Guardiães do Convento querem entrar no capital da Tapada de Mafra pela porta dos fundos

Todos nós já ouvimos dizer que as organizações espelham as pessoas que as dirigem e aquelas que com elas colaboram. Aprendemos ontem que não é bem assim, dizendo de outro modo, por vezes, as organizações ganham vida própria e recusam-se a tomar as qualidades daqueles que as constituem.

Estivemos ontem em reportagem na reunião da Assembleia Geral da Associação dos Amigos do Convento de Mafra – Guardiães do Convento. O Presidente da Assembleia Geral é Renato Ivo da Silva, um insigne e muito bem sucedido advogado de Mafra, o Presidente do Conselho de Fundadores é Rogério Bueno de Matos, também advogado, e um bem sucedido profissional na área da assessoria de imprensa e assessoria de comunicação, o Presidente da Direcção é José Medeiros, seguramente a personalidade que melhor conhece o Palácio de Mafra e a história de Mafra, com muitos livros editados e um saber que abarca muitos saberes, presente também Joaquim Sardinha, vice-presidente da Câmara de Mafra e o homem que, dizem as “más línguas”, domina a maquina do PSD Mafra.

Estudo e apreciação de eventual fusão com a Liga dos Amigos de Mafra

A bem da verdade, correu tudo mal nesta reunião. Sabemos que a associação só conta com a participação efectiva de pouco mais de uma dezena de pessoas, algo que, à partida, limita as actividades de qualquer organização. No entanto, não estar disponível o livro de actas, nem ter sido apresentado o Relatório e Contas de 2017 (1º ponto da ordem de trabalhos), é manifestamente incompreensível – neste contexto específico, a ausência do Presidente do Conselho Fiscal foi outra das inconformidades.

O 3º ponto da ordem de trabalhos relacionava-se com a perspectiva de mudança de sede da associação. Após trocaram impressões, os 6 associados presentes decidiram adiar esta decisão, adiamento que se ficou a dever à possibilidade de fusão entre os Guardiães do Convento e a Liga dos Amigos de Mafra.

Chegamos assim ao 2º ponto da ordem de trabalhos desta reunião ordinária (que segundo os estatutos, se deveria ter realizado no 1º trimestre de 2018):

2 – Estudo e apreciação de eventual fusão com a Liga dos Amigos de Mafra.

Chegamos assim à parte politica desta reunião. A fusão entre duas organização que, enquanto tais, nem separadas têm dado cabalmente conta do recado. Senão, vejamos. A Liga dos Amigos de Mafra, associação formada em 1979, já não terá actividade há cerca de 10 anos. A Assembleia Geral da Liga dos Amigos de Mafra, que se deveria ter pronunciado sobre a fusão, não foi sequer convocada. Pudera, uma entidade sem actividade há 10 anos, supomos que também sem prestar contas há 10 anos, sem reunir estatutariamente a sua Assembleia Geral há já 10 anos, ou seja, um cadáver organizativo, dificilmente reuniria agora forças para se organizar. De resto, após 10 anos de inactividade, de incumprimento de regras estatutárias, se a Liga dos Amigos de Mafra não está já extinta de jure, isso será mais um milagre deste ordenamento jurídico que temos.

Este fogo de fusão entre as duas organizações tem uma causa próxima que assume, neste momento concreto, indisfarçáveis conotações políticas. A Liga dos Amigos de Mafra (como vimos, um cadáver, enquanto instituição) detém uma – politicamente apetitosa – participação de 3% (2 400 €) no capital social da Tapada Nacional de Mafra.

Quando a guerra entre a Câmara Municipal de Mafra (CMM) e a direcção da Tapada Nacional de Mafra e o Ministro da Agricultura está ao rubro – A CMM tem o objectivo indisfarçado de assumir o controlo da gestão da Tapada – o facto de a quota da Liga dos Amigos de Mafra estar “disponível” tornou-se numa tentação política

A Associação Amigos do Convento de Mafra (Guardiães do Convento) foi constituída em Abril de 2013, tendo por principal leitmotiv, contribuir para a reabilitação dos carrilhões do Palácio Nacional de Mafra. Reuniu então gente de várias forças politicas e de várias actividades, gente bem intencionada, que rapidamente se apercebeu que a resolução do problema exigia outros meios e outras vontades. Daqui, à desmobilização da maior parte dos fundadores, foram dois dias. Actualmente, a Associação Amigos do Convento de Mafra (Guardiães do Convento) é constituída por um reduzidíssimo grupo de amigos, amigos entre eles, de longa data, e amigos do palácio. Na realidade, se a actividade da Liga dos Amigos de Mafra é nenhuma, faleceram enquanto organização há mais de 10 anos, a actividade da Associação Amigos do Convento de Mafra (Guardiães do Convento) tem sido também muito reduzida e muito  esparsa, sobretudo, se tivermos em consideração que a associação foi fundada há 6 anos. A angariação de fundos é difícil, a quotização é residual, a mobilização dos poucos associados que pagam quotas é penosa. Nestas circunstâncias, fica a ideia de que o trabalho efectivo, substancial, dos Guardiães do Convento é assegurado por uma só pessoa, talvez duas – José Medeiros e Sérgio Gorjão. José Medeiros através dos fundos recolhidos por via das visitas ao palácio, que promove em nome dos Guardiães do Convento, e através do meritório trabalho de divulgação que tem feito, nomeadamente em colaboração com Sérgio Gorjão (dado como possível próximo Director do Palácio Nacional de Mafra), na edição de livros, cujos proventos revertem para os Amigos do Convento de Mafra.

A fusão entre a Associação Amigos do Convento de Mafra (Guardiães do Convento) e a, há muito falecida, Liga dos Amigos de Mafra, parece ser um frete político

Nestas circunstâncias, a fusão entre a Associação Amigos do Convento de Mafra (Guardiães do Convento) e a, há muito falecida, Liga dos Amigos de Mafra, parece ser um casamento de conveniência, parece ser um frete político, quase um acto contra-natura, se tivermos em consideração os objectivos eminentemente culturais da organização, a sua muito reduzida actividade presente, o número muito limitado de membros e a sua muito anémica situação financeira.

Apetece perguntar, quem terá tido a ideia desta fusão? Que reais objectivos persegue? Foi o que fizemos ontem, no final da Assembleia Geral, não tendo, no entanto, obtido uma resposta cabal a esta questão.

 

 

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