Um jovem de 99 anos
Pode um partido com 99 anos ser jovem?
A resposta é indubitavelmente, PODE!
Pode, porque tem IDEOLOGIA, porque se serve de ferramentas de análise que lhe permitem compreender o passado, caracterizar o presente e idealizar o futuro.
O Partido Comunista não tem DOGMAS, a nossa filosofia é o materialismo dialéctico, e este ensina-nos que, citando Lenine
“Materialismo é reconhecer os objetos em si ou fora da mente; Ideias e sensações são cópias ou imagens desses objetos.” em contrapartida “A doutrina oposta (idealismo) afirma que os objetos não existem “sem a mente”; objetos são “combinações de sensações”»;
e a dialética, é um método de análise da realidade, que vai do concreto ao abstrato e que oferece um papel fundamental para o processo de abstracção necessário à concepção do novo.
Não vos vou massacrar com os aspectos filosóficos, base do materialismo histórico e da economia Marxista, óptimos temas para eruditos e, porque não, para as nossas tertúlias de café.
Os parágrafos anteriores servem apenas para vos garantir que no Partido Comunista Português não há DOGMAS. A acção do PCP assenta na realidade, e a realidade é nos transmitida pelo relato dos trabalhadores, dos homens e das mulheres, que connosco habitam a nossa aldeia, a nossa cidade, o nosso País e no mundo.
Foi assim que em 1921, da realidade da exploração da classe operária, nasceu a necessidade da representação política concretizada pelo Partido Comunista.
Na sua génese estão os sindicatos, os movimentos anarquistas.
Os primeiros 5 anos de existência não foram suficientes para impedir a instauração do fascismo, mas foram suficientes para nunca pactuarem com ele, nunca aceitar a proscrição e com o sacrifício heroico dos seus militantes lhes dar luta, perdendo e ganhando batalhas, reescrevendo a estratégia e a táctica que, Álvaro Cunhal registou no relatório ao Comité Central intitulado Rumo à Vitória – as tarefas do Partido na Revolução Democrática e Nacional. Este documento viria a constituir a base política do relatório que foi apresentado, em Setembro de 1965, ao VI Congresso do PCP.
O programa do PCP aprovado neste congresso definiu o levantamento nacional, a tomada do poder pela força, como o único caminho que poderia liquidar a ditadura, mas demonstrou que não bastava derrubar o governo fascista e instaurar as liberdades para que a democracia se tornasse viável. Era necessário igualmente pôr termo ao poder económico dos monopólios e latifundiários, acabar com as guerras coloniais e com o colonialismo, destruir as bases de apoio da reacção e do fascismo.
Uma parte dos 8 objectivos definidos no VI Congresso do PCP foram alcançados e até inscritos na Constituição da República com a revolução de 25 de Abril de 1974:
«1.º – Destruir o Estado fascista e instaurar um regime democrático;
2.º – Liquidar o poder dos monopólios e promover o desenvolvimento económico geral;
3.º – Realizar a Reforma Agrária, entregando a terra a quem a trabalha;
4.º – Elevar o nível de vida das classes trabalhadoras e do povo em geral;
5.º – Democratizar a instrução e a cultura;
6.º – Libertar Portugal do imperialismo;
7.º – Reconhecer e assegurar aos povos das colónias portuguesas o direito à imediata independência;
8.º – Seguir uma política de paz e amizade com todos os povos.»
Depois, ao longo dos 46 anos do pós destruição do Estado fascista, Congresso após Congresso, reunião do Comité Central, após reunião do Comité Central, reunião após reunião de célula a tática foi reescrita e muitas vezes contra tudo e contra “todos”, por “todos” entendam-se as formações políticas que suportam, ou são suportadas, pelo grande capital, nacional e internacional, tem dado voz e lutado ao lado do povo trabalhador, permitindo a Jerónimo de Sousa, no comício de Comemoração do nosso 99º aniversário, afirmar:
“Sim, somos o Partido das causas do futuro. Da valorização de quem trabalha. Da garantia de condições de vida, de trabalho, de educação, de saúde, de habitação para todos.
Somos o Partido dos direitos das mulheres, da juventude, dos intelectuais, dos reformados, das pessoas com deficiência, dos pequenos e médios agricultores e empresários. Somos o Partido da justiça social, do desenvolvimento e do progresso.
Somos o Partido da soberania nacional, do direito dos povos à autodeterminação e da paz!
Somos essa grande força que, com a energia das suas firmes convicções, transporta a bandeira da esperança e nos diz que valeu e vale a pena olhar para o futuro com confiança, porque perseguimos o ideal mais nobre da emancipação e libertação da exploração do homem pelo homem.
O Partido que continua na linha da frente da luta pela concretização desse sonho milenar que mobiliza milhões de seres humanos em todo o mundo”.
Somos o mais antigo e o mais jovem partido português!
Março de 2020.
Pode ler (aqui) outros artigos de opinião de José Martinez
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