Saúde Mental e Ocupacional | Ana Sancho
O que é a gestão emocional?
Todos sentimos e experienciamos emoções. Fazem parte da nossa vida desde que nos levantamos de manhã até ao momento em que nos deitamos. Por vezes consideramos que são “negativas” ou “positivas”. Ou que são exageradas, fora do nosso controlo. Algumas preferíamos não ter… A tristeza. O medo. A ansiedade. A raiva.
Já pensaram que elas nos podem estar a transmitir um determinado tipo de informação?!
A Tristeza está associada à perda de uma pessoa, de um objecto, de um plano. O Medo e a Ansiedade alertam-nos para o perigo, ameaça ou desafio.
A Raiva/Ira alerta-nos para uma ameaça não só física, como também ao amor-próprio ou à dignidade. Está associada a sentirmos que somos tratados de forma injusta, insultados ou humilhados.
A Culpa está associada a uma situação de arrependimento, em que sentimos que fizemos alguma coisa que prejudica o outro.
Provavelmente concordam que são informações demasiado importantes para não se ter acesso a elas!… Então talvez pudéssemos antes considerar que são emoções desagradáveis de se sentir… Mas há outras, as agradáveis, que aparentemente não dão chatices, como Alegria, que está associada à vivência de um ganho, quando tiramos prazer e satisfação de uma situação.
Também todos já sentimos a sua manifestação corporal: o riso, as mãos suadas, o coração a bater mais rápido, o choro… As expressões faciais dos “emojis” transmitem-nos determinadas emoções. Embora sejam sensações desagradáveis, a intensidade com que as sentimos e a forma como utilizamos a informação que elas nos dão é fundamental, podendo determinar o bem ou o mal estar que temos em diversas situações.
Então, para se gerir as emoções, o segredo está na capacidade em reconhecê-las, em saber identificá-las e compreender em que contextos aparecem na nossa vida, ou seja, qual o seu papel/função. Elas são necessárias, porque nos ajudam a perceber melhor o nosso estado emocional, como também nos permitem comunicar aos outros o que se passa no nosso interior. Porque ninguém é transparente!
A experiência das emoções é uma função vital do nosso organismo para a manutenção da vida da pessoa, tal como a respiração. Orientam-nos para a sobrevivência física e emocional. As agradáveis motivam-nos a explorar o mundo e reequilibram-nos após experiências desagradáveis e desconfortáveis. As desagradáveis protegem-nos do perigo, orientam-nos para acções e objectivos mais específicos. Cumprem assim uma função adaptativa ao que nos envolve. São inevitáveis. Tal como se sinto frio ou calor, assim me agasalho de acordo com essa sensação e me protejo do ambiente externo.
Até aqui até faz sentido. Mas… Por vezes tornam-se problemáticas, disfuncionais, desadaptativas… Então surge a questão: como se pode fazer a gestão e regulação emocional? Um pouco à semelhança do rádio transístor desenvolvido nos anos 50 do século XX, em que se escutava o ruído até se sintonizar a frequência. Se desistíssemos de ouvir o ruído, desligávamos no botão e não ouvíamos música! Assim, o desejável não é anular, não sentir o que se sente como desagradável ou deixar de ter emoções, sentimentos, pensamentos “negativos”, mas desenvolver a capacidade de os regular, de forma a sermos nós que os gerimos e não eles que nos controlam.
Este processo requer algum treino… Tem dois componentes bastante importantes que requerem a nossa atenção. Um é Regulação da experiência Emocional, ou seja, é necessário que nos permitamos aceder, entrar em contacto com o que sentimos. Desta forma pode-se ir dando-lhes um significado, integrando-as na visão de nós próprios, na nossa vivência. Afinal somos nós que as sentimos, elas fazem parte do nosso património. Por exemplo, se eu sinto que alguém me está a criticar, fico incomodada, posso sentir-me zangada e triste!… No entanto, isto não implica necessariamente que eu tenha de reagir de uma forma dura ou inapropriada.
Aqui estamos a focar na Expressão Emocional. É importante gerir o controlo que faço do meu lado. Posso não me sentir preparado(a) para expressar o que sinto e fico “bloqueada” e não dou aos outros a possibilidade de virem ao encontro das minhas necessidades. Quantas vezes os outros dizem: “não disseste nada! Eu não podia adivinhar…” Ou se não controlo de todo a expressão das minhas emoções, dificilmente reparo nos sinais do outro de que não está no momento disponível e corro o risco de sobrecarregá-lo e afastá-lo. Ou seja, é importante prestar atenção ao “quando”.
Por vezes este trabalho de “fitness” emocional não é fácil sozinho e ainda não se aprende na escola!…
Ficam abaixo alguns exemplos mais comuns de estratégias para a regulação emocional:
As mais saudáveis – falar com amigos, fazer exercício físico, escrever um diário, meditação, terapia, descansar o suficiente, auto-cuidado, prestar atenção a pensamentos negativos que ocorrem antes e depois de emoções mais fortes, notar quando sente que necessita de fazer uma pausa e fazê-la.
As menos saudáveis – consumo abusivo de álcool ou de outras substâncias, evitar ou desistir facilmente em situações mais exigentes, auto ou hetero agressividade física e/ou verbal, utilização excessiva de redes sociais, evitando outras responsabilidades/actividades.
Ana Sancho
Psicóloga Clínica
(CHPL-MESMO)