Viagem pelo património classificado do município de Mafra – Igreja Paroquial de Alcainça [Imagens]

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Viagem pelo património classificado do município de Mafra – Igreja Paroquial de Alcainça / Igreja de São Miguel

 

A Igreja Paroquial de Alcainça / Igreja de São Miguel é uma igreja rural de “primitiva construção medieva, possivelmente ocorrida nos séculos 12 e 14, foi alvo de sucessivas campanhas de obras, tendo as mais significativas ocorrido nos séculos 17, 18 e 19, apresentando características góticas, maneiristas, barrocas e tardo barrocas”.

Constituída por uma planta “retangular, simples, desenvolve-se segundo um eixo longitudinal, de um e dois registos, a que se adossa a norte, o corpo retangular de uma torre sineira e, a sul, o corpo retangular de uma capela”.
As suas fachadas são “rebocadas e pintadas de branco, percorridas por um soco amarelo e as coberturas telhadas maioritariamente a duas águas”. Na fachada principal “(…) portal com dupla moldura de verga reta, sobrepujado por vão retangular de moldura simples de cantaria encimado por relógio e remate em empena angular rematada por fogaréus e cruz de ferro”.
A sua torre sineira “barroca, resultado da reconstrução pós-terramoto, surge vazada, no segundo registo, por quatro sineiras em arco pleno, rematada por cornija, com cobertura em domo bolboso acantonado por fogaréu, motivo que se repete nos acrotérios”.
No seu interior “nave única, parede fundeira com coro-alto retangular com balaustrada sobre duas colunas, iluminado por janela retangular emoldurada por vão em arco rebaixado, sob este, a norte, um arco pleno dá acesso à capela batismal onde figura uma pia pétrea, prismática. Após o coro a nave apresenta um revestimento integral das suas paredes murárias com azulejos de tapete, polícromos (azuis, amarelos e brancos), com cercaduras decoradas com desenhos “dente de serra” e registos com figuras de santos”.

 

Época Construção: Sécs. 12 / 14 / 17 / 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor: Desconhecido

Materiais: Cantarias de calcário e mármore; alvenarias rebocadas; azulejos; madeira; telha.

Protecção: Imóvel de Interesse Público desde 20 agosto 1946 (pórtico) *1
*1 – DOF: Pórtico da Igreja de São Miguel de Alcainça; a classificação abrange unicamente o portal e foi feita na suposição de que este era manuelino, erro que adveio da proximidade física da Capela do Espírito Santo, essa sim com um portal de estilo manuelino, subsistindo uma confusão entre os dois imóveis.

Enquadramento: Urbano. Localizada num largo, empedrado e murado, inserida na malha urbana de Alcainça, para cujo crescimento contribuiu, encontra-se ligeiramente a sudoeste da mais antiga povoação de Alcainça Grande. A igreja é flanqueada pelo cemitério a sul e a nascente, localiza-se sobre uma plataforma artificial que aproveita o declive natural do terreno para ocidente, junto à estrada, a poucos metros da Capela do Espírito Santo.

Propriedade: Privada: Igreja Católica (Diocese de Lisboa)

 

 

Cronologia
Séc. 12 – datação apontada por alguns autores para a construção do primitivo templo (José Joaquim de Ascensão Valdez, 1895; Raul Agostinho Almeida, 1953) na colina a sul da povoação de Alcainça Grande, no mesmo local se juntariam, no final do período medieval, a ermida e a albergaria do Espírito Santo; 1270, 12 março – D. João Peres de Aboim (1213 – 1285), valido de D. Afonso III (1210 – 1279) e senhor de Portel, recebe o padroado da Igreja de São Miguel de Alcainça, assim como três casais na povoação de Alcainça Pequena, das mãos de frei Rui Soarez, comendador da bailia de Lisboa da Ordem do Templo, foi testemunha Martinus Stephaniz, capelão da referida igreja (Pedro A. De Azevedo, 2003, Doc. CXIX, p. 85); séc. 14 – é fixada a taxa de 75 libras a ser paga por São Miguel de Alcainça durante três anos para “subsídio da guerra contra os mouros” (José Joaquim de Ascensão Valdez, 1895), medida que se inclui no imposto a pagar por todas as rendas eclesiásticas, à exceção das ordens religiosas militares, criado a 25 março 1321 por D. Dinis (1261 – 1325); 1363 – Vicente Anes Froes, prior de Cheleiros, fixa, em testamento, a sua vontade em ser sepultado na Igreja de São Miguel de Alcainça, na capela de São Silvestre, onde jaz o seu pai *2; séc. 15 – havendo notícias das constantes percas de património desta capela de São Silvestre, D. Manuel I (1469 – 1521) manda registá-la num tombo; 1527 – de acordo com a informação incluída nas Visitações desse mesmo ano, a “vintena de Alcainça com seus casais”, pertencia ao termo de Sintra, tendo 48 vizinhos; 1624 – é feito novo inventário dos bens da capela de São Silvestre, a mando de Filipe II (1527 – 1598), na sequência do qual é mandada fazer nova lápide para substituir a antiga (colocada na parede à direita do altar) por esta já se encontrar muito gasta e não se ler bem; 1663 – é colocada a nova lápide; desta altura data também (José Joaquim de Ascensão Valdez, 1895) o revestimento azulejar do interior do templo; 1760 – a igreja sofreu muitos danos com o Terremoto de 1755, estando já quase “reparada”, faltando, de acordo com a resposta do prior, José Baptista Garvão contida nas Memórias Paroquiais, a reparação interior com a reconstrução do arco da capela-mor mais levantado e em lioz, a qual deve ser apoiada pelas confrarias, assim como o alpendre, que o “povo fará … com brevidade”; o mesmo documento nos informa ser São Miguel de Alcainça, termo de Sintra, Patriarcado de Lisboa, Comarca de Alenquer, com 130 fogos e 459 vizinhos; ter por donatário D. Tomás de Lima, visconde de Vila Nova de Cerveira; ter a igreja três capelas, a mor dedicada a São Miguel, a do lado do Evangelho de Nossa Senhora do Rosário, e a da Epístola a São Silvestre; o documento refere ainda que, junto da igreja, havia albergaria, cujas casas estavam arruinadas, e Ermida do Espírito Santo, com rendas próprias; 1782 – as obras que se encontravam em falta em 1760 demoraram ainda algum tempo a concluir, quando António Rodrigues Bicho visita a paróquia encontra-a num estado “deplorável”; o novo pároco, José António Carneiro manda-a reparar e paramentar, assim como construir um muro da igreja até à sua casa; 1851 – 1862 – construção do cemitério paroquial, anexo ao templo, para sul; 1864 -a igreja recebe uma profunda campanha de obras, registada na fachada do templo, que lhe confere a sua atual feição, o alpendre é destruído, sendo o corpo da nave da igreja muito ampliado; 1882 – construção do adro da igreja e do seu portal; 1941, 23 janeiro – na sequência da informação fornecida pelo conservador do Palácio Nacional de Mafra, Carlos Silva Lopes, considerando que a Igreja de São Miguel de Alcainça, apesar de muito alterada, tem valor artístico considerável, a Direção-Geral da Fazenda Pública (DGFP) solicita à Junta Nacional de Educação (JNE) a sua classificação como Imóvel de Interesse Público; 28 agosto – com o objetivo de prosseguir com o processo de classificação ao JNE solicita à Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) que averigue as condições de classificação do referido imóvel; 1945, 19 maio – por ofício que acompanha duas fotografias da Igreja de São Miguel de Alcainça, já há muito solicitadas pela JNE, a DGEMN informa que a igreja funciona na sua totalidade como escola, uso que a alterou por completo, pelo que apenas o pórtico é digno de classificação; 1946, 08 março – por ofício a DGFP informa que o pórtico aludido respeita à Capela de São Silvestre (confusão com a vizinha Capela do Espírito Santo), classificado desde 1943; 1946, 20 agosto – o pórtico da Igreja de São Miguel de Alcainça é classificado como IIP (Decreto n.º 35817, DR, 1.ª série, n.º 187); 1948, 24 julho – em resposta aos esclarecimentos da Fazenda Pública, o arquiteto João Vaz Martins, diretor de serviços dos Monumentos Nacionais considera não ser de prosseguir com a classificação; 1956, 20 outubro – ofício da Câmara Municipal de Mafra dá conta do estado precário em que a igreja se encontra, solicitando à DGEMN a realização de obras e a classificação do templo; 30 outubro – a direção-geral informa não dispor de verba para a realização das obras necessárias e que o templo dispõe já de uma classificação, a do seu pórtico; 1958, 04 julho – novo ofício da autarquia lembrando que a execução de obras se torna cada vez mais premente; necessárias obras urgentes; 20 setembro – em resposta, o arquiteto chefe de divisão dos Monumentos Nacionais, dada a falta de verba da DGEMN e o facto de apenas o pórtico da igreja estar classificado, remete o assunto para a Direção-Geral dos Serviços de Urbanização; 1999, 29 setembro – despacho do vice-presidente do IPPAR para abertura do processo de classificação que abrangesse a totalidade da igreja; 2001 -recebe obras de conservação levadas a cabo pela autarquia e que consistiram na limpeza e pintura exterior do templo; 2009, 23 outubro – o processo de classificação caduca nos termos do artigo 78.º do Decreto-Lei n.º 309/2009, DR, 1.ª série, n.º 206, publicado nesta data.

 

[Fonte: DGPC]

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