Viagem pelo património classificado do município de Mafra – Igreja Paroquial de Cheleiros
A Igreja Paroquial de Cheleiros, Igreja de Nossa Senhora do Reclamador ou Igreja de Nossa Senhora da Assunção é uma “Igreja paroquial rural de primitiva construção gótica” de autor desconhecido e que “apresenta vestígios de diferentes períodos construtivos”, estando classificada como Imóvel de Interesse Público desde 06 de junho 1934.
Destacam-se da sua construção “o portal gótico, em arco quebrado, em alfiz, sobre colunas de capitéis decorados, e com pia de água benta esculpida encrustada. Arco triunfal em arco de asa de cesto preenchido com rosetas; a abside com abóbada de dois tramos, polinervada, estrelada, sobre mísulas vegetalistas e com bocetes vegetalistas e heráldicos, sobressaindo, nos arranques dos feixes de nervuras centrais da abóbada, duas cabeças coroadas esculpidas em baixo-relevo; os azulejos de padrão, polícromos, da nave, que surgem aplicados em dois andares com barra intermédia, acentuando a sua horizontalidade”.
De Planta poligonal apresenta “fachadas rebocadas e pintadas de branco, rasgadas por pequenas janelas retilíneas e estreitas frestas de iluminação na cabeceira”.
A fachada principal orientada a poente e “(…) encimada por cruz de pedra e delimitada, no seu lado direito por cunhal perpianho, apresenta-se em dois registos, sendo o primeiro centralizado pelo pórtico principal, em alfiz, apresentando arco quebrado sobre colunas de capitéis decorados, e com pia de água benta esculpida com gomos torsos sobre anel encordoado apoiada em mísula de folhagens sobre alcachofra acoplada; encima-o janela retangular com moldura de cantaria simples. Torre sineira adossada à esquerda, delimitada por cunhais de cantaria, com dois registos, o primeiro cego e o superior com quatro sineiras em arco pleno”.
Já no seu interior, é constituída por “nave única, paredes percorridas por silhar de azulejos de padrão, polícromos, aplicados em dois andares com barra intermédia, acentuando a sua horizontalidade; coro-alto com balaustrada de madeira sobre colunas pétreas; batistério no subcoro, púlpito retangular com base de pedra e guarda de madeira com colunas torsas, no lado do Evangelho *1 encontra-se um nicho com imagem da Virgem em pedra policroma”.
*1 Invocação a Nossa Senhora de Rocamador (ou Reclamador) .
Época Construção: Séc. 12 / 16 / 17 / 18
Arquitecto / Construtor / Autor: Desconhecido
Materiais: Alvenaria rebocada e cantaria calcária; revestimento interior azulejar. Pavimento de madeira e cobertura de telha.
Protecção:
Categoria: Imóvel de Interesse Público desde 06 junho 1934
ZEP desde 13 junho 1947
Enquadramento: Urbano, isolada. Localiza-se a meia encosta, sobranceira ao rio Lizandro, que aqui toma a designação de ribeira de Cheleiros. Inserida na malha urbana, detém uma implantação destacada sobre a encosta graças ao seu adro espaçoso, para onde está orientada a sua entrada, a nascente. A poente tem acesso a partir da Rua da Sociedade, confronta, a norte, com a antiga Escola Primária de Cheleiros, e a sul com a Estrada Nacional n.º 9.
Propriedade: Pública – estatal
Intervenções realizadas:
DGEMN:1944 – 1ª e 2ª fase de obras de restauro; 1945 – 3º fase de obras de restauro: demolição e reconstrução da parede testeira da capela-mor, da armação e cobertura do telhado, demolição das paredes de alvenaria argamassada, apeamento de 3 altares, pavimentação de madeira e lajedo; 1946 – Conclusão e assentamento de azulejos pintados à mão; construção e assentamento da grade com balaústres do coro, capela-mor e baptistério; 1952 – Limpeza e reparação dos telhados; caiações interiores e exteriores; reparação e beneficiação do arcaz, muro do adro; 1960 – Reparação telhado, conserto de vitrais, fornecimento e assentamento da rede de protecção dos vãos para os mesmos; 1963 – Obras urgentes de conservação; 1974 / 1978 – Obras de conservação.
Cronologia
1195, 15 fevereiro – é atribuído foral à vila de Cheleiros, por D. Sancho I (1154 – 1211), entre os seus signatários encontra-se D. Pedro, clérigo de Cheleiros, o que permite supor a existência de um templo local nesta data; 1305, 04 maio – D. Dinis (1261 – 1325) confirma o foral da vila, de que seriam donatários Diogo Afonso de Sousa e Violante Lopes Pacheco; por esta altura a igreja de Cheleiros recebe uma campanha de obras, da qual, provavelmente, data o seu pórtico principal (que apresenta algumas semelhanças com o de Santo André, de Mafra, v. IPA.00002340); 1365 – após a morte de D. Violante Lopes Pacheco, viúva e sem descendência direta, Cheleiros regressa à Coroa; 1420 – D. João I (1357 – 1433) doa Cheleiros a Gonçalo Vasques de Melo, criando o senhorio de Povos e Cheleiros; c. 1483 – segundo o linharista Frei Francisco de Santa Maria Maior Pacheco, por esta data terá D. Álvaro de Ataíde, senhor de Povos e de Cheleiros, iniciado algumas obras na igreja, não se trata, ainda, das obras de reconstrução da capela-mor; 1516, 25 novembro – recebe foral novo de D. Manuel I (1469 – 1521); séc. 16 – reconstrução da capela-mor, de dois tramos, com exuberante abóbada polinervada a que se acede a partir de arco triunfal encimado por esfera armilar, obra promovida por D. Álvaro Ataíde ou pelo seu neto, D. Fernando, senhores Povos e de Cheleiros, tendo o seu escudo de armas ficado representado no fecho central da abóbada; da mesma campanha será, igualmente, a bela pia de água benta com cordame que se encontra incrustada no portal gótico; séc. 17 – silhar de azulejos da nave, púlpito e capela-mor; Cheleiros fazia então parte da casa dos Marqueses de Vila Real, tendo sido, posteriormente, incorporado na Casa do Infantado; séc. 18 – construção da torre sineira; intervenção na capela-mor para ampliação da abside com o objetivo de alojar um novo altar-mor de grandes dimensões; presumivelmente da mesma época datam dois altares de madeira, confrontantes, que se encontravam na nave, junto ao arco triunfal; 1932, 07 março – início do processo de classificação do imóvel, tendo por base o grande valor artístico da porta ogival com a pia de água benta encastrada e de toda a abside renascentista; 1934, 24 maio – parecer favorável à classificação emitido pela Direção-Geral do Ensino Superior e das Belas-Artes; 06 junho – é publicado o decreto de classificação como Imóvel de Interesse Público (Decreto n.º 23 974, DG, 1.ª série, n.º 131); 1943, 28 abril – por carta dirigida ao diretor-geral dos Monumentos Nacionais, o padre de Cheleiros, Lúcio Marçal, solicita a execução de obras de recuperação no templo (coberturas e substituição de vigamento) e de beneficiação do templo, nomeadamente, a substituição do “bloco de argamassa” que serve de mesa de altar e que não é conforme ao estilo da capela-mor, alertando para “Foram muitas as mutilações, autênticas barbaridades, que se praticaram num templo simples, como em tantos outros, para colocar copisas de mau gosto, altares laterais e pequenas colunas, que destoam completamente, bem como o fundo da capela-mor” (DGEMN: DSARH-010/135-0052); 1944 – as obras de recuperação são incluídas no plano de trabalhos desse ano; 02 março – comparticipação das obras pelo Fundo do Desemprego no montante de 5.000$00; 19 abril – é aprovada a proposta do construtor civil Saúl de Oliveira Esteves para a execução de diversos trabalhos (demolição de paredes, desmonte dos três altares, construção da parede testeira da capela-mor e armação de telhado) pela quantia de 10.000$00, dos quais apenas 5.000$00 seriam custeados pelo orçamento de funcionamento da DGEMN; abril – 05 julho – decorrem os trabalhos, interrompidos por falta de verba; 08 novembro – por indicação do então secretário de Estado das Obras Públicas e Comunicações, José Frederico Ulrich (1905 – 1982) as obras são retomadas, tendo sido disponibilizados para o efeito 10.000$00; 11 novembro – são para aqui transferidas verbas na quantia indicada provenientes das obras no Convento do Colégio de Angra do Heroísmo; as obras agora retomadas reportam-se à execução de cantarias e construção do altar-mor; 1945, maio – inicia-se a terceira fase dos trabalhos, com nova proposta do mesmo empreiteiro para, por 30.000$00, a produção de cantaria, rebocos e guarnecimento das paredes com argamassa hidráulica, pavimentos de madeira brasileira para cobris as sepulturas e construção e assentamento de portas novas; 15 julho – carta do pároco de Cheleiros, Manuel Jesus Rodrigues, ao presidente do Conselho de Ministros, António de Oliveira Salazar (1889 – 1970) dando conta do seu descontentamento pelo arrastar das obras, que não permitiam a celebração do culto no templo; a carta é remetida, com despacho, ao diretor-geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, que informa que as mesmas deverão estar concluídas dentro de dois meses; 10 setembro – o grosso das obras encontra-se concluído, ficando, todavia, por preencher com azulejos os espaços referentes aos dois altares confrontantes removidos da nave da igreja, assim como a colocação de grades da capela-mor, coro e batistério; 18 – 23 setembro – é apresentada, e aceite, proposta para o fornecimento e assentamento dos azulejos pintados à mão da capela-mor, da balaustrada em mogno, da cancela para o batistério e teia, para a colocação, também no batistério, do painel de azulejos figurativos representando o Batismo de Cristo, por José de Sousa Camarinha, pela quantia de 53.413$50; iniciam-se as obras; 22 outubro – a firma Faianças Battistini de Maria de Portugal apresenta orçamento para o fornecimento dos azulejos no montante de 13.550$00; a quantia, considerada alta, leva a que seja necessário um novo reforço de verba, dada a necessidade de continuar os trabalhos; 1946, 19 novembro – é contratado o arquiteto Fernando Peres de Guimarães (1918 – 2016) para proceder ao levantamento gráfico e estudo da Igreja de Cheleiros, a constar do boletim que a DGEMN editaria sobre a intervenção, pelo que recebe a quantia de 3.000$00; 1947, 13 maio – é fixada a Zona Especial de Proteção, marcando como área “non aedificadum” os 50 metros em redor do templo, ficam em área protegida (embora não de construção proibida, algumas aldeias da vila); 1948 – 1950 – o novo pároco de Cheleiros, Manuel de Jesus Rodrigues, por diversas vezes, dá conta ao então diretor de Serviços de Monumentos, arquiteto Raul Lino (1879 – 1970) das várias obras que, não obstante ter sido já editado um boletim sobre a intervenção (1947) ainda faltava terminar, pondo em causa o culto, nomeadamente, a reposição da rede elétrica, abertura de uma caixa no altar para a pedra de ara, mísulas para as figuras, ranhuras no degraus exteriores para escorrer água das chuvas, reparação da porta da torre; 1949, 19 julho – é levado ao conhecimento do diretor-geral de que se encontra em fase de acabamento a construção de um edifício escolar na zona interdita à construção da Igreja de Cheleiros; 1950, 23 janeiro – ofício da Delegação para as Obras de Construção de Escolas Primárias (Plano dos Centenários), dando conhecimento ao MOP/DGEMN, de que esta delegação desconhecia tratar-se de um monumentos classificado, para além de que a escolha do terreno para a construção do edifício escolar foi acompanhada pela Câmara Municipal, alertando para o facto de não dispor a povoação de outro lugar com condições topográficas e localização disponíveis para este efeito, pelo que propõe a plantação de uma sebe com 1,60 metros de altura no logradouro da escola que fica a uma cota superior da escola e invisível desta; 10 fevereiro – embora reconhecendo a responsabilidade da autarquia no conhecimento da legislação, uma vez que a escola já esta concluída, a DGEMN acha que nada mais há a fazer do que aceitar a proposta de isolamento da escola pela construção de uma sebe; 1950, setembro – é aceite uma proposta, no valor de 65.758$00, para a realização de obras gerais de beneficiação na Igreja Paroquial de Cheleiros, contemplando o arranjo do adro (trabalhos de terraplanagem e execução de um muro em redor), reparação do telhado, caiação, arranjo dos sinos, beneficiação do arcaz e elaboração de caixa para a pedra de ara, e, finalmente, arranjo da instalação elétrica; 1952 – nova missiva do pároco solicitando a rápida conclusão dos trabalhos, a tempo de rececionar a imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima, que permaneceria em Cheleiros entre os dias 20 e 26 de abril; o pedido é no entanto, indeferido por falta de verbas; maio – a empreitada é adjudicada a Alberto Correia, por 23.490$00; 1954, julho – edificação em área não permitida de uma edificação destinada a sede do Grupo Recreativo de Cheleiros, sem ter sido pedido o necessário parecer; indicação para demolição da referida obra; 1955, setembro – o muro do adro é desfeito pelo embate de um autocarro; 1956, 29 janeiro – carta da junta de freguesia a mencionar ser sua intenção a construção da nova sede no local do antigo cemitério paroquial, dentro da área de proteção da matriz; 1961, 08 junho – dá entrada na DGEMN projeto aprovado de construção da nova sede da junta de freguesia no local do antigo cemitério (aprovado pela Direção Geral do Ensino Superior e das Belas Artes em agosto do ano transato); 1960 – obras de recuperação diversas (substituição de telhado e de vitrais, nomeadamente do retábulo-mor); 17 novembro – adjudicadas a António Ferreira de Almeida por 6.900$00; 1963, 24 julho – obras diversas (substituição de uma porta, vitrais, caiação interior) adjudicadas a Cândido Patuleia por 14.630$00; 1963 – reparações gerais com substituição da cobertura; 1973, 28 junho – por ofício o conservador do Palácio Nacional de Mafra, Francisco da Silva Crisóstomo, informa o diretor-geral da DGEMN, José Pena Pereira da Silva, da necessidade de substituição do teto em mau estado; 23 julho – a estas obras acresce a necessidade de substituição de vidros partidos, caiação interior, em obras estimadas em c. 28000$00, de acordo com a proposta do arquiteto diretor de serviços, a qual mereceu parecer favorável muito embora seja considerada a necessidade de comparticipação das obras pela paróquia, por não dispor a DGEMN do montante necessário; a paróquia disponibilizou-se em comparticipar com 5000$00; incluída no plano de obras de 1974, pelo arquiteto diretor de serviços de Monumentos Nacionais; 1974, 13 dezembro – obras diversas de beneficiação adjudicadas por 51.000$00 a António Paulo Costa da Luz; 1978, 27 julho – obras diversas (reparação da cobertura, caiação interior, pinturas várias) adjudicadas por 123000$00 a António Paulo Costa da Luz; 1978, 22 setembro – obras urgentes adjudicadas por 6.5000$00 a António Paulo Costa da Luz; 1980, 26 junho – não foi autorizada a colocação de um relógio na fachada da igreja.
[Fonte: DGPC]