O atelier de restauro em Mafra é relativamente pequeno, Ilda Nunes (Património do Tempo), conservadora-restauradora, historiadora de arte e responsável pelo espaço, diz-no, no entanto, que o trabalho desenvolvido a Sul, ultrapassa já aquele que a empresa assegura no Norte, em Vila Nova de Famalicão.
Ilda Nunes é uma apaixonada pelo restauro, mas tem consciência de que o verdadeiro segredo reside na conservação. Num país que raramente programa o futuro, embora se delicie a analisar o passado (muitos vezes de um modo competente), alguém que se dedica a restaurar e a conservar o património que o tempo nos legou a todos e que o faz com entusiasmo, entrega profissional e pessoal, e ainda é capaz de algum idealismo, merece ter sucesso.
“Em Portugal vive-se cada vez mais um ambiente de consciencialização e de valorização no nosso património, a realidade de há 20 anos atrás não tem nada a ver com a de hoje, mas ainda há muita coisa para fazer”, esta frase vinda de quem está nesta área há 20 anos e que foi a única portuguesa a participar na recuperação da Capela Sistina, no Vaticano, deixa-nos com mais esperança em relação ao futuro da preservação do património do país, mas não nos sossega.
Soubemos que ainda há “curiosos” da conservação, a quem algumas entidades e particulares recorrem, nada mais nada menos do que aquele senhor lá (cá) da terra “que é muito jeitoso, que até pinta umas coisas, vamos então pedir-lhe, que ele dá aqui um jeito e fica barato”, coisa que ainda se faz em Portugal, nomeadamente em património edificado com valor histórico, retirando valor às peças, uma vez que, em alguns casos elas ficam irrecuperáveis.
A Património do Tempo trabalha com coleccionadores, com particulares proprietários de grandes espólios, com as comissões fabriqueiras das igrejas católicas, com os municípios e com o estado e ganhou recentemente o 2º lugar no Prémio Internacionalização na Edição de 2017 da Bienal Ibérica do Património Cultural, dedicada ao tema da Gestão Patrimonial e que ocorreu em Amarante. Maior prestigio ainda, se tomarmos em consideração que o 1º Prémio foi arrebatado pela Parques de Sintra – Monte da Lua, uma entidade de reconhecido mérito e com muito trabalho desenvolvido.
No santuário do Sameiro em Braga, a recuperação do interior da basílica, a igreja matriz de Vila Nova de Famalicão, uma obra que durou 2 anos. No concelho, a igreja de Alcainça, que neste momento a decorrer, S. Sebastião na Enxara, obra concluída no mês passado, bem como a igreja da Murgeira, pertença da Junta de freguesia de Mafra, foram algumas das empreitadas de restauro que a empresa de Ilda Nunes e de João Cabaço realizaram em 2016 e em 2017.
Embora sendo hoje uma empresa nacional, com obras a decorrer de Cerveira ao Alvor, têm orgulho por estarem sediados no concelho de Mafra e por aí desenvolverem também trabalho, até porque “gostamos que o cliente acompanhe a realização do trabalho, e essa é uma das razões porque mantemos um atelier no Norte”.
Ficámos ainda a saber que, mesmo a nível legislativo, há ainda imenso trabalho a desenvolver, não imaginaríamos, por exemplo, que não há quaisquer restrições para que, seja quem for, intervenha em peças, desde que elas não sejam classificadas ou não estejam em vias de classificação, e isto, pasme-se, apenas para património edificado.
Embora neste país, por vezes as aparências não apontem neste sentido, na realidade, a prazo, o futuro passará sempre pela qualidade e pela diferenciação, e assim sendo, ele passará seguramente pelo sucesso de gente qualificada, consciente e socialmente responsável, e foi isso que aprendemos nesta visita que fizemos ao atelier de Ilda Nunes em Mafra.