Mafra | Lar do Pousal com 100 utentes tem 40 infetados com covid

O Lar do Pousal é uma estrutura assistencial localizada há 16 anos na freguesia da Malveira e S. Miguel de Alcainça (Casal Moinho – Pousal), que pertence e é gerida pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML).

No Lar do Pousal estão internados 100 cidadãos, entre idosos e pessoas com deficiência profunda. Destes 100 utentes, pelo menos 40 estão infetados com covid-19.

Estes números foram hoje confirmados junto de fonte próxima da administração da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, embora os vários contactos formais entre o Jornal de Mafra e a área de comunicação da SCML tenham sido infrutíferos.

Depois de se ter verificado um aumento de 25 (9 de outubro) para 40 casos positivos, ainda não há data para repetir os testes aos funcionários, que segundo as nossas fontes, estarão há 10 dias em contacto com os infetados sem fazer o teste

Para além da informação referente ao elevado número de infetados no Lar do Pousal, fontes próximas do lar, contactadas pelo Jornal de Mafra confirmam também a ocorrência de uma morte por covid.

Depois de se ter verificado um aumento de 25 (9 de outubro) para 40 casos positivos, ainda não há data para repetir os testes aos funcionários, que segundo as nossas fontes, estarão há 10 dias em contacto com os infetados sem fazer o teste.

Também o número de prestadores de cuidados ao serviço do lar, parece ser insuficiente, as nossas fontes referem que, por exemplo, no fim de semana de 10 e 11 de outubro havia 6 empregados para atenderem os 100 residentes, dos quais, como já vimos, 40 estavam positivos.

Por outro lado, a preocupação é grande entre os funcionários do lar, uma vez que não estarão a ser cumpridas as correspondentes regras de proteção, pois os funcionários, num ambiente com tal carga viral, só utilizarão luvas e máscara para se proteger, sobretudo quando têm de manusear os doentes, nomeadamente quando se trata de atender aos cuidados de higiene.

No passado fim de semana eram dois enfermeiros e 4 auxiliares para os 100 residentes, sendo que durante o fim de semana a maioria dos residentes serão mantidos juntos na mesma sala

As equipas multidisciplinares anunciadas para lidarem com estes casos, ainda não entraram em ação no Lar do Pousal, a despeito dos 40% de utentes infetados. O corpo clínico, a fazer fé na informação que nos chega, parece manifestamente insuficiente para um tal volume de utentes, muito mais, tendo em consideração as suas necessidades específicas (idosos, dependentes e sofrendo de deficiência profunda). Haverá 1 psiquiatra e 1 médico de clínica geral a prestar cuidados clínicos aos 100 utentes, embora não a tempo inteiro. Haverá ainda 10 a 15 enfermeiros que prestam serviço em regime de rotatividade, sendo que durante a noite estarão de serviço 2 enfermeiros.

Por exemplo, segundo as nossas fontes, no passado fim de semana eram dois enfermeiros e 4 auxiliares para os 100 residentes, sendo que durante o fim de semana, a maioria dos residentes serão mantidos juntos na mesma sala.

As condições remuneratórias de alguns trabalhadores do lar são fonte de algum mal estar. Dizem-nos, por exemplo, que uma ajudante familiar ganha pouco mais de 500 euros para limpar casas, tratar dos utentes com banhos, mudas de fraldas, corte de cabelos, unhas e barbas. Uma das nossas fontes refere-se desta forma às condições remuneratórias “no Pousal todos os técnicos têm um vergonhoso subsídio de risco que não chega a 100 euros“.

Alguns enfermeiros, alguns terapeutas e monitores e a maior parte das auxiliares são do concelho de Mafra, vindo os restantes profissionais de outros concelhos.

Quisemos conhecer a posição da Câmara Municipal de Mafra (CMM) relativamente a este caso. Sabemos que a tutela direta do Lar do Pousal cabe à SCML, mas a câmara de Mafra, através da proteção civil municipal tem coordenado e assumido pública e politicamente a coordenação da pandemia a nível local, sendo que o próprio presidente Hélder Silva já se pronunciou relativamente a este caso, quer em reunião de executivo, quer em declarações (entrevista?) a uma estação de rádio que está instalada num edifício público, propriedade da própria câmara, no piso sobranceiro às instalações onde funciona a Assembleia Municipal de Mafra.

Inquirida a Câmara de Mafra, nestes termos,

Estamos conscientes de que a gestão daquela instituição não cabe à CMM, mas o referido lar integra o Conselho Local de Ação Social (CLAS) e operando no concelho, estará sob a alçada da autoridade local de proteção civil, presidida pelo Sr. Presidente da Câmara Municipal de Mafra que, de resto, já se pronunciou (embora de um modo muito ligeiro e parcelar) a respeito deste surto, em declarações regulares que mantém num órgão de comunicação social instalado em espaço que pertence ao município a que preside.

esta instituição respondeu no próprio dia, nos seguintes termos,

A instituição em questão, quanto ao seu funcionamento, é tutelada pelo Instituto da Segurança Social, pelo que se desconhecem as alegadas falhas relatadas.

Em devido tempo, a Câmara Municipal disponibilizou apoio à Direção da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, tendo esta agradecido e informado que, se necessário, efetuariam pedido de apoio, o que não aconteceu até à data.

Face ao teor das questões, o presente pedido de esclarecimentos vai ser, nesta data, remetido para a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, para a Segurança Social e para a Autoridade de Saúde.

Sem resposta às questões colocadas, alegadamente por falta de competência tutelar, uma entidade pública local (CMM) decide, por sua exclusiva iniciativa e sem consulta, remeter correspondência que lhe é enviada por um órgão de comunicação social, para as entidades que entende. Não deixa de ser preocupante pensar para onde é que esta entidade pública enviará a correspondência que só a ela endereçamos.

Hélder Sousa Silva, embora não tenha respondido às questões que lhe colocámos, por alegada falta de competência tutelar, na última quarta feira deu conta à Santa Casa, do teor do email enviado à câmara pelo Jornal de Mafra

Descartados os esclarecimentos por parte da Câmara Municipal de Mafra, restava conhecer a posição da principal entidade envolvida neste caso, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, proprietária e gestora do Lar do Pousal.

Depois de termos enviado 2 emails à SCML, sem resposta, dando a conhecer a informação que se verteu neste artigo, e como é deontologicamente exigível, proporcionando à instituição a possibilidade de se pronunciar expressando a sua posição, conseguimos durante a tarde de hoje contactar um dos administradores da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que embora remetendo-nos para o responsável pelas relações públicas da SCML, nos assegurou que o nosso pedido de esclarecimentos teria resposta hoje mesmo, embora, na verdade, essa resposta não nos tenha chegado.

Ficámos a saber por esse alto responsável da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que Hélder Sousa Silva, embora não tenha respondido às questões que lhe colocámos, por alegada falta de competência tutelar, na última quarta feira deu conta à Santa Casa, do teor do email enviado à câmara pelo Jornal de Mafra.

Contada toda a história das vicissitudes de que uma notícia é feita, mais notícias estão já no horizonte, sobre a forma como se faz o assistencialismo em Portugal e no concelho, sendo este um tema de inegável interesse informativo.

[Atualizado em 23 de outubro às 23:33]

 

 

 

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