar descanso aos polegares (e evitar tendinites), sair à rua, dar a cara, fazer com que a nossa voz se ouça, dar o corpo às balas, mostrar quem somos, o que queremos e por que razão.

Tenho impressão que quanto mais novos somos, menos participamos, o que é triste e contra a lógica das coisas. E, se assim é, amanhã não há ninguém nos órgãos políticos, nas coletividades, nas tertúlias de café e por aí adiante. Não participar é condenar cada um de nós ao desígnio de alguém que provavelmente não nos vai representar, é pensar no nosso próprio conforto e sossego, quando valores mais altos podem ser postos em causa.

É da inércia que nasce o perigo, está à vista de todos, lá fora. E um dia destes – ninguém nos ouça – cá dentro.

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As opiniões expressas nesse e em todos os artigos de opinião são da responsabilidade exclusiva dos seus respectivos autores, não representando a orientação ou as posições do Jornal de Mafra

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