A água é um produto essencial à vida, constitui 75% do peso do músculo, 95% do sangue é água e 22% do osso é também água. Num edifício que chegou a albergar 300 pessoas, o acesso à água era fulcral. No Sábado passado, o Jornal de Mafra acompanhou uma visita ao convento de Mafra, a que foi dado o significativo nome de “O caminho que a água percorre no Convento”, tratou-se de uma iniciativa inserida nas Jornadas Europeias do Património e no projecto Aqua Mafra do Instituto de História da Arte – Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Guiados por Patrícia Alho e o pelo Ten. Coronel Flávio Miranda, percorremos alguns dos caminhos que a água fazia, e nalguns casos ainda faz, no Convento de Mafra, passando pela recolha das águas pluviais, pelo depósito e pela distribuição dessas águas pelo edifício. Passamos por fontes, lagos, cozinhas, saguões, depósitos, sistemas de canalização e latrinas…seguindo o caminho que as águas por ali faziam a partir de duas origens, as águas da chuva ou as 30 minas ainda hoje existentes na Tapada Nacional de Mafra.
Depois de atravessar o Corredor das Aulas chega-se à Fonte das Almas, local de onde a água, a partir de um dos tanques/reservatórios subia para os pisos superiores através de baldes puxados através de um sistema de roldanas. O caminho prosseguiu então para a Sala das Bicas, local onde os frades lavavam as mãos antes de seguirem para o refeitório. A água dos quatro lavatórios vinha dos terraços, mas faltando a chuva, o abastecimento podia ser feito através de baldes.
Passámos depois pelo refeitório dos frades rumo à cozinha. O chão inclinado da cozinha permitia que a água se escoasse por um canal que as conduzia às galerias subterrâneas. De salientar que a água do lavatório da cozinha provinha da Tapada. Da cozinha passamos à Sala Elíptica e à Sala dos Actos, subindo depois até um piso intermédio para visitar as latrinas. O sistema de escoamento das latrinas, é ainda o mesmo que os militares utilizam nos nossos dias.
Voltamos depois a descer para visitar o Jardim de Buxo, cujos tanques, o central e os 4 laterais, eram “alimentados” por água vinda do Alto da Vela, seguindo depois para o Jardim do Cerco.
Esta viagem terminou no Jardim do Cerco, local onde se encontra a Mãe d’ Água, de onde a água segue por aquedutos até ao Tanque dos Leões. Aí divide-se por duas vias, a que segue para a Nora e a que se destina ao Real Edifício. A água entrava no edifício pela zona das hortas dos frades, onde se localiza hoje a parada do quartel.
O projecto Aqua Mafra contempla a realização mensal destas visitas, que depois de terminadas as obras dos carrilhões terão ainda o aliciante de incluir uma ida aos terraços para que se possa perceber como funcionavam as goteiras e outros métodos de captação de água da chuva.
Este caminho de envolver a academia nas actividades do palácio, é um caminho capaz levar o Real Edifício ainda mais longe.