A companhia TapaFuros, sediada em Sintra apresentou-se ontem no Auditório Beatriz Costa, com uma peça baseada num texto de Hélia Correia, “A terceira Miséria”.
No registo da tragédia grega, o elenco de actores dirigido por Rui Mário, fez passar pelo palco a demissão dos deusas, lá na velha (nova) Grécia. Há um tom, chamemos-lhe assim, para não lhe chamar clamor em forma de pergunta, que nos acompanha em todos os tempos que a peça desenrola e essa frase reza assim, “Para que servem os poetas em tempos de indigência?”. Para que servem os poetas? E mais, em tempo de indigência. Tempos de indigência houve na antiga Grécia e na Grécia moderna, tempos de indigência que também nos tocaram e de algum modo ainda nos tocam.
Nestes tempos de indigência vieram-me ao pensamento nomes bem actuais, que passam mais pelas Américas e pela Pérsia e menos pela velha Ελλάδα, mas esses são outros contos. Voltando à peça, uma cena bem cuidada, um desempenho interessante do elenco, sobretudo ao nível da movimentação de cena ao ritmo da tragédia grega, o narrador a fazer a ligação entre o público e a trama, fizeram do espectáculo, um tempo propício para a reflexão, um momento de calma a pensar na ruína da velha Grécia às mãos dos deuses.
Por Mafra, os tempos são de exaltação saloia, das bandas, dos ranchos folclóricos, dos prometidos museus, das guerras com Lisboa, das business factories, mas também dos despedimentos de maestros, do arregimentar de espectadores com autocarros à porta. A sala estava composta para um espectáculo independente, produzido por uma companhia que não mora em Mafra, não sendo aqui subsidiada, nem aqui levada às costas. Para um espectáculo baseado num texto de Hélia Correia, em Mafra, numa noite em que a concorrência se fazia com um dos célebres concertos solidários, cujas contas nunca vêem a luz do dia, a sala até estava bem composta.
Já agora, deixamo-lhes um pequeno passatempo. Descubra as diferenças. Descubra qual é o cartaz utilizado pela Câmara de Mafra e qual é o cartaz utilizado pela companhia na promoção do espectáculo (onde não faltou a heráldica da Câmara e da Junta de Freguesia de Mafra).
DESCUBRA AS DIFERENÇAS