Abril é o meu mês!
Não, não nasci em Abril.
Não sou saudosista, mas não posso deixar de sentir orgulho na minha geração. Depois de 48 anos de fascismo – ditadura que subjugou e oprimiu duramente o povo português, o 25 de Abril, pôs termo a treze anos de guerras coloniais contra povos que também lutavam pela sua liberdade e pela sua independência, 48 anos de luta, uns de forma mais surda, sussurrada, outros de forma mais aberta pagando com a prisão e até com a vida o “atrevimento”, o “sol brilhou para todos nós”.
A juventude portuguesa, milhares de jovens como eu, ouvíamos, os resistentes e galvanizados pela esperança enchemos o rio que pôs termo ao obscurantismo, à opressão, ao esmagamento das liberdades, à limitação dos direitos fundamentais, à marginalização dos trabalhadores, da juventude, das mulheres e do povo da vida política.
O fascismo era miséria, fome, trabalho infantil, repressão, guerra, ódio, degradantes condições de vida, de saúde e de habitação, segregacionismo cultural, elitismo, analfabetismo, ensino reservado para uns poucos e condicionado para a grande maioria da população, salários de miséria, subordinação dos interesses do País e do povo aos interesses de uma minoria de grandes monopolistas e latifundiários, alienação do interesse nacional aos interesses do grande capital e do imperialismo.
A classe operária, os trabalhadores, as massas populares e os militares progressistas – «os capitães de Abril» –, unidos na aliança Povo-MFA, foram os protagonistas dos avanços e conquistas democráticas alcançadas, que foram consagrados na Constituição da República Portuguesa, aprovada em 2 de Abril de 1976.
Nos 45 anos da Revolução de Abril, muitos tentam negar, descaracterizar e pôr em causa o verdadeiro significado do que foi Abril e do que representa para o povo português.
Alguns vão tentar reescrever a História, branquear a natureza terrorista da ditadura fascista e silenciar a luta heróica dos trabalhadores e do povo português, outros, como em Mafra, a Câmara Municipal, fazem de conta que nada se passou e tentam criar o estado da subserviência, do chapéu na mão, da resignação “salvadora”, que permita encarar o futuro com o regresso ao passado.
Outros, nos quais, eu e os meus camaradas nos incluímos, para além da adesão ao desfile popular na Avenida da Liberdade, no dia 25, confraternizaremos, no dia 27, na Casa do Povo de Mafra, com todos os que se nos queiram juntar, alimentando a força de transformação e resistência que tem permitido que 45 anos depois o difícil caminho da democracia continue a ser trilhado.
Mafra, 15 de Abril de 2019.
Veja (aqui) todos os artigos de opinião de José Martinez.
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