OPINIÃO | Sérgio Gorjão — 1 de outubro, Dia Mundial da Música
Diretor do Palácio Nacional de Mafra
Celebra-se, hoje, dia 1 de outubro, o Dia Mundial da Música, uma efeméride que recorda o valor da música como um bem intangível que define o Ser Humano numa das suas características essenciais: a criatividade, sendo também uma linguagem universal que liga diversos povos, épocas e culturas.
O Real Edifício de Mafra, mais propriamente a Basílica do Palácio Nacional de Mafra, concentra dois dos mais importantes conjuntos instrumentais europeus, os seis órgãos e os carrilhões (dos quais apenas um funciona), contribuindo para a diferenciação deste monumento como Património Mundial da UNESCO.
Hoje, também é dia para um balanço da atividade do palácio enquanto espaço potenciador da música.
Nos últimos 3 anos (incluindo 2024) foram realizados mais de 300 concertos, assistidos por cerca de 25.000 pessoas, sendo esta uma das principais atividades deste monumento. Ainda assim, a atividade musical não é o centro da ação do Palácio, que tem um conjunto de valências mais “discretas”, mas igualmente relevantes, como a manutenção do edificado, a conservação e restauro de bens museológicos, a atividade de investigação, a representação pública, etc.
Em 2022 realizaram-se 119 concertos, nomeadamente os do X Ciclo de concertos a seis órgãos; concertos regulares de carrilhão; concertos da temporada Cruzada Portugal França / Festival Internacional de Carrilhão, concerto comemorativo do centenário de José Saramago e diversos outros recitais e concertos de acesso público ou de organização privada.
Em 2023 destaca-se a apresentação de 5 grandes ciclos de concertos: concertos regulares de Carrilhão; o XI Ciclo de concertos a 6 órgãos, o Festival Internacional de Carrilhão, o VII Festival de Música Antiga – Filipe de Sousa e o Ciclo de concertos de música barroca In-Música, para além de diversos outros momentos musicais esporádicos ou integrados em iniciativas públicas ou privadas. Em 2023 decorreram mais de 100 concertos, grande parte deles organizados ou coorganizados pelo PNM, alguns deles em articulação com o Município de Mafra. Nestes estima-se uma assistência de cerca de 12.030 pessoas.
No presente ano, mantiveram-se todos os grandes ciclos de música, acrescentando-se, ainda, uma série de outras apresentações temáticas, e cujo rácio rondará o mesmo número de iniciativas e de assistência por comparação ao ano transato.
Para o próximo ano, devido às obras de restauro da Basílica do Palácio de Mafra, não serão realizados concertos a 6 órgãos. Será dada prioridade à realização de dois ciclos de música de câmara: “Sob o signo de Maria Bárbara de Bragança” e “Música na Biblioteca”: a primeira pondo em evidência a música da corte de D. João V e da corte espanhola de Filipe V e Fernando VI, essencialmente concentrada em peças e autores que marcaram a cultura musical da primeira metade do século XVIII; a segunda, pretende dar nova audição a peças escritas para Mafra, maioritariamente destinadas a serem interpretadas na Basílica, mas também outras que marcaram a cultura musical portuguesa nos séculos XVIII e XIX, cujos autores estão representados no arquivo da biblioteca.
Também em 2025 será iniciado o processo de organização do Congresso Mundial de Carrilhão, que ocorrerá no Palácio de Mafra em 2026, e que permitirá o encontro dos principais músicos e organizações ligadas a este tipo de instrumento.
O fundo musical do Palácio de Mafra está a ser registado e estudado por equipas académicas, nomeadamente com a CESEM-Universidade Nova, que iniciou o processo de registo dos livros estampilhados, e com a ESTGAD – Instituto Politécnico de Leiria, para o estudo dos grafemas que compõem a maior coleção mundial de estampilhas (stencils) de notação musical.
Num panorama internacional, também alguns investigadores têm-se debruçado sobre as coleções da Biblioteca, não apenas no fundo de partituras manuscritas, que conta com vários milhares de páginas notadas, tal como nos livros estampilhados, que também rondam as 3 centenas, e ainda nos livros impressos.
Neste ano de 2024 há a destacar a aquisição de uma partitura manuscrita da autoria de Marcos Portugal, uma “Missa Grande” destinada a ser interpretada nos órgãos da Basílica de Mafra.
A música é indissociável do Palácio de Mafra nas suas vivências históricas, mas, também, no nosso dia a dia. A música está presente nas cerimónias religiosas da Basílica e na apropriação cultural que dela fazemos hoje, em inúmeros concertos.
Os instrumentos históricos que caracterizam este monumento, são ativos próprios e distintivos relativamente a outros monumentos e museus, portugueses ou estrangeiros, contribuindo para potenciar a música como fator de desenvolvimento cultural e de investigação.
No próximo dia 6 de outubro, ainda comemorando o dia Mundial da Música, será realizado o último concerto do XII Ciclo de Concertos a 6 órgãos na Basílica do Palácio de Mafra, prevendo-se que este espaço venha a estar encerrado para obras de restauro no decurso de 2025 e, ainda, em parte de 2026.