Este ano, o Monumento ao Carnaval de Torres Vedras está a dar que falar e não é pelas melhores razões.
A inauguração do monumento constituiu o arranque do Carnaval “mais português de Portugal”, e ocorreu no dia 9 de fevereiro. A 11 de fevereiro, a Gate 7 (empresa responsável pela obra), anunciou nas redes sociais que “Já foi inaugurado o Monumento do Carnaval 2019!! Mais surpresas nos próximos dias…”, deixando assim em aberto alguma expetativa.
As surpresas chegaram alguns dias depois, quando terá sido feito “um acrescento” ao monumento, introduzindo uma peça que não constava do projeto inicial, no projeto aprovado pela câmara de Torres Vedras.
Esta “peça extra” era a já célebre “Santa da Bola”.
A imagem representa uma Nossa Senhora, um dos símbolos da igreja católica, com uma bola de futebol no lugar onde deveria estar o rosto. apresentando-se com uma placa onde se lia “Cristiano! Dá-me a tua camisola!”.
Bruno Melo, artista plástico que há mais de 30 anos colabora com o Carnaval de Torres Vedras, referiu à TSF que:
“Temos de provocar para agitar e acho que esta agitação é saudável (…) as pessoas deviam preocupar-se mais com os flagelos da igreja o que anda aí de pedofilia e toda a gente fecha os olhos do que propriamente uma brincadeira”
O artista refere ainda que “este é sempre um tema quente, cada vez que nós tocamos no tema igreja as coisas aquecem, se estivesse na maquete não passaria e eu também não sou louco ao ponto de por a imagem de Nossa Senhora como ela é e criei a minha própria santa, a “Santa da Bola”.
A Câmara municipal, que o Jornal de Mafra contatou, refere que “a Paróquia da cidade de Torres Vedras se manifestou ofendida com a presença da imagem no monumento e solicitou a sua remoção. Sabendo que no Carnaval a sátira não deve ser levada a mal, mas respeitando o eventual desconforto que esta adição ao monumento poderia causar em alguns foliões crentes, a organização do Carnaval de Torres Vedras optou por solicitar ao artista plástico a remoção da imagem o Monumento, pelo que a “Santa da Bola” foi assim retirada do seu pedestal e enviada para restauro…”
Nas redes sociais, o autor da obra referiu que se sente “na obrigação de não deixar calar a minha voz e a de todos os artistas plásticos que contribuem para o seu engrandecimento! […] o não entendimento de alguns, relativamente a peças que fazem parte do Monumento ao Carnaval de Torres, leva a situações extremas de pressão, que em pleno século XXI não têm qualquer sentido.
A liberdade de expressão criativa sempre foi a imagem de marca do nosso Monumento! Este ano não fugiu à regra!
Contudo uma escultura criou “alarido” suficiente, diretamente a mim e junto da Câmara Municipal, ao ponto de me ser imposta a sua remoção! […] Em Torres, Carnaval é sátira, connosco e com os nossos, com os heróis e os vilões, os vivos e os mortos, os melhores e os menos bons, os políticos e os artistas, agradecendo nós, os que têm liberdade criativa, tudo o que foi alcançado para a nossa sociedade desde que o lápis azul foi “enterrado”.”
[Imagem: Bruno Melo]
O lápis azul foi enterrado mas a submissão da carneirada continua!
Ofende muito mais a submissão da carneirada a uma organização machista, violadora, pedófila, improdutiva e parasita que os carneiros insistem em adular e jurar fidelidade!