Na noite de 3 para 4 de outubro 1910 diversas unidades militares insurgem-se contra a monarquia. A 5 de Outubro de 1910, o regime monárquico deu lugar em Portugal a uma nova era, nesse dia, a República foi implantada no país, nascendo então a República Portuguesa.
No dia 4 de outubro, pelas 9 horas, o presidente do Conselho informa o rei D. Manuel II que este deveria procurar refúgio em Mafra ou em Sintra, visto que ameaçavam bombardear o Paço das Necessidades. O rei recusou-se a partir, dizendo aos presentes: “Vão vocês se quiserem, eu fico. Desde que a constituição não me marca outro papel senão o de me deixar matar, cumpri-lo-ei”.
Por volta do meio-dia iniciam-se os bombardeamentos ao Paço das Necessidades, refugiando-se o Rei numa pequena casa do parque do palácio. Dado que as tropas disponíveis não eram suficientes para cercar os revoltosos, o ministro aconselhou mais uma vez o rei a retirar-se para Sintra ou para Mafra.
Pelas 2 horas da tarde, D. Manuel II e os seus assessores partem rumo a Mafra, onde chegam sem problemas cerca das 4 horas da tarde.
D. Manuel II passou a sua última noite em Portugal no quarto do Torreão Sul do Palácio Nacional de Mafra, e na manhã de 5 de outubro de 1910 era do paço real de Mafra que procurava uma forma de chegar ao Porto.
Por volta do meio-dia, o novo governador civil pede ao presidente da Câmara municipal de Mafra para hastear a bandeira republicana, sendo que ao quartel de Mafra já tinham também chegado ordens que davam conta da iminente queda da monarquia.
A agitação aumentava no palácio, complicando a posição da família real. A solução encontrada passou então por alcançar a Ericeira, o ancoradouro mais próximo onde o iate real “Amélia” fundeara.
A família real e alguns acompanhantes dirigem-se então para a Ericeira, onde chegaram cerca das 3 horas da tarde.
“(…) os automóveis pararam e apeou-se a Família Real, seguindo da rua do Norte para a rua de Baixo, pela estreita travessa que liga as duas ruas, em frente quase da travessa da Estrela (…) Ao entrar na rua de Baixo, a Família Real ia na seguinte ordem: na frente El-Rei Dom Manuel; a seguir, Dona Maria Pia, depois, Dona Amélia (…) El-Rei e quem os acompanhava subiram para a barca, valendo-se de caixotes e cestos de peixe (…) O sinaleiro fez sinal com o chapéu, e a primeira barca, Bomfim, levando a bandeira azul e branca na popa, entrou na água e seguiu a remos, conduzindo El-Rei (…) A afluência nas ribas era imensa. Tudo silencioso, mas de muitos olhos corriam lágrimas (…) El-Rei ia muito pálido, Dona Amélia com ânimo, Dona Maria Pia, acabrunhada (…)” Relatado de Júlio Ivo, presidente da câmara municipal de Mafra
Na Praia dos Pescadores, perante os olhares dos populares, a família real embarcou para o exílio na Barca Bomfim, que os transportou até ao iate D. Amélia.
O embarque no iate real faz-se recorrendo a dois barcos de pesca.
“Meu caro Teixeira de Sousa, forçado pelas circunstâncias vejo-me obrigado a embarcar no yacht real “Amélia”. Sou português e sê-lo-ei sempre. Tenho a convicção de ter sempre cumprido o meu dever de Rei em todas as circunstâncias e de ter posto o meu coração e a minha vida ao serviço do meu País. Espero que ele, convicto dos meus direitos e da minha dedicação, o saberá reconhecer! Viva Portugal! Dê a esta carta a publicidade que puder”, podia ler-se na carta que D. Manuel II enviou ao seu primeiro-ministro.
O destino escolhido pelo Rei passou pelo Porto. Reunido o rei com os oficiais, com o comandante João Agnelo Velez Caldeira Castelo Branco e com o imediato João Jorge Moreira de Sá, os oficiais opuseram-se à ida para o Porto, alegando que “se o Porto não os recebesse o navio dificilmente teria combustível para chegar a outro ancoradouro”, mas o rei insistia.
João Jorge Moreira de Sá chamou então o rei a razão, ao lembrar-lhe que “levavam a bordo toda a família real, pelo que era o seu primeiro dever salvar essas vidas”.
Mudou-se o destino, tendo rumado a Gibraltar, um promontório e território ultramarino britânico que se localiza na costa sul de Espanha, onde a família real permaneceu até meados de outubro desse ano.
Nessa altura, a Rainha regressou a Itália e o Rei, com a sua comitiva, seguiu para Inglaterra no navio britânico Victoria and Albert.
D Manuel II não mais voltaria a Portugal, tendo fixado residência no Reino Unido.
Embora o país viesse ainda a assistir a algumas tentativas de restauração monárquica em 1911, 1912 e 1919, a República acabaria por sair vitoriosa.
O rei morreria em Inglaterra, em 1932, tendo os seus restos mortais sido transportados para Portugal depois da autorização de Salazar, encontrando-se sepultado no Panteão Real da Dinastia de Bragança, no Mosteiro de São Vicente de Fora em Lisboa.