OPINIÃO POLÍTICA | José Martinez (CDU)

Opinião Política
Por José Martinez

Somos todos iguais.

Estamos todos no mesmo barco/A COVID não escolhe classes.

Temos que estar unidos.

 

Somos metralhados com estas frases diariamente pela comunicação social, lamentavelmente esta não é uma realidade e quanto à unidade precisamos dela para podermos ser mais iguais, para podermos repartir as dificuldades por quem pode e para não permitirmos que a juntar às dificuldades próprias da pandemia sejam acrescentadas as geradas pelo aproveitamento das classes dominantes para aprofundar as condições de exploração em favor dos grandes grupos económicos nacionais e internacionais.

Somos todos iguais

Se é verdade que os primeiros passos da pandemia, no nosso país foram dados pela via da importação de viajantes em negócios ou turismo, logo se transformou em contágio local atingindo milhares de pessoas, 770 infectados importados e 28040 por contágio local, ao dia de 16 de Maio.

“condições de vida adversas são, desde sempre, associadas à prevalência de doenças infetocontagiosas. Locais com maior densidade populacional, pela maior sobrelotação das habitações e dependência do uso de transportes públicos lotados, tornam mais difícil o distanciamento entre as pessoas, aumentando assim o risco de transmissão de vírus”

Esta tese encontra resposta, segundo o Barómetro Covid-19 da Escola Nacional de Saúde Pública:

“Este facto é confirmado pela análise do número de casos por concelho em Portugal …, onde se verifica que os concelhos com menor taxa de desemprego, maior média de rendimento e menor desigualdade de rendimento (medida pelo índice de Gini) são também os locais onde existem menor número acumulado de casos”

Não, não somos todos iguais

Estamos todos no mesmo barco/A COVID não escolhe classes.

Servindo-me ainda dos dados do Opinião Social, o questionário do Barómetro Covid-19, da Escola Nacional de Saúde Pública, da Universidade Nova de Lisboa:

“Uma em cada quatro pessoas que ganham menos de 650 euros mensais (agregado familiar), perderam totalmente o seu rendimento, enquanto que nas categorias de rendimentos superiores a 2500 euros, apenas 6% de pessoas perderam o seu rendimento.”

Não, não estamos todos no mesmo barco.

Embora os dados consultados não refiram a posição dos inquiridos face aos meios de produção, não poderemos ser acusados de manipulação se afirmarmos que os mais lesados economicamente são os trabalhadores por conta de outrem com vínculos precários, os que não podem trabalhar por teletrabalho, os pequenos empresários do retalho, os que não possuem meios de produção ou possuem os necessários para a venda do seu trabalho.

A COVID escolhe classes, a COVID está a provocar um aprofundamento das desigualdades entre trabalhadores e exploradores, como efeito secundário agravado pelas políticas centradas no apoio às grandes empresas e pela ofensiva do capital, a coberto da limitação de liberdade do “estado de emergência” rebatizado de “calamidade”, subalternizando as vítimas da doença.

TEMOS DE ESTAR TODOS UNIDOS!

Foi neste contexto que o patronato e o governo assinaram a “declaração de compromisso” da Comissão Permanente de Concertação Social, ornamentada com a assinatura da UGT, como se bilhas de ferro, os patrões e o governo, pudessem estar unidas, no mesmo barco, com bilhas de barro, os trabalhadores.

A CGTP não subscreveu o acordo, reconheceu algumas medidas positivas tomadas pelo governo, mas não embarcou na mistificação de que ESTAMOS TODOS NO MESMO BARCO, “quando a realidade mostra que são os trabalhadores e o povo, ou seja, os mais desfavorecidos, os mais afectados pela crise.”

OS TRABALHADORES TÊM DE ESTAR TODOS UNIDOS!

Mafra, 16 de Maio de 2020.

José Martinez
Reformado, membro da direção concelhia do PCP e deputado municipal pela CDU.

 


Pode ler (aqui) outros artigos de opinião de José Martinez


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