Crónica de Alexandre Honrado – Toda a esperança é necessária

Um vírus, como a mesquinhez, aloja-se, e este, como bom mesquinho, tira-nos o ar, mata-nos, redimensiona-nos. Porque este é um vírus que já nasceu derrotado, não duvidem, procura fazer o seu caminho muito depressa, levar consigo todos os que puder. Nasceu derrotado porque se meteu com a espécie animal mais mortífera, aquela que mata com a consciência de o fazer – portanto não será um vírus irracional e desvairado que escapará ao dom de letalidade do ser humano. Posso dizer que há um lado muito mesquinho em mim que quase…

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Crónica de Alexandre Honrado – É um resfriadinho (comparado com a loucura de alguns)

É um resfriadinho (comparado com a loucura de alguns)   Doem-me os sentidos. Repete-se em eco aos gritos a palavra Whuan, mas não faz muito sentido. Um vírus não se fabrica, nem se exporta assim. E todas as teorias da conspiração são possíveis. O terror instala-se. Mas não se instala porque morrermos, ou porque vemos morrer, mas porque vemos que alguns querem safar-se, salvar a sua pele, deixando os mais desprotegidos ou impreparados, os mais pobres e os menos preparados, para a pilha que arda, para o forno crematório, não…

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Crónica de Alexandre Honrado – O fim do mundo ou apenas um até já?

Estamos em combate pela alteridade, essa ideia que consagra como a existência do “eu-individual” só é permitida mediante um contato com o outro. Coisas que julgávamos perdidas, como a leitura, vêm provar a frase que diz que “ler conduz-nos à alteridade, seja à nossa própria ou à dos nossos amigos, presentes ou futuros”. E lemos, por medo. Lemos tudo. Frases feitas e batidas, artigos de opinião, o e-mail da tia e a literatura farmacêutica da avó. Agora é o tempo de ler. É tempo da alteridade. De percebermos que precisamos…

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Alexandre Honrado | Aprender a caminhar depois de Bérgamo

Em Junho de 2007, o escritor José Vegar ofereceu-me um livro seu, intitulado Cerco a um Duro, ficção de qualidade em dose tripla, digo tripla por conter três textos apetecíveis. Tenho lido apenas ensaios nos últimos anos, com raras exceções, o que não me exercita como possa parecer, nem me acrescenta em sabedoria, pois exerço o meu direito de leitor em liberdade de arquitetar as mais complexas ideias, criticando pontos de vista, como se andasse à procura do vaso sagrado, do graal das minhas convicções. Cerco a um Duro não…

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Crónica de Alexandre Honrado – COVID-19? Deixei de ter tempo livre

Deixei de ter tempo livre desde que estou confinado a um espaço – com computador e ainda alguma comida. É um exílio dourado, na província, a muitos quilómetros da capital, com o céu por companhia e a natureza pouco espezinhada a tocar-me de leve, que isto agora é tudo um toque leve, nada de apertos de mão ou beijos prolongados. Não vejo muita gente, não só porque os outros se isolaram mas em especial porque aqui o ser humano não lhe apetece estar, dá muito trabalho estar num sítio destes.…

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Crónica de Alexandre Honrado | Coronavírus – A repetição de um pesadelo

Pandemia. Loucura. Morte. É como se todos os sinos do mundo tocassem a rebate, os alarmes soassem, as sirenes não parassem de clamar. Isto no mundo, nos cinco continentes, mas sobretudo dentro das nossas cabeças, onde os alarmes são sempre mais fortes. No supermercado olham-me com muito desdém; eu sou aquele que transporta os elementos mais bizarros: um vaso com uma pequena oliveira, tão diferente das oliveiras assassinas que vi há dias, a crescer à força de estímulos químicos e a matarem toda a fauna em seu redor, ali mesmo,…

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Crónica de Alexandre Honrado – Não adianta comunicar

NÃO ADIANTA COMUNICAR A análise do que se passa à nossa volta é muito menos baseada no que, na realidade, se passa à nossa volta e muito mais na forma como se comunica o que, de modo mais ou menos amplo, se terá passado à nossa volta. Vivemos assim nos complexos criados pela comunicação, comunicação e complexos que podem vir da imprensa que tenta criar uma opinião pública submetida à opinião publicada, mas também gerados pela comunicação empresarial, com a propaganda, a publicidade, a promoção no topo, e finalmente pela…

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Crónica de Alexandre Honrado – O que fazer na minha ilha

Leituras muito variadas – não necessariamente em livros, ou em artigos dos muitos jornalismos ou das emanações académicas -, leituras feitas olhos nos olhos, a maior parte das quais assentes na observação do que somos, do que estamos a deixar de ser e resultantes da mundividência (isto é, do modo de ver o mundo) e sobretudo da mundivivência (em neologismo, o modo de viver o mundo, palavra que nenhum dicionário aceita), levam-me a interrogar as ideias que construí da condição humana, do humanismo, da produção identitária e da evidente dispersão…

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Crónica de Alexandre Honrado – Esqueçam a eutanásia, ainda temos o suicídio

Um dos meus interesses de estudo – ando a tentar reduzi-los a dois, mas não percebo bem como se faz – obriga-me a perder longas horas com o tema cultural (e político) do esquecimento, numa época, a nossa, que tem no topo da lista das doenças o Alzheimer, e, nas notícias mais recentes, uma constatação fácil de assimilar: “[Em Portugal] apesar do decréscimo da população, o número de pessoas com demência irá mais do que duplicar: de 193.516 em 2018 (1,88% da população) para 346.905 em 2050 (3,82% da população)”.…

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Crónica de Alexandre Honrado – Mas as crianças, senhor, porque lhes dais tantos gadgets?

Oferecemos horizontes infinitos aos nossos filhos – sem lhes mostrar a qualidade do terreno onde devem por os pés e a beleza intensa dos avós que deram a vida e a glória para que hoje pudéssemos olhar para os telemóveis em liberdade. Olhar para quem me rodeia faz parte de uma militância cultural. Leva-se ideias para recolher outras, ausculta-se os pulmões da Nação e aprendemos o tamanho do que somos – quase sempre menor do que aquele que nos atribuímos. O querido filósofo português José Gil  antecipou-se às razões maiores…

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