No próximo dia 16 de Fevereiro os sócios da Associação que suporta a Filarmónica Cultural Ericeira vão a votos para eleger uma nova direcção.
Estas eleições resultam, não da normal rotatividade que os estatutos consignam, mas sim do facto de terem surgido problemas graves durante este mandato, uma vez que a direcção que agora irá ser substituída foi eleita em Setembro do ano passado, não tendo pois completado o seu mandato de 2 anos, considerados nos estatutos da associação.
Em Outubro do ano passado assiste-se à primeira demissão. No mês seguinte, surgem dúvidas relacionadas com a boa ordem das contas da associação, dúvidas suscitadas pela análise de extractos e movimentos da conta bancária. A partir daqui, sem que a situação fosse esclarecida, realizou-se uma nova assembleia geral, que nada resolveu, assistindo-se então a mais duas demissões. A direcção é então refeita, passando de 9 para 6 elementos.
Desta situação, para além da natural instabilidade, terão já resultado algumas demissões e dois concertos cancelados, havendo actualmente alguns alunos e músicos na eminência de abandonar a orquestra, sendo que terá já havido alguns abandonos anteriores e, alegadamente, algumas expulsões.
A existência de um empréstimo – destinado a pagar fardas novas – contraído junto da Caixa Agrícola de Mafra terá vindo a complicar ainda mais este estado de coisas.
No final de 2017, o relatório e contas terá revelado despesas não “documentadas e não justificadas”, na ordem dos 591€, sendo que o saldo da conta receita/despesa, se terá mostrado negativo.
Um dos elementos da direcção – que decidiu entretanto apresentar uma lista às eleições do próximo 16 de Fevereiro – apresentou então uma proposta de saneamento financeiro que passaria por um corte nas despesas com pessoal. Deste corte, faria parte a redução do salário do maestro – que também é vice-presidente da actual direcção – de 670€ para 500€. Esta proposta não terá sido considerada pela direcção, não tendo chegando, sequer, a ser votada na assembleia.
O Jornal de Mafra contactou os candidatos à presidência, das duas listas concorrentes.
O actual presidente, confirmou a dificuldades financeiras, de referir que em função destas, terá mesmo avançado com fundos pessoais, para que fosse possível pagar salários. Revelou ainda que com a saída do anterior elemento da direcção encarregue das finanças, o próprio cartão de multibanco da associação terá sido anulado e o livro de cheques não terá ficado à disposição da direcção, algo que terá criado graves dificuldades nos pagamentos, nomeadamente, no pagamento de salários. Confirmou entretanto a existência de despesas não documentadas, na ordem dos 591 €, tendo revelado que se tratará de um conjunto de pequenas despesas correntes que, por descuido, não terão sido documentadas. O Jornal de Mafra apurou, entretanto, que se tratará de despesas de combustível e despesas de hipermercado, não havendo, no entanto, ao que parece, quaisquer suspeitas de apropriação indevida de verbas.
Perguntámos a Carlos Barroca, actual presidente e recandidato nestas eleições, que razões estariam na base das criticas que são feitas à actual direcção, do abandono de músicos e do clima que se vive na instituição, tendo o actual presidente apontado para razões relacionadas com “sede de poder”.
O actual director encarregue das Relações Públicas e músico, João Ganhoteiro Silva, candidato pela outra lista à presidência da direcção da Filarmónica Cultural Ericeira, reafirmou a existência de despesas não documentadas, a saída paulatina de músicos e alunos, a falta de diálogo e de circulação da informação dentro da direcção. Sendo os problemas financeiros prementes, mostrou-se surpreso por não se procurar receber as quotas em falta, qualquer coisa em torno dos 6 000 euros anuais, e revelou-se surpreso e desagradado pelo facto, cujas razões diz não entender, de a Associação que suporta a Filarmónica Cultural Ericeira nunca ter aberto a actividade nas finanças, algo que, segundo afirmou, não permite o acesso da associação a determinadas formas de financiamento. Este candidato mostrou ainda algumas reservas quanto à continuidade da associação, a médio prazo, caso não se altere o estilo de gestão “de vão de escada”, a que a instituição terá sido sujeita.
Este estado de coisas, com reflexos na saúde financeira da Associação – com cerca de 400 sócios – que suporta a Filarmónica Cultural da Ericeira, passando pela saída de associados e de músicos, levou então à convocação das eleições que terão lugar a 16 de Fevereiro.
Primeiro foram os problemas surgidos na Orquestra Sinfónica de Jovens da Junta de Freguesia de Santo Isidoro, agora, esta situação muito delicada da Filarmónica Cultural Ericeira, ao que parece, o panorama musical do concelho está em crise, como em crise estão (em todo o país e aqui também) as ditas associações não lucrativas, as quais já demonstraram que, ou são mesmo muito lucrativas, ou então, não passam de grupos de gente bem intencionada que seja, mas com critérios de gestão mais do que amadores,.