Palácio de Queluz adquire retrato inédito De D. João VI

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Parques de Sintra adquire novas peças para O Palácio de Queluz Com destaque para retrato inédito de D. João VI

Para além do retrato de D. João VI, que era desconhecido até à data, o acervo do monumento passa a integrar, também, um relógio que foi de D. Carlota Joaquina e uma rara pintura assinada pela princesa Maria Francisca Benedita

A Parques de Sintra comprou três novas peças, que vêm contribuir para a interpretação histórica deste monumento e da sua época, um retrato inédito de D. João VI, quando ainda era Príncipe Regente, da autoria do conceituado pintor Henri-François Riesener e um relógio contemporâneo da Revolução Francesa com uma surpreendente ligação ao rei Luís XVI, que pertenceu à rainha D. Carlota Joaquina.

Este lote de aquisições representou um investimento de cerca de 100 mil euros, completa-se com uma pintura da Virgem Maria assinada pela princesa Maria Francisca Benedita; testemunho raro do seu interesse por esta arte.

Retrato inédito de um rei que detestava posar para os pintores

Retrato D. João VI
[creditos_Philippe Mendes]
Em março deste ano, apareceu num leilão na Alemanha um retrato de D. Joao VI que nunca tinha sido referenciado.

A obra, que deverá datar de 1815, é do pintor Henri-François Riesener, tio de Eugéne Delacroix, que, entre outras celebridades, retratou Napoleão Bonaparte, a imperatriz e o príncipe Eugénio de Beauharnais. Tem muitas semelhanças com o retrato de D. João VI que pertence ao Museu do Tesouro Real, mas foi pintado antes e mostra o monarca quando ainda era Príncipe Regente a apontar, simbolicamente, para Portugal Continental num globo terrestre que está pousado sobre um mapa que representa o Brasil; um gesto de afirmação política, numa clara alusão à união dos dois territórios.

Segundo a investigação levada a cabo pela equipa do Palácio Nacional de Queluz, a pintura terá sido encomendada pelo marquês de Marialva, que à época era embaixador de Portugal em Paris, e executada a partir de referências visuais, como gravuras, e da descrição oral que o marquês terá feito do rei, já que Riesener nunca foi ao Brasil, local onde a Família Real residia desde 1807, na sequência das invasões francesas.

Esta obra será exposta nos aposentos que pertenceram a D. João VI.


Relógio que pertenceu a D. Carlota Joaquina

Relógio
[creditos_Leiloeira S. Domingos]
A rainha D. Carlota Joaquina, esposa de D. João VI, é outra figura incontornável da história do Palácio Nacional de Queluz, que foi a sua casa desde muito jovem. O acervo do monumento passa, agora, a contar com mais um objeto que lhe pertenceu e que tem uma curiosa ligação ao rei Luís XVI de França. Trata-se de um relógio de fabrico francês, que, de acordo com a investigação desenvolvida pela equipa do Palácio, terá sido produzido em 1790, no seguimento da Revolução Francesa (ocorrida em 1789) e em data anterior à morte de Luís XVI (1793).

Como se fosse uma maquete, a peça, de gosto neoclássico, replica o obelisco erguido em Port-Vendres (Pirenéus Orientais), França, por iniciativa do conde de Mailly, em homenagem a Luís XVI, o rei deposto e guilhotinado pelos revoltosos. O monumento subsiste, mas muito descaracterizado. Assim, este relógio, cujo mecanismo se encontra habilmente escondido, permite saber hoje como era aquela construção no passado, com algumas adaptações à realidade nacional. O globo em metal que coroa o obelisco de mármore, e que indica as horas, tem o mapa de Portugal Continental. Por outro lado, incorpora inscrições em português que têm excertos de um canto de “Os Lusíadas”, de Luís de Camões, e de uma carta de Sá de Miranda a D. João III.

Estas características conferem à peça um acentuado valor simbólico e político, pois os textos nela impressos denotam uma glorificação do poder régio, numa espécie de reação à Revolução Francesa e de sinal de apoio do monarca português ao seu congénere francês. Nesse sentido, é possível que tenha sido uma oferta a D. João VI para assinalar o momento em que assumiu a regência do reino, em 1792. Posteriormente, transitou para a posse de D. Carlota Joaquina, que o colocou na sua Quinta do Ramalhão, em Sintra, onde foi inventariado em 1829.

O relógio, depois de restaurado, integrará o circuito expositivo do Palácio Nacional de Queluz.

 

Memórias de uma princesa que gostava de pintar

Virgem
[creditos_Veritas_Art_Auctioneers]
O Palácio foi um dos locais prediletos da princesa Maria Francisca Benedita, irmã mais nova da rainha D. Maria I, que viveu entre 1746 e 1829. Para além do papel filantrópico, pelo qual ficou conhecida, a princesa cultivava o gosto pela pintura. Terá, inclusive, recebido lições do pintor Domingos Sequeira, mas, atualmente, são raros os testemunhos subsistentes deste seu interesse.

A recente aquisição, para o Palácio Nacional de Queluz, de uma pintura da Virgem Maria assinada pela princesa Maria Francisca Benedita é, assim, de grande relevância, pois constitui um bom exemplo do tipo de obras que produzia: pequenos formatos, com figuras de santos ou cenas de cariz religioso, destinadas à devoção privada, para colocação num quarto ou oratório.

Além disso, este quadro, que deverá ter sido pintado em data anterior à partida da Família Real para o Brasil (1807) e que é o único que se lhe conhece executado em óleo sobre cobre, permitiu atribuir à princesa uma obra anónima do acervo primitivo de Queluz, dadas as características que apresenta. Trata-se de uma pintura de S. José com o Menino, pertencente ao oratório dos aposentos de D. João VI neste Palácio.

[Texto (adaptado) e imagens da Parques de Sintra]

 

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