As Linhas de Torres Vedras, construídas entre 1809 e 1812, são as 1.ª e 2.ª Linhas de Defesa a Norte de Lisboa, durante as Invasões Francesas.
Foram classificadas este ano como “Monumento Nacional” tendo em conta que este “conjunto de obras militares reforça um longo processo de preservação física da memória material e imaterial deste sistema defensivo, reconhecendo, entre outros critérios, o génio do respetivo criador e o interesse como testemunho notável de vivências ou factos históricos.”
As Linhas de Torres, construídas entre 1809 e 1812, tinham como objetivo impedir que o exército invasor atingisse a capital do Reino de Portugal e no caso de derrota, permitir o embarque, em segurança, do Exército Britânico na sua retirada.
“O grande objectivo em Portugal é o domínio de Lisboa e do Tejo, e todas as medidas devem ser dirigidas para esse objectivo. Existe um outro, também relacionado com aquele primeiro objectivo, para o qual deveremos, igualmente, prestar atenção, a saber: o embarque das tropas britânicas, em caso de revés” referiu Arthur Wellesley, quando ordenou a construção das Linhas de Torres.
A 20 de outubro de 1809, Wellington entregou ao Coronel Richard Fletcher, oficial do exército responsável pelos trabalhos de engenharia, o memorando no qual especificava a estrutura das Linhas de Torres Vedras. Este memorando definia não só a estrutura em si, como definia as prioridades de construção, a distribuição das forças, os pontos de sinalização das comunicações, a criação de obstáculos e as linhas de retirada, entre outras.
As três linhas defensivas construídas a norte do Tejo, estendiam-se por mais de 85 km e eram constituídas por um conjunto de 152 fortificações localizadas nos atuais concelhos de Arruda dos Vinhos, Loures, Mafra, Sobral de Monte Agraço, Torres Vedras e Vila Franca de Xira. Estando estas fortificações completamente guarnecidas, utilizariam 600 peças de artilharia, sendo defendidas por cerca de 140 000 homens.
É possível conhecer a ordem da construção desta grande obra de engenharia militar, um dos maiores sistemas defensivos da História e o mais barato da história militar (a construção terá rondado as 100 000 libras), uma vez que as obras iam sendo numeradas à medida que iam sendo construídas.
Este conjunto de três linhas construídas por portugueses e britânicos, estava dividido nos seguintes 8 distritos, cada um com o seu próprio comando militar:
A Primeira Linha, com 46 km, ligava o rio Tejo, em Alhandra, à foz do rio Sizandro, em Torres Vedras, passando por Arruda e Sobral. As grandes obras avançadas do Alqueidão e de S. Vicente tinham por função bloquear as principais vias de acesso à capital portuguesa. Esta linha estava dividida em quatro distritos:
Distrito nº 1 – desde a posição (1) (*) na linha assente sobre o Tejo, que atravessa a planície de Alhandra, até ao Moinho do Céu (11), por cima da estrada da Arruda.
nº homens: 6 280
nº Bocas de fogo de Artilharia: 96
Distrito nº 2 – desde o forte do Passo (12), na escarpa rochosa por cima da estrada da Arruda, até ao forte avançado, à direita da estrada que segue para o Sobral (152).
nº homens: 3 090
nº Bocas de fogo de Artilharia: 55
Distrito nº 3 – desde o reduto para artilharia de campanha (151) na Patameira até ao reduto sul (29), perto de Enxara do Bispo.
nº homens: 1 900
nº Bocas de fogo de Artilharia: 24
Distrito nº 4 – desde o Forte Novo da Ordasqueira (149), por cima de Matacães, para defender a estrada de Runa, até à posição (113) na foz do Sizandro.
nº homens: 7 413
nº Bocas de fogo de Artilharia: 144
A Segunda Linha, situada a 13 km a sul da anterior, com 40 km, ia de Vialonga até Ribamar, passando por Bucelas e Mafra. A 2ª linha dividia-se em três Distritos:
Distrito nº 5 – desde o reduto do Salgado (33), na margem do Tejo, à direita da posição de Vialonga, até ao reduto (19) na Serra da Ajuda.
nº homens: 3 502
nº Bocas de fogo de Artilharia: 72
Distrito nº 6 – desde a plataforma para artilharia, à direita (49), no desfiladeiro do Freixial, até ao reduto (73), na estrada de Mafra, Casal do Conto.
nº homens: 5 640
nº Bocas de fogo de Artilharia: 73
Distrito nº 7 – desde Casal da Pedra (74), no desfiladeiro de Mafra, até ao reduto de S. Julião (97), junto à costa atlântica, a sul da Ericeira.
nº homens: 6 300
nº Bocas de fogo de Artilharia: 70
Por sua vez, a Terceira Linha era constituída por um único distrito, o Distrito de Oeiras, e contava com um perímetro de 3 Km. Protegia o embarque das tropas britânicas, em caso de retirada. Seguia o percurso de Paço de Arcos às Torres da Junqueira.
Distrito nº 8 – desde a fortificação principal conhecida como “Alto Algueirão” (98), onde se encontra o actual quartel-general da NATO, até à posição (110), na linha que se estende para a direita do Forte das Maias.
nº homens: 5 350
nº Bocas de fogo de Artilharia: 94
Além das construções, foi por também implantado um sistema de comunicações, uma rede telegráfica visual, que garantiu a segurança na transmissão de ordens. Esta rede telegráfica visual, utilizava o sistema português criado por Francisco Ciera e códigos visuais usados pela Royal Navy adaptados pelo telégrafo inglês. Estafetas, mensageiros e guias completavam o sistema de comunicações.
Em julho de 1810, na terceira invasão francesa, o marechal André Massena, depois da derrota na batalha do Buçaco reorganizou as suas tropas e rumou até Lisboa. Wellesley antecipando-se ao invasor, fez recuar o exército aliado para as defesas da capital, para as Linhas de Torres Vedras.
Massena, enfrentando este obstáculo intransponível, iniciou a sua retirada de Portugal, em março de 1811.
(*) Os algarismos colocados entre parênteses indicam o número atribuído à obra.