O corte caraterístico, sob a forma de cubo ou de semiesfera, a que todos os anos são sujeitas as copas das árvores plantadas em ambos os passeios da Rua 1º de maio, em Mafra, tem uma razão de ser. Essa razão funda-se no facto de os passeios serem estreitos, e de grande parte dos prédios da rua terem varandas; assim sendo, na primavera, as pernadas superiores e as ramagens têm de ser podadas e as copas arredondadas ou desbastadas do lado dos prédios, para que os moradores possam usar as janelas ou usufruir minimamente das suas varandas.
As imagens mostram a proximidade algumas volumosas copas, às janelas e às varandas de alguns prédios, situação que, mesmo depois do desbaste a que são anualmente sujeitas, há de causar a alguns moradores, alguma falta de luz, alguma claustrofobia, alguma dificuldade em usufruir das varandas e das janelas e muitas vezes, mesmo, alguma dificuldade de ver o que se passa na rua. Em alguns casos haverá mesmo preocupações de segurança, sobretudo naqueles casos em que os moradores são mais idosos.
Surgiu ontem nas redes sociais um “movimento” de pessoas a protestarem por, alegadamente, a câmara municipal de Mafra se preparar “para cortar todas as árvores da av 1 de maio“, a mando da vereadora Lúcia Bonifácio, como nos referia ontem um nosso leitor, indignado, adiantando que “o motivo aparente é que incomoda os inclinos dos 1°s andares e ou que as folhas fazem muito lixo“, rematando, insurgindo-se contra aquilo que classifica como um “crime ambiental”.
Nunca poderia estar em causa, e nunca esteve seguramente em causa, uma decisão da autarquia no sentido de cortar, simplesmente, todas as árvores da Av. 1º de maio. Isso sim, seria um crime ambiental, um ato presumivelmente gerador de muitos e prolongados protestos, ou seja, de tudo aquilo, de que todos os políticos fogem, como o diabo da cruz.
Parece natural que a câmara de Mafra encare a possibilidade de cortar as árvores – e só essas – que, como se lê igualmente nas redes sociais, tapam as janelas e as varandas, criando situações de mal estar aos moradores: “a minha mãe tem 91 anos quase não sai do quarto tem uma árvore que tapa toda a janela isto na rua primeiro de maio em Mafra, agora eu gostava de ver uma situação destas à sua janela, um quarto escuro sem sol se a casa fosse minha já a tinha cortado rente“; respondendo depois alguém, também na rede social, com um simples, frio e inacreditável “Mude-se!”.
Entretanto está já a correr uma petição em defesa das árvores da Av. 1º de maio, em Mafra, petição que já congrega 154 pessoas e a situação originou também uma intervenção à câmara por parte dos vereadores da oposição.
Ao que o Jornal de Mafra apurou, em meados do ano passado, a câmara recebeu um abaixo-assinado promovido por grupo de 42 pessoas denominado “MCM 19 – Movimento de Cidadãos de Mafra”. Solicitava-se que todas as árvores da Av. 1.º de Maio fossem substituídas por plantas de menor envergadura, cujas raízes não levantassem os passeios e não interferissem com a estabilidade das caves dos prédios, nem encobrissem janelas e varandas. Os signatários estavam também preocupados com o facto de as árvores encobrirem a publicidade comercial presente na rua, causando prejuízo aos empresários com espaços abertos naquela via. Haveria ainda uma situação referida como sendo de “elevado risco”, relacionada com a existência uma conduta de gás natural, que correria sob as árvores, entre os números 8 a 26 da 1.º de Maio.
Este grupo de cidadãos informou a câmara de que tinham contactado todos os moradores da rua e todos os proprietários da 1º de maio e que todos apoiavam a solução que o grupo defendia.
A câmara de Mafra decidiu então que iria proceder à remoção de 26 árvores das 92 que existem na área, substituindo estas árvores por laranjeiras.
Finalmente, a câmara de Mafra diz-se surpreendida com a celeuma nas redes sociais, tendo determinado a suspensão do processo de abate, que se devia iniciar já a 11 de maio. A câmara reavaliará agora a situação, após o que tomara uma decisão fundamentada.
Não será possível através do diálogo (uma característica da inteligência e da humanidade que a todos nos devia congregar) congregar as vontades e os interesses de todos os cidadãos e de todas as entidades que estão envolvidas neste caso? Dar luz, espaço e segurança a quem vive nas suas casas e não pode vir á janela ou utilizar a varanda e, simultaneamente, manter as outras dezenas de árvores que se estendem por ambos os estreitos mas compridos passeios da 1º de maio será assim tão difícil?
Ó pá deitem abaixo essas árvores, e ponham umas palmeiras de plástico, que os mafarricos gostam