EDITORIAL | Em tempos de pandemia, o que é feito das grandes empresas do concelho de Mafra?

Em tempos de pandemia, o que é feito das grandes empresas do concelho de Mafra?

 

Nestes tempos novos para todos nós, em que a incerteza e o medo se instalaram, tempos de solidões, de desemprego e de doença, nestes tempos em que a solidariedade é necessária, em que a consciência social das empresas e dos empresários encontra terreno fértil para se afirmar, o que é feito das grandes empresas sediadas no concelho de Mafra?

Até a banca, empurrada pelo estado, é certo, baixou ou deixou de cobrar comissões, diferiu o pagamento de dívidas e aligeirou a incerteza de muitos de nós relativamente ao futuro próximo. Muitas empresas e alguns particulares investiram tempo e fundos na produção e distribuição gratuita de material de proteção.

O que é feito das grandes empresas de Mafra?

Da eletricidade às comunicações, um grupo significativo de empresas de boa dimensão, que antes das perturbações económicas e financeiras causadas pela pandemia acumularam lucros e consolidaram as suas tesourarias, decidiram agora apoiar direta ou indiretamente os consumidores, no fundo, os seus clientes, um apoio inteligente, que irá no futuro consolidar as suas posições de mercado.

As câmaras municipais têm feito o que lhes compete, de uma forma escorreita. Em Mafra criaram-se espaços de retaguarda, que felizmente não terão ainda sido utilizados, pugnou-se para que fizessem testes no concelho, adaptou-se o centro de saúde, fez-se desinfeção de espaços públicos e adotaram-se no concelho os regulamentos necessários para que se cumpram as normas do estado de emergência. A Câmara de Mafra apoiou também os seus munícipes prescindindo de receitas próprias, aliviando assim as contas mensais de muitos residentes  Finalmente, utilizou fundos próprios para adquirir 500 000 máscaras que distribuiu à população.

O que é feito das grandes empresas de Mafra?

Uma nota distribuída hoje mesmo pela Câmara de Sintra dá conta de que a “Tabaqueira une esforços com autarquia e distribui refeições em Sintra”. Em Torres Vedras, a câmara distribuiu máscaras produzidas por voluntários e na zona oeste, o “Politécnico de Leiria e empresas da região oferecem 1200 viseiras às unidades de saúde do Oeste”.

O que é feito das grandes empresas de Mafra? Onde anda a Barraqueiro do senhor comendador e medalhado municipal, Humberto Pedrosa? Que é feito da Plasoeste? E da Frutoeste do senhor Domingos Joaquim Filipe dos Santos? E da AECI do senhor Ricardo Batalha? E da LASSO? E da Sicasal? E da Cooperativa da Azueira? E da Mezawine? E da Moticristo? E da Coprel? E da Lusovolt? E da Batatas Fritas Titi? E das Rações Galrão? E da Vipfarma? E dos grandes hipermercados que se distribuem tão generosa e estrategicamente pelo concelho? E das empresas a que a Câmara de Mafra isentou de taxas para que prosperassem? E dos muito bem sucedidos empresários que têm casas de férias nas zonas costeiras do concelho? E da ACISM, que esforços desenvolveu entre os seus associados? E das outras muitas empresas que aqui não cabem, mas que fizeram negócios financeiramente muito bem sucedidos no concelho? Que esforços desenvolveram estas entidades empresariais ou estas pessoas, para apoiar a comunidade neste momento de emergência? Onde anda esta gente?

Onde anda esta gente, estas entidades empresariais, que acumularam liquidez ao longo dos anos, que beneficiaram de isenções de taxas e de impostos, que beneficiaram de negócios estratégicos no concelho, algumas delas, negócios milionários desenvolvidos ao longo de décadas. Porque se mantém agora silenciosas, recatadas e à margem do que se está  passar ao seu redor no concelho que as acolheu?

O que é feito das grandes empresas de Mafra?

E já agora, que é feito da miríade de associações do concelho de Mafra, que por aqui têm beneficiado gratuita e generosamente de espaços e de apoios públicos para desenvolverem as suas atividades? Quantas delas saíram da letargia nestes tempos difíceis? Quantas delas mostraram que valem os investimentos que todos nós fazemos nelas, em impostos?

 

Paulo Quintela
Diretor do Jornal de Mafra

 

 

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