Misericórdia de Lisboa responde ao artigo do JM relativo ao surto de covid no Lar do Pousal

No próprio dia da publicação do artigo que deu origem a esta resposta da assessoria de imprensa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), o Jornal de Mafra esteve em contacto com um administrador da Santa Casa, a quem mostrámos surpresa pelo facto de a instituição, reiteradamente, ter ignorado os três pedidos de esclarecimentos que o JM lhe endereçou a propósito dos casos covid ocorridos no Lar do Pousal.

Esse administrador da SCML, duma forma profissional, forneceu-nos, então, o endereço de email direto do assessor de imprensa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, para quem reencaminhámos imediatamente, várias horas antes da publicação do artigo, o último email contendo o referido pedido de esclarecimentos, que anteriormente tínhamos enviado para o endereço geral e da comunicação, daquela IPSS.

Sem termos obtido qualquer resposta, publicámos o artigo na sexta-feira, 23 de outubro, já ao final do dia.

Durante a manhã de ontem, sábado, 24 de outubro, recebemos vários telefonemas e várias mensagens – cujo tom e teor (pouco católicos) preferimos nem sequer comentar aqui – do assessor de imprensa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Por telefone e por mensagem, aquele funcionário da SCML  pressionou-nos a alterar o conteúdo do artigo, referindo reiteradamente, não ter recebido qualquer pedido de esclarecimentos por parte do jornal. Durante um dos contactos telefónicos, demonstrando boa fé, pusemos a possibilidade de o nosso email poder estar, como por vezes ocorre, na caixa de spam do servidor de correio da Santa Casa, possibilidade que foi prontamente desmentida pelo funcionário daquela IPSS ligada à igreja católica.

A pedido do assessor da SCML reenviámos os emails para o mesmo endereço que nos tinha sido fornecido no dia anterior pelo administrador da Santa Casa. Passados alguns minutos, recebemos do assessor de imprensa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, a única comunicação coerente daquela manhã: “Caro Senhor Paulo Quintela, encontrei os seus emails (o de ontem e hoje no “lixo eletrónico”. Obrigado. Cpts.”

No final da manhã de ontem, o senhor assessor de imprensa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa enviou-nos um texto que pretende esclarecer, do ponto de vista da Misericórdia de Lisboa, algumas questões levantadas pelo nosso artigo. Embora o longo texto que nos foi enviado, não esteja conforme a lei que regula o direito de resposta ou o direito de retificação, sendo que esses direitos nem sequer foram invocados pelo signatário daquele texto, o Jornal de Mafra crê que em termos deontológicos e independentemente do cumprimento da lei, lhe compete dar voz ao contraditório, assim, publicamos de seguida uma desenvolvida súmula do longo texto que a assessoria de comunicação da SCML nos enviou, embora fora de tempo.

Afirma a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, a propósito dos testes aos funcionários, que “[no] dia 6 de Outubro, iniciou-se a testagem a todos os colaboradores, incluindo os das empresas de outsorcing (Operandus e Itau). Neste momento todos os colaboradores estão sem sintomas e caso apresentem são imediatamente testados.”

A propósito do cumprimento das regras de proteção determinadas pela DGS pode ler-se no esclarecimento da SCML, “no início da pandemia, em Março, a OSP elaborou um Plano de Contingência assente nas Normas e Indicações da DGS para a prevenção da infecção. Devido às características dos utentes da OSP e às suas fragilidades de saúde, foram implementadas medidas preventivas mais robustas e mais rígidas“. […] “foram revistos todos os circuitos de entrada e saída da OSP; utilização de máscara e viseira; mudança de calçado à entrada; proibidas as visitas (quando foi levantada a medida só eram permitidas três visitas por semana para o total dos utentes, na qual era obrigatório o uso de máscara e a distância de, pelo menos, dois metros); realizadas várias reciclagens de formação aos colaboradores acerca das medidas básicas de controlo de infecção; todos os colaboradores com ausência de 11 ou mais dias úteis são testados antes de voltarem ao trabalho […] as saídas dos utentes estavam restritas a consultas e exames, consideradas pelo médico, inadiáveis. Em caso de ida ao Serviço de Urgência ou Internamento Hospitalar só seriam novamente admitidos na OSP com teste negativo para a Covid-19. E mesmo com teste negativo deveriam cumprir 14 dias de isolamento, com os EPI´s definidos pela DGS para o efeito […] Foram ainda construídos dois Covidários […] a organização dos cuidados por níveis de risco exigiu a reestruturação física da OSP,  […] a prestação de cuidados em cada zona de risco é efectuada por equipas de AGAC´s e enfermeiros dedicadas, no sentido de prevenir ou diminuir a probabilidade de infecção cruzada”. Referindo-se depois que “cada zona de risco tem definida o tipo de EPI, de acordo com Norma 007/2020 de 28/03/2020 da DGS“.

No que respeita ao número de infetados, pode ler-se no esclarecimento que nos foi ontem enviado: “Neste momento, 29 utentes da OSP têm infecção confirmada por SARS-CoV-2 (COVID-19), a maior parte dos utentes estão assintomáticos. Apenas três utentes apresentam sintomas ligeiros da doença que são notificados diariamente à Autoridade de Saúde Local. No que se refere a colaboradores, inicialmente houve sete infectados, dos quais dois já tiveram cura e alta […]”.

Relativamente à adequação do número de colaboradores às necessites do serviço, o texto que recebemos da SCML, refere que “o rácio de colaboradores (AGAC’s e Enfermeiros) ao serviço é constante durante toda a semana, 24 horas por dia […]”

Já no que se refere ao grande desgaste sentido por quem trabalha no Lar do Pousal, afirma a assessoria de comunicação da Santa Casa, que “os profissionais na Obra Social do Pousal pautam-se pela excelência na resposta diária que dão aos utentes, sendo que se está a viver um período particularmente difícil por causa das consequências da pandemia Covid-19  e que está a exigir a todos os profissionais das áreas social e da saúde, em todo o país, a um esforço adicional”.

Já relativamente à afirmação das fontes com que contactámos, segundo as quais, durante os fins de semana, os doentes são mantidos todos juntos na mesma sala, apoiados por um número muito reduzido de funcionários do lar o texto recebido da SCML refere que “a Obra Social do Pousal foi reestruturada por níveis de risco no sentido da contenção do surto, conforme exposto anteriormente. Estas medidas são mantidas durante o fim-de-semana”.

A partir da substância da notícia, responsáveis do Lar do Pousal foram ouvidos pela autoridade de saúde de Mafra e houve contactos ao mais alto nível entre a Câmara Municipal de Mafra e a administração da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

Para os mais desatentos, no artigo referente ao surto de covid-19 em curso no Lar do Pousal, o Jornal de Mafra refletiu informação colhida junto de fontes próximas do próprio lar, nada nos movendo contra ou a favor das referidas fontes, nada nos movendo contra ou a favor da gestão do lar ou da Misericórdia de Lisboa. Para além disso, como nos competia, tentámos, reiteradamente, recolher a posição da Santa Casa, recolha que só não ocorreu a tempo, por razões que não são imputáveis ao jornal.

Compreendemos, no entanto, ser muito mais simples e muito mais cómodo utilizar as redes sociais para atirar pedras ao mensageiro, fazendo-o a partir de posições ideológicas ou corporativas, do que tentar entender de que resistências se faz, por vezes, o acesso às fontes, mesmo quando as fontes, embora não assumindo a sua responsabilidade, surgem como sendo a parte que devia estar mais interessada em veicular as suas posições.

Paulo Quintela/Jornal de Mafra
Diretor

Atualizado em 25 de outubro 16:21

 

 

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