Saúde Mental e Ocupacional | Fernando Nunes
A Música e a Saúde Mental
A música é uma das mais antigas manifestações do ser humano.
Seja sob a forma de palmas, de percussão em instrumentos como tambores ou outros, seja sob a forma de canto, desde tempos pré-históricos que o bicho homem (e mulher) utiliza o som como meio de obter prazer, de manifestar sentimentos, de proporcionar calma e paz.
A imagem da pessoa que canta no banho pode ser caricata. Não se lembra da letra, canta a plenos pulmões, diz lá-lá-lá, desafina… Não está a cantar para uma plateia, está a cantar para si própria e está a divertir-se. Seguramente essa pessoa está a caminho de um dia bem-humorado, confiante, tolerante consigo e com os outros.
É sobejamente conhecido o efeito da canção de embalar sobre os bébés. Não importa muito a letra, a métrica ou a afinação. Importa o tom, o carinho e o afago transmitidos pela canção. E a verdade é que o bébé se acalma, brinca com a mãe que canta, acaba por adormecer. É uma forma de mãe e bébé se ligarem emocionalmente!
Noutra perspetiva, utilizamos a música para celebrar qualquer ocasião festiva. Assim, a música de baile tende a ser alegre, com ritmo rápido e, antes de darmos por isso, estamos a bater o ritmo com o pé no chão, a convidar – ou a ser convidados – por alguém para dançar, em suma, estamos a divertir-nos e a interagir com os outros. Estamos a estabelecer relações sociais!
Também, quando necessitamos um tempo para refletir, para descansar do ritmo frenético do dia-a-dia, para repousarmos das pressões laborais e familiares, podemos usar a música. Aqui uma música mais calma, mais relaxante pode ser o pretexto para retirarmos do nosso atarefado tempo algum tempo de qualidade e descanso para nosso usufruto. Podemos fechar os olhos e, sentados ou deitados, imaginar o que quer que seja que a música nos faça sentir nesse momento!
Não é só falar por falar. Está cientificamente comprovado, através de estudos clínicos e da utilização de equipamentos de diagnóstico de última geração, que a música promove uma alteração benéfica do nosso sistema nervoso central nomeadamente pela estimulação de determinadas áreas do cérebro e através da libertação de substâncias denominadas neurotransmissores (endorfinas, serotonina, dopamina, entre outras).
Ora, estas substâncias são precisamente aquelas que produzem a sensação de “bem-estar”. Logo, não é de todo irrazoável concluir que ouvir música, fazer música, cantar, só pode fazer bem. Não importa a mestria com que se faz, não importa se o resultado é digno de passar nas rádios, importa o que se traduz em ganhos de saúde pessoal, o bem-estar associado, o dissipar da ansiedade ou do stress que por vezes sentimos, o possibilitar uma bem necessitada pausa de todas as demandas a que somos obrigados.
A música é também, como já referido anteriormente, uma boa estratégia para promover os relacionamentos interpessoais, a interação social, já que o ser humano é, de forma inequívoca, um animal não só racional mas também relacional. Se não estamos em contato com outros não nos podemos sentir completos. A figura estereotipada do eremita da montanha (a solidão, o isolamento social) não é a norma mas sim a exceção. E, pensando bem, esse eremita é sempre uma pessoa zangada, amargurada, sozinha. Pudera…
Não é de estranhar, portanto, que a música tenha um papel fundamental na higiene mental de qualquer pessoa.
A sensação de bem-estar que produz não é de desprezar. Pelo contrário, sempre que a pressão diária, sempre que um momento de desesperança, sempre que a sensação de incompreensão nos invada, podemos recorrer a uma melodia que apreciemos ou que nos transmita a mensagem que necessitamos ouvir naquele momento!
Fernando Nunes, enfermeiro