Maio de 1947 | Mortos em Naufrágio na Ericeira

 

Em entrevista a Francisco Esteves, em 2013, José dos Santos Caré Júnior relembrava o naufrágio que ocorreu em maio de 1947.

“Em 1 de Maio de 1947, levantou-se uma nortada, vento do norte, duma violência, duma coisa inaudita. Muitas embarcações tinham ido pescar para sul. Sobre a madrugada comecei a ouvir “sururus”. Levantei-me e fui à ribas. Não se via nada. Era noite escura. A determinada altura ouvimos gritos no mar. Foi a lancha “Olinda”, da Assenta, que veio com a nortada, entrou para aqui, mas não tinha prática de entrada no porto daqui e morreram três homens da Assenta, de noite.  Essa lancha apareceu depois para o lado do Cabo da Roca. Veio o dia e viu-se a lancha, “Nossa Senhora da Bonança”, a navegar à bolina. A uma certa altura desapareceu de vista a vela, desapareceu o barco, partiu-se a verga e morreram os três homens – o arrais António Apolinário, por alcunha o “Cambaio da Marinha”, casado ou junto com a “Emília da Franca”, que era uma senhora que alugava casas, o seu filho, “Sabú”, e o “Serafim da Coelha”. Era um temporal, uma coisa desfeita para Maio. Era Maio. Era praticamente Verão. Veio outra lancha da Assenta, que soube da morte dos outros e ficou fora. Se viessem cá para dentro morriam. Quando veio o dia, o “lanchão” “Januário Lucas” vinha de regresso ao porto, viu as condições do mar, viu os assenteiros e embarcou-os. O barco dos assenteiros foi à rola, foi de “refe”, como dizem os pescadores, uma corruptela do inglês “raft”. Salvou-os. Foram para Cascais. Quando chegaram à praia, o motor deu o último suspiro de petróleo.”

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