Opinião Política | Roberto Martins [PS] – Governabilidade ou Pântano

ROBERTO MARTINS

Opinião Política | Roberto Martins [PS] – Governabilidade ou Pântano

 

As eleições do passado domingo, nos Açores, deram uma clara vitória à Aliança Democrática. Parabéns aos vencedores que, com quarenta e dois por cento, e vinte e seis deputados eleitos, ficaram perto da maioria absoluta. Uma vitória é sempre digna de ser parabenizada, mas agora, convém analisar os números.

Com vinte e seis deputados eleitos, a AD não tem maioria absoluta, vendo-se obrigada a procurar apoios e a fazer acordos que garantam a governabilidade dos Açores.

Em segundo lugar, com cerca de trinta e seis por cento, e vinte um deputados, o Partido Socialista vê-se no papel de oposição, algo que também é essencial à democracia, e que ninguém envergonha. No entanto, há que assumir a derrota, a primeira nos Açores desde 1996, com humildade, e mostrar aos Açoreanos, que mesmo na oposição, o PS é um partido de responsabilidade, e não uma mera força de bloqueio ou de protesto.

Com quem contará agora a AD, para governar os Açores? Procurará apoios nas forças políticas mais tradicionais, ou irá repetir a fórmula que garantiu ao PSD a maioria, em 2020, com o apoio do Chega e da Iniciativa Liberal?

Desta vez, as duas únicas alternativas que a AD tem são procurar entendimentos com o PS, ou com o Chega, que, entretanto, já se mostrou indisponível para governar com o CDS e o PPM. Considerando que CDS e PPM são parte integrante da AD, não vejo como tal acordo à direita possa ser alcançado.

Neste sentido, o PS apresenta-se, apesar de derrotado, como única solução de governabilidade, forçando a AD a negociar e, obviamente, a ter de ceder em aspetos chave da governação, caso queira levar a sua legislatura até ao fim.

Na República, as eleições de março também se configuram difíceis no seu prognóstico, e as diferentes sondagens, embora as haja para todos os gostos, mostram isso claramente. Partido Socialista e Aliança Democrática aproximam-se de um empate técnico e apenas forças mais à direita se mostram em condições de crescer significativamente.

É também por esta razão que o voto no PS se apresenta como a melhor solução para a governabilidade do país, pois é aquele que, caso vença sem maioria, mais facilmente encontrará apoios e acordos, à sua esquerda e ao centro, que possam viabilizar um governo. Já a AD, caso vença sem maioria, e a fazer fé nas palavras dos seus líderes, terá de fazer como nos Açores, e procurar o apoio do PS, se não se quiser entregar a forças políticas mais à sua direita. Sobretudo se o Chega adotar a mesma postura, de se recusar a governar com CDS e PPM.

Feitas as contas, dois cenários se configuram prováveis, para março. Um, apresenta-nos um cenário de governabilidade, com ou sem maioria absoluta, que é a vitória do PS. O segundo, pode-nos deixar num pântano político de ingovernabilidade, ou pior, da necessidade de repetir eleições, dentro do prazo legal.

Apenas o PS se apresenta como solução de governo estável, seja através de uma vitória com maioria absoluta, repetindo os resultados das últimas eleições, ou seja, mesmo com uma maioria relativa, pois é o único partido, do arco da governabilidade, que reúne condições para poder negociar à sua esquerda, e à sua direita.

Outro resultado que não seja a vitória do PS, poderá lançar a República no pântano que agora ameaça os Açores.

 

Roberto Martins

06/FEV/2024

As opiniões expressas neste artigo são da responsabilidade exclusiva do autor

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