Palácio de Mafra atado com fitas e preso com grades

O JM contactou há três dias a DGPC (Direcção Geral do Património Cultural), a propósito da interdição do espaço fronteiro às torres que alojam os sinos do Palácio Nacional de Mafra. A resposta que nos chegou refere o seguinte:

“O condicionamento imposto nos últimos dias à circulação de pessoas na área envolvente às torres sineiras de Mafra é uma medida de segurança preventiva, resultante da ativação de um plano de contingência oportunamente criado pela DGPC em articulação com o Município de Mafra, envolvendo o respetivo serviço de Proteção Civil.”

 

Relativamente ao risco de derrocada, uma preocupação legitima face ao aparato de grades e baias frente à entrada da Basílica, obtivemos da DGPC  a seguinte resposta:

“Apesar do mau tempo registado nas últimas semanas, não se deteta, na presente data, um agravamento do estado de conservação das torres, dos sinos e respetivas estruturas de suporte, não havendo por isso risco de derrocada.”

 

 

Singularmente, ontem, no dia em que recebemos estas respostas por parte da DGPC, Hélder Silva, em declarações à RTP, refere que os sinos estão em risco de queda, sendo devido a esse risco, que foi criado o perímetro de segurança.

 

Não há qualquer previsão para o início das obras de reabilitação

 

Recordamos que desde 2014 que o Real Edifício de Mafra se encontra entre os 7 monumentos mais ameaçados da Europa, e segundo a DGPC, ainda neste momento, Março de 2018, se aguardam os “documentos de autorização dos procedimentos de adjudicação da empreitada deste novo ano económico, para envio ao Tribunal de Contas. O contrato com o empreiteiro data de outubro de 2017”.

Questionada por nós, relativamente a eventuais vistorias ao edifício, actualmente em curso, e relativamente ao real estado dos sinos e das estruturas que os suportam, a DGPC afirma que:

Desde 2004 as torres sineiras do Palácio Nacional de Mafra são objeto de vistoria regular por parte dos serviços técnicos que tutelam o imóvel. Durante o período de inverno a Direção do Monumento faz inspeções diárias às coberturas, torres, torreões e zimbório. No ano passado foi reforçado o escoramento das torres sineiras.”

A mesma entidade do Ministério da Cultura refere “ter todo o interesse em avançar o mais rapidamente possível com a obra até porque o aluguer das estruturas [que suportam os sinos] custa 40 mil euros por ano”.

 

Hélder Silva, presidente da Câmara de Mafra: “de promessas está o inferno cheio”

 

Após termos colocado estas questões à DGPC, surgiu informação oriunda da Lusa, a TVI e a RTP pegaram no tema e Hélder Silva fez declarações à RTP. Também à RTP, a directora-geral do Património Cultural, Paula Silva,  confirmou que “neste momento há o risco de os sinos caírem”.

Por sua vez, Hélder Silva, presidente da Câmara de Mafra, também à RTP, declarou que “a Câmara lamenta profundamente esta inatividade do Governo, através da DGPC. Há muitos anos que isto está referenciado como uma questão de nível nacional e os vários governos têm dedicado pouca atenção a este importante problema nacional” […] “A DGPC diz sempre que está em curso um lançamento de concurso público internacional […] certo é que até hoje, como podem constatar, a obra não começou. De promessas está o inferno cheio”.

Compreensivelmente, o autarca de Mafra, que não teve peso político para “forçar” o início da obra durante os governos do PSD, nem agora, que o PS está no poder, manifesta à RTP, a sua preocupação com esta situação, “para nós, mafrenses, é uma verdadeira vergonha ter este perímetro de segurança com baías, com este mau aspeto, aqui como mau cartão-de-visita de Mafra”. Reconhecidamente um apoiante indefectível de Pedro Passos Coelho, foi pena que o seu peso político não tivesse convencido o então primeiro ministro a dar o empurrão certo nesta obra.

Contrariando a resposta que a DGPC deu ao Jornal de Mafra, Hélder Silva declarou ainda à RTP, que “as últimas vistorias detetaram fadiga naquilo que é a estrutura que suporta hoje os sinos, em virtude de os cabeçotes estarem completamente degradados”.

 

Não se vê como é que a UNESCO poderá olhar para tudo isto com um olhar benevolente

 

Por sua vez, Mário Pereira, Director do Palácio Nacional de Mafra, contactado pelo Jornal de Mafra na última segunda-feira, referiu estar ausente do país, mas que logo que chegasse a Portugal, contactaria com o JM, contacto que não ocorreu, embora tenha entretanto prestado declarações à RTP. Nestas declarações, repete a mesma informação que a DGPC forneceu ao JM.

Relativamente ao início das obras, prece tudo estar na mesma, não havendo sequer uma previsão para o seu início. Este é um processo bem à portuguesa, a burocracia, o deixa andar, os jogos políticos e a tradicional pobreza do país, no seu esplendor máximo.

Não se vê como é que a UNESCO poderá olhar para tudo isto com um olhar benevolente.

 

Também a Torre de Belém foi encerrada pela DGPC, devido aos temporais que assolaram o país e a área metropolitana de Lisboa, a ponte de acesso ao monumento encontra-se danificada, não se prevendo uma data para a conclusão da reparação.

 

 

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