Um ciclo que termina e que se renova
Um caminho fértil
Escrevo no limiar de uma janela de onde ainda vejo o passado, mas levantando o olhar já alcanço o porvir. Este ciclo que termina ao ritmo a que carrego nas teclas tem já mais de um ano… Incrível como o tempo imaginário escorrega pelo tempo real, quando o que se faz, o que se mexe, o que se toca e invariavelmente se transforma, está eivado de prazer e sentido de orgulho e de missão. Foi assim que assumi estes textos. Com “ideias sim, mas também pernas”. Comecei pelos princípios e é pelos princípios que eu, que também quase “nunca principio nem acabo” vou deixando a última vénia, o último anseio, antes mesmo da cortina se fechar.
Perdoem-me se o desiderato acordado para o teor destas crónicas, não for totalmente honrado neste último ato, se entanto não for (porque não será!) a política, o mote destas linhas. Ela, a política, está em tudo, mas não é tudo. É, porém, sempre um pouco mais do que a definem, se for entendida em prol do outro, dos outros. Se cada um de nós, inexoravelmente Homens políticos, estiver disposto a debruçar-se do parapeito para, estendendo a mão, alcançar e ajudar o outro; estiver preparado para renegar ao do ut des primário e mesquinho e venal e conseguir dar sem esperar receber em troca. A estrada afinal pode ser feita sem que seja para nós caminharmos nela. É assim que eu entendo a política. Não é o melhor entendimento, porventura não será o mais esperto, mas é o que trago e levanto “como um facho, a arder na noite escura”. E não é loucura, se pode ser sonho. Há momentos em que devemos parar, mudar, para que tudo se renove. Um amigo meu, poeta, que muito estimo ao ponto de a ele me referir como amigo, escreveu em tempos um poema, “Balanço Provisório”. E como ele, embalado nos seus versos, também eu considero que “Somos uns bichos teimosos/ peixes loucos aves rindo/ plantas poetas palhaços/ e portanto resumindo/ somos mais do que nos querem/ estamos vivos/ somos lindos.”
O caminho que tive a honra de percorrer, neste Jornal de Mafra, em ritmo bimensal é hoje um campo fértil, onde cresceram tantas flores belas, tanto trigo, tanto alimento, que arrisco na necessidade de um pousio. É uma decisão pessoal, de quem gosta de estar lá, também pelo prazer de, amiúde, poder sair e pôr-se do lado de fora, do lado de cá a espreitar para lá. Sem dramatismos, sem causas espúrias, sem tramitações mundanas. Porque depois de um tempo, vem sempre outro tempo. Às vezes (se não conseguirmos fazê-lo sempre) devemos olhar o espelho e contemplar; e ainda ir mais fundo, se formos obstinados o suficiente, devemos procurar no nosso interior aquilo que nos vai melhorar. Não como um estertor, mas como um Renascimento. Como um ciclo que termina e que se renova. Como um caminho fértil.
Em definitivo ato, agradeço… Muito obrigado. Obrigado ao Paulo pelo convite. Obrigado a quem teve a paciência, arrisco sem querer magoar suscetibilidades alheias, a estultícia, de ir lendo o que escrevo. Foi um prazer. Foi um contentamento a primeira letra como é uma alegria este último ponto final.
Alexandre Seixas, fevereiro de 2019