Visitámos hoje o cenário do incêndio que deflagrou ontem na região de Santo Isidoro. Concentrámo-nos sobretudo em torno da região de Marvão.
A paisagem negra, certamente também ela de luto, dificilmente poderia proporcionar aos nossos olhos momentos de maior tristeza e desolação.
Vimos terrenos enegrecidos em grandes extensões, árvores ainda de pé, que foram profundamente lambidas pelas chamas, vimos animais mortos, vimos casas ardidas completamente isoladas, é certo que sobretudo com o aspecto de estarem já abandonadas antes das chamas passarem por elas ou de servirem de apoio à actividade agrícola e vimos fumarolas a sair do chão, como se estivéssemos numa paisagem vulcânica.
Vimos ainda alguns veículos dos bombeiros que percorriam estradas e veredas, procurando fazer o rescaldo e evitar reacendimentos.
Mas vimos mais. Vimos casebres isolados no meio do mato, vimos zonas onde se acumulavam lixos, sanitários rachados, desperdícios resultantes de actividades de construção civil, vimos estradas sem condições de circulação mas que servem a componente rural do concelho.
Vimos sobretudo muito mato em torno de muitas residências, muito mato em redor de estradas e de veredas interiores. Vimos habitações e anexos que pelo seu aspecto e falta de condições, não podemos crer que estejam licenciadas, vimos barracões em madeira rodeados de material combustível, vimos uma paisagem desordenada, vimos aquela parte do concelho que se esconde atrás da pompa e da circunstância, atrás da primeira linha das estradas e das ruas, do fogo de artifício e da festa quase permanente.
Os bombeiros, sempre sujeitos a condições de trabalho no limite do suportável, acabam por ser, juntamente com as populações afectadas, as verdadeiras vítimas deste estado de incúria, de deixa-andar, de olhos fechados das autoridades, de falta de planeamento urbanístico, de ruralidade à antiga portuguesa. Há zonas ordenadas naa áreas que hoje visitámos? Há. Mas essas serão mais dificilmente atingidas por este tipo de calamidades.
O Jornal de Mafra continua a aguardar resposta da Protecção Civil Municipal a um conjunto de questões que lhe colocámos. Para além dessas questões, há muitas outras a necessitar de respostas, Por onde anda a vertente preventiva da protecção civil? O acto urbanístico é sempre acompanhado por procedimentos de segurança? Há uma fiscalização regular e organizada? Quanto foi cobrado no último ano em coimas resultantes da fiscalização? Aerá que as entidades públicas, elas mesmas, limpam todos os terrenos de que são proprietárias.