Para assinalar o Dia Europeu dos Jardins Históricos, que hoje se comemora, (re)visitamos o Jardim do Cerco e a sua história.
Situado entre o Palácio de Mafra e a Tapada de Mafra, o Jardim do Cerco é um espaço de oito hectares com um traçado tipicamente barroco, constituído por bosque e jardins.
De livre acesso a quem o queira visitar, com as suas ruas, os jardins, o bosque com muitos recantos e sombras, a horta dos frades, as aves, para além da nora e do tanque, para onde ainda hoje confluem as águas da Tapada. O jardim dispõe ainda de um parque infantil e de uma área de merendas.
Criado por D. João V em 1718 e ao que parece, inspirado em Versalhes. De notar a geometria da disposição das ruas da zona do bosque, ruas que estão em simetria com o edifício do Palácio. Numa primeira fase foi criada a zona da mata, a nora, o poço, o tanque e o recinto do jogo da bola, os jardins foram criados numa 2.ª fase.
O Jardim começou por ser a cerca conventual, estando à disposição dos frades, que residiam no convento de Mafra, aí se criando coelhos em abundância, por volta de 1730.
“Nesta cerca está separada uma grande horta, de que se serve o Convento; tem cinco tanques de água, sendo um de trezentos palmos de comprido e setenta de largo; tem pomares de laranja e fruta com ruas de latadas de parreiras e grandes tabuleiros de horta que produzem toda a casta de hortaliça de que se prove o Convento, trabalhando nela efectivamente doze hortelões a quem governa um Religioso”. Frei João de S. José do Prado
“Tem o Convento uma grande cerca murada que se compõe de várias árvores silvestres e frutíferas, divididas em muitas e espaçosas ruas vestidas de buxos. Nela se veem poço de nora com um grande e engraçado tanque rotundo feito de modo de bacia com duzentos e quarenta palmos de circunferência. Tem um jogo de bola de duzentos e vinte e seis palmos de comprido e quarenta de largo, com assentos à roda, de pedra, e varandas com grades de ferro. Nesta mesma cerca há um jardim que tem de comprimento duzentos e cinquenta e seis palmos, cento e cinquenta e três de largo: tem vinte e seis figuras e duas carrancas nas bacias das cascatas (…)” Saavedra, in Estado de Portugal en el año de 1800, in Memorial Historico Espanol, 1893.
Em 1834, com a extinção das ordens religiosas, passou a pertencer à Casa Real, que detinha igualmente o Palácio e Tapada. Com a instauração da República, entre 1910 e 1924, abre as suas portas ao público sob administração do Palácio Nacional de Mafra e mais tarde foi cedido à Escola Prática de Infantaria. Em 1935 o Jardim encontra-se ao abandono, mas 10 anos depois, em 1945 reabre renovado, restaurado e florido.
[Imagens do arquivo do Jornal de Mafra]