Venho por este meio informar o jornal do que aconteceu este ano nas colocações dos alunos na escola secundária José Saramago, situação que merece cobertura e divulgação.
Pelas 11h de 6f fui contactada para me informarem que a minha filha não teve vaga no curso de artes visuais. A alternativa que me deram era mudar de curso ou então deixar que o Ministério escolhesse, aleatoriamente, pela minha filha.
Fui pressionada para decidir imediatamente. O futuro da minha filha em jogo! Nem tive oportunidade para conversar com o pai, nem com ela! Porque me informaram que iriam continuar a fazer chamadas e que depois já podia não haver qualquer vaga em curso nenhum. Perguntei quais são os critérios do Ministério para colocação caso não aceitasse a mudança de curso e não me conseguiram explicar quais eram nem tive tempo de me informar. Naturalmente estaria na disposição de ir para outro concelho se fosse necessário, mas a professora nem sabia se o Ministério a colocaria em artes ou noutro curso qualquer. Os professores têm de saber informar os pais! Principalmente quando lhes dão 3h para decidir o futuro dos filhos.
Decidi, sozinha, que fosse colocada em ciências. O futuro da minha filha decidido em cima do joelho, sem ela ser tida em conta. Informaram-me que há vários pais revoltados e questiono por que é que a escola não está do lado dos pais e não apoia a abertura de mais uma turma de artes, quando, até soube que a minha filha foi a número 40 e qualquer coisa. Ou seja, muitos alunos ficaram de fora, pais revoltados e a escola apresentou a solução que lhe convém, para distribuir alunos como se fossem objectos, sem sentimentos, sem valor. Mas com vontade, há alunos suficientes para abrir mais uma turma. Um concelho inteiro, em franco crescimento, com apenas com 1 turma de Artes!
É completamente inadmissível a forma como eu e a minha filha fomos tratadas neste processo. A escola tem de se adaptar à procura e não os alunos ao que mais convém para a escola. Estamos a falar do futuro destes jovens, das suas asas cortadas antes mesmo de saberem que podem voar. A escolaridade é obrigatória e nesse sentido cabe ao Ministério garantir a oferta adequada aos alunos que têm. E à escola que, naturalmente, não tem poder para abrir as turmas que entender, mas tem a obrigação de reportar ao Ministério as necessidades para então se poder abrir outra turma e não andar a tapar buracos ao distribuir alunos por turmas onde há vagas, noutras áreas. A escola solucionou o seu problema ao criar um problema enorme, de vida, nos alunos e nas famílias.
Em Leiria aconteceu o mesmo e abriram mais turmas. Os pais e a escola mobilizaram-se e conseguiram mais turmas. Saiu até na comunicação social: https://www.jn.pt/local/noticias/leiria/leiria/amp/procura-por-artes-em-leiria-deixa-52-alunos-de-fora-15058906.html. Isto abriu precedente. Se 2 escolas lotadas abriram mais 2 turmas, é necessário abrir mais 1 turma no concelho de Mafra, seja na Saramago ou noutra qualquer.
A minha filha passou o fim de semana a chorar. Uma adolescente com vocação verdadeira para artes e multimédia que até tem um canal de YouTube com mais de 10000 seguidores com vídeos de animação que produz e edita, vai ter de fazer um curso que nada lhe diz. Insucesso escolar, desistência é o que estão a promover com isto, para não falar na depressão nos jovens.
Estou aqui a expor esta situação, porque me parece bastante grave não haver soluções para estes alunos.
Ana Margarida Parreira