Viagem pelo património classificado do município de Mafra:
Igreja Paroquial de Azueira / Igreja de São Pedro dos Grilhões
Igreja paroquial rural de construção seiscentista e reconstrução setecentista.
Fachada principal maneirista, composta por três panos separados por pilastras de cantaria, com cornija saliente, curva no pano central, que ostenta frontão de remate em arco canopial, e é animado, no primeiro registo, pelo portal encimado por frontão contracurvado, que ostenta a tripla tiara alusiva ao orago. Por cima rasga-se uma janela com interessante trabalho de cantaria, sobrepujada por frontão triangular. Embora tenha sido concebida para ter duas torres sineiras, possui apenas uma (de cobertura bolbosa e fogaréus nos acrotérios), que se presume posterior ao terramoto de 1755.
No interior: “a igreja de nave única, é espaçosa, iluminada uniformemente através de janelas retilíneas rasgadas ao nível do segundo registo das fachadas laterais e pelo óculo e janelões do coro-alto, o qual se desenvolve sobre balaustrada em madeira assente sobre uma arcada formada por dois arcos inteiros laterais e um arco em asa de cesto central sobre elegantes colunas pétreas de secção quadrada e capitéis de decoração fitomórfica. A nave, com cobertura em abóbada de barrete de clérigo sem qualquer decoração e muros rebocados e pintados de branco, integra duas capelas retabulares confrontantes, onde figuram as imagens do Senhor Jesus Crucificado, lado do Evangelho, e Nossa Senhora do Rosário, lado da Epístola. No muro do lado do Evangelho é, ainda, de notar a existência de um púlpito pétreo adossado à estrutura murária, com guarda plena bojuda decorada com almofadas marmóreas, sobre mísula contracurvada. Arco triunfal de volta inteira, ladeado por dois retábulos colaterais, hoje sem imagética, idênticos, com moldura pétrea encimada por sanefa em arco canopial. Capela-mor com cobertura em abóboda de berço, frontal de altar revestido a azulejo polícromo seiscentista, sendo o retábulo, lateralmente, delimitado por dois pares de colunas de fustes estriados e capitéis compósitos dourados e encimado por frontão curvo interrompido, coroado ao centro pelo cordeiro do Apocalipse, ladeado por dois anjos tenentes, apresenta uma elegante tribuna terminada em baldaquino com lambrequins, com trono expositivo, hoje sem imagética.”.
Época Construção: Séc. 17 / 18
Arquitecto / Construtor / Autor: Desconhecido
Materiais: Alvenaria mista, reboco pintado, cantaria de calcário, madeira, ferro fundido, bronze, estuque
Protecção: Imóvel de Interesse Público desde 30 novembro 1993
Enquadramento: Rural, destacado, isolado por adro murado com um cruzeiro seiscentista. A ocidente confronta com campos de cultivo. Localizado a nordeste do centro da vila, no final da Rua de São Pedro, adossado ao cemitério, com o qual confronta a norte e nascente. Na Rua de São Pedro existem algumas moradias de habitação.
Utilização:
Inicial: Religiosa: igreja paroquial
Actual: Devoluto
Propriedade: Privada: Igreja Católica (Diocese de Lisboa)
Afectação: Sem afetação
Cronologia
séc. 16 – imagens em pedra de Santa Ana e de Santa Luzia que, segundo segundo Eduardo de Távora de Vasconcelos Miranda (MIRANDA, 1944), estariam nos altares laterais da igreja, e que teriam sido substituídas por outras de madeira; Armando de Lucena (LUCENA, 1986), contudo, afirma que estas imagens não seriam da igreja, mas antes removidas do cemitério adjacente por motivos ignorados; séc. 16, segunda metade – datação de duas telas maneiristas de São Pedro dos Grilhões e do Calvário, que seriam pertença deste templo e se encontram no templo de Nossa Senhora do Livramento (v. IPA.00005580); 1566 – os registos paroquiais permitem verificar que nesta data a igreja já existia, encontrando-se a paróquia ativa; 1577, 03 julho – data da morte de Charles Henriques, fidalgo da corte de D. João III (1502 – 1557), camareiro do infante D. Fernando, seu irmão, sepultado no interior deste templo; séc. 17 – edificação da fachada principal; séc. 18 – imagem de madeira pintada e estufada de Santo António com o Menino; 1732 – é redigido, pelo cardeal patriarca, D. Tomás de Almeida, o Compromisso da Confraria de Nossa Senhora da Nazaré da Pederneira, constituindo a base canónica do já praticado Círio da Prata Grande, que, entre as paróquias que desde quase o seu início recebem a imagem da Senhora, conta com a do Azueira; 1741 – aprovação formal do Compromisso da Confraria de Nossa Senhora da Nazaré da Pederneira; 1755, 01 novembro – sofre grandes danos com o sismo, sendo, posteriormente, reconstruída; da campanha oitocentista data a sineira, assim como a remodelação interior; 1758 – de acordo com as Memórias Paroquiais, a Igreja Paroquial da Azueira, também chamada de São Pedro dos Grilhões, tem cinco altares com as seguintes imagens, Nossa senhora da Conceição e São Pedro, ambos no retábulo-mor, nos lados do Evangelho e da Epístola, respetivamente, Santa Catarina e Sebastião, nos colaterais, lados do Evangelho e da Epístola, respetivamente, e pela mesma ordem, nos retábulos laterais, Senhor Jesus Crucificado e Nossa Senhora do Rosário, tinha Irmandade das Almas, confrarias do Senhor Jesus e do Santíssimo, sendo o pároco da apresentação dos fregueses e confirmação do prior da Matriz de Santa Maria do castelo da Comarca de Torres Vedras; pelo mesmo documento sabemos ser, nesta data, Azueira terra de el rei com 59 fogos no lugar e 125 por toda a freguesia; 1787 – órgão construído por António Xavier Machado Cerveira (1756 – 1828), o número 16 dos seus órgãos históricos, para o coro-alto desta igreja, e que hoje se encontra na Igreja de Nossa Senhora do Livramento; 1820 – 1855 – durante este período a Azueira foi sede de concelho (a que pertenciam as freguesias de Azueira, Enxara do Bispo, Freiria, Gradil, Milharado, Sobral da Abelheira e Turcifal), após o que foi incorporada no município de Mafra; 1890, 15 julho – ofício do secretário-geral do Governo Civil de Lisboa, Eduardo Segurado, dirigido ao administrador do concelho de Mafra, solicitando, com urgência, informação da Junta de Paróquia da Azueira sobre a importância total dos reparos que se deliberou mandar fazer na Igreja Paroquial e na Igreja de Santa Catarina; 1911, 12 fevereiro – do inventário elaborado pela secretaria da Junta da Paroquia da Azueira constam uma coroa de prata na imagem da Senhora do Rosário, uma coroa de prata do Menino, um vestido de seda com espiguilha de ouro, uma imagem e um andor; c. 1944 – de acordo com Eduardo de Távora de Vasconcelos Miranda (MIRANDA, 1944) nesta data é vendida a primitiva imagem de pedra representando São Pedro que se encontrava no retábulo-mor desta igreja, por 2800$00 para contribuir para a reconstrução do muro do cemitério que lhe fica adjacente; 1983 – aquando da elaboração da proposta de classificação da igreja, e de acordo com as informações fornecidas pela Câmara Municipal de Mafra, a igreja encontra-se bastante degradada, possui uma pintura do século 18 numa parede, várias imagens em madeira policromada (das quais se destacam as de Santa Inês, São Paulo, da Virgem e de Santa Luzia), tem um altar-mor mito elegante, embora em mau estado de conservação, um sobrado impressionante, alvo de recente restauro); o órgão de Machado Silveira ainda se encontra no templo; 1990 – Fernando Ferreira (FERREIRA, 1990) refere-se à existência de duas boas imagens de pedra no interior deste templo (as duas quinhentistas que, atualmente, se exibem na igreja do Livramento); 1993, 30 novembro – é classificada como Imóvel de Interesse Público; 1994, 10 de junho – a imagem de madeira estofada, representando São Pedro dos Grilhões, portador da insígnia papal (a vara com a cruz de Lorena), que se encontrava no retábulo-mor, e que havia sido furtada, foi encontrada a boiar no rio Tejo, perto de Santarém, e entregue à GNR de Salvaterra de Magos; após esta data a imagem é restaurada encontrando-se, hoje, no templo do Livramento.
[Fonte e fotos: DGPC]