Entrevista | Mário de Sousa – Presidente da comissão política do CDS-PP Mafra
Jornal de Mafra – Reeleito para a presidência da concelhia de Mafra do CDS-PP, qual é o seu programa para este mandato?
Mário de Sousa – Esta comissão política é um pouco diferente da anterior. Mantém um núcleo duro, mas há caras novas, que têm a ver com os dois anos que temos de preparação para as eleições autárquicas. As próximas autárquicas têm para nós uma dificuldade acrescida, que consiste no facto de não termos atualmente qualquer eleito nem em Juntas de Freguesia, nem na Assembleia Municipal. Assim, a formação desta comissão política assenta no grupo de pessoas que terá a tarefa de organizar as próximas autárquicas. Temos por objetivo reestabelecer boas relações com o nosso eleitorado, que de algum modo se afastou do partido, cremos nós, que não só por razões relacionadas com a política nacional, mas também por se terem sentido, de algum modo, menos representados pelo CDS.
JM – Como é que avalia os resultados do CDS-PP nas legislativas?
M.S. – Não me é fácil falar daquilo que aconteceu a nível nacional. O partido tem um congresso marcado, e surgem todos os dias declarações, mas aquilo que vou dizer, obriga-me apenas a mim. Os resultados eleitorais do CDS eram resultados esperados, nem piores, nem melhores do que aquilo que eu estava à espera. De resto, na comissão política concelhia, eu chamei várias vezes a atenção para a possibilidade de isto vir a acontecer. A nossa representação na Assembleia da República era a representação negociada entre Paulo Portas e o PSD, antes de as “esquerdas encostadas”, como dizia Assunção Cristas, formarem governo. Aquele número de deputados não era o nosso, se tivéssemos ido sozinhos a votos, não teríamos aquela representação. Aquela representação parlamentar foi um grande legado que Paulo Portas deixou ao partido, e eu não sou da linha “Portista”. Foi um ativo extraordinário, que o partido não soube aproveitar. porque se deixou enredar numa política errática em que se quis agarrar as bandeiras todas, transformando a sua atuação política, quase numa perseguição ao atual primeiro ministro, e nada disso resultou bem. Na verdade, o CDS voltou à expressão que tinha antes de se coligar com o PSD. Não posso deixar de dizer, no entanto, que Assunção Cristas fez uma extraordinária campanha eleitoral. Foi interventiva e foi assertiva, o primeiro debate em que António Costa foi travado, foi o debate que fez com ela, e fez também um debate extraordinário com Catarina Martins, e isto, já sabendo que ia perder, isso foi extraordinário da parte dela. De uma grande dignidade da sua parte, foi também o facto de ter abandonado a liderança depois daqueles resultados eleitorais.
JM – E os resultados do CDS nas legislativas, no concelho de Mafra?
M.S. – A nível local estou muito contente com o trabalho que aqui fizemos, estou muito contente com a comissão política que trabalhou comigo, foi um trabalho ótimo, já que duplicámos a votação, e meia dúzia de meses depois, tivemos a mesma votação, o que significa que o trabalho que fizemos foi eficaz. É certo que legislativas e autárquicas são eleições diferentes, mas na verdade, tivemos um excelente resultado, de resto, parece-me que iremos manter expressão eleitoral. No concelho, há diversos fatores que têm contribuído para manter aqui o PSD em estado de graça, mas esses fatores não serão já passíveis de se manter.
“Chotaria […] uma localidade com meia dúzia de pessoas, onde se podem observar fossas a despejar a céu aberto e se nós sabemos, toda a gente sabe”
JM – Quais são, na sua perspetiva, os principais problemas do concelho?
M.S. – Há um problema de que não se fala, mas que pode vir a causar grandes dificuldades. Refiro-me à desertificação do concelho fora do eixo Venda do Pinheiro/Malveira-Mafra-Ericeira, o verdadeiro eixo de desenvolvimento do concelho de Mafra. Assim que se sai deste eixo, o concelho não tem transportes, não tem comunicações decentes, não tem saúde ou escolas. Há mesmo locais no concelho onde a Mafrense não vai porque a estrada não é segura, obrigando as pessoas a fazer mais de um quilómetro a pé, para vir apanhar o autocarro. E estamos no século XXI, num concelho da Área Metropolitana de Lisboa que tem um elevado índice de qualidade de vida, que tem a população mais nova do país, que tem tantos “tens“, que não caberiam todos nesta entrevista. É necessário contrariar a desertificação do concelho fora deste eixo, convidava-o mesmo a visitar a zona da Abrunheira, na hora em que as vacas vêm beber à estrada, vendo-se então uma senhora muito velha, com muito mau aspeto, com uma serapilheira na cabeça, com um pau na mão, e 3 vacas a beberem água ocupando metade da estrada, e a senhora a fazer sinais para que avançássemos com o carro. Situações de grande indigência, que levam a perguntar-me porque é que isto existe? Porque é que isto é assim? Como é que esta gente vive? Mas se for direito à Asseiceira Pequena e continuar a estrada, de repente, pergunta-se, mas onde é que eu estou? Não há estradas iluminadas, e depois querem que as pessoas habitem esses locais? Locais onde não há saneamento básico. Há tempos, respondendo a um convite para que lá fossemos ver como as coisas eram, fomos à Chotaria, passámos Montemuro, que é onde se fazem os queijos frescos mais famosos da região, numa estrada cheia de curvas, com raízes de árvores a rasgarem a estrada e lá chegámos à Chotaria, uma localidade com meia dúzia de pessoas, onde se podem observar fossas a despejar a céu aberto. E se nós sabemos, toda a gente sabe, de resto basta ir ao Google e ver as manchas castanhas que a terra mostra, devido à toda a porcaria que aí é despejada.
“Já se põe a hipótese de comprar o Colégio de Sto. André, o que seria compra-lo duas vezes, uma vez que já é subsidiado”
As escolas estão quase todas acantonadas no mesmo eixo e quase todas estão sobrelotadas, estamos com falta de escolas secundárias, acantonando-se os alunos em escolas básicas. Já se põe a hipótese de comprar o Colégio de Sto. André, o que seria compra-lo duas vezes, uma vez que já é subsidiado. Temos também um problema de transportes, uma vez que fora do eixo que referi, simplesmente, não temos transportes. Por outro lado, temos depois os transportes superlotados, embora quando chamámos a atenção para isso, no “Jornal de Mafra” e em “O Ericeira”, nos tenham caído todos em cima, havendo mesmo quem dissesse que o CDS não gostava do cheiro dentro dos autocarros, e que queríamos ter um lugar vazio ao nosso lado, para levarmos a mala… mas agora todos reconhecem que está mal. Bom, e a câmara tem culpa disto? Claro que não, a câmara poderá é não ter, em devido tempo, pressionado a AML (Área Metropolitana de Lisboa) e a Mafrense, e se o fez, não nos foi dado conhecimento disso. Na realidade, independentemente das culpas, há um problema, e ele tem de ser resolvido, e não será só através do aumento do número de autocarros, uma vez que, depois, no Campo Grande, não há espaço para eles. Outro problema é o trânsito dentro de Mafra, o trânsito na rotunda do Sobreiro, na rotunda da Paz, mais a rotunda torta na entrada de Mafra, junto ao intermodal da Vela, tudo isto gera eternas filas de trânsito na vila, quer de manhã, quer no fim do dia de trabalho, também a Ericeira tem atualmente um problema crónico de estacionamento. Na Ericeira, o facto de o turismo se firmar só no surf, um dia destes, quando no surf começar a “dar” outra zona do país, a Ericeira esvazia-se, e entretanto, as pessoas do concelho desabituaram-se de lá ir, porque não há onde estacionar. O concelho tem ainda problemas de limpeza urbana, até porque, ao que parece, os mafrenses têm um problema grave de pontaria, quando se trata de por o lixo dentro dos contentores ou de se desfazerem dos monos.
“[É positivo] o incentivo dado à música e à organaria, algo que colocou Mafra no mapa do mundo, a este nível […] e tudo o que tem acontecido em torno da elevação do Real Edifício de Mafra a património mundial da UNESCO”
JM – Como é que avalia o desempenho do atual presidente da Câmara de Mafra? O que é que avalia positivamente e o que é que avalia negativamente?
M.S. – Eu preferiria focar-me no executivo e não só no presidente. Ter acabado com a monda química foi algo de positivo, embora, mais tarde ou mais cedo isso tivesse de acontecer, já que foi o que acabou por acontecer no país todo. A monda mecânica tem funcionado muito bem, sendo as ervas logo aspiradas, ficando os espaços bem limpos. Positiva também esta passadeira enorme que liga Mafra à Ericeira, refiro-me à ciclovia. Positivo ainda, tudo o que tem acontecido em torno da elevação do Real Edifício de Mafra a património mundial da UNESCO, e dentro da mesma área, o incentivo dado à música e à organaria, algo que colocou Mafra no mapa do mundo, a este nível. Também as escolas funcionam bem, algumas escolas do concelho são francamente boas. Em termos de segurança, ela já foi excelente, mas atualmente deixa algo a desejar, na verdade sente-se agora alguma insegurança nas zonas mais populosas do concelho. Por outro lado, o principal problema deste executivo é o facto de nós não sabermos o que é que ele quer fazer. O concelho não tem um orçamento participativo e isso acontece, porque este executivo não quer dar louros a ninguém, e por isso, esconde o que vai fazer. Se eu der uma ideia, e ela for boa, a resposta é invariável, ouvimos vindo do lado do executivo “nós já estamos há um ano a tratar disso”, e quando eu me calar, a coisa aparece como se fosse uma ideia do senhor presidente. Por exemplo, relativamente ao parque ecológico – ecológico, quer dizer… quando se mete um terminal rodoviário dentro de um parque ecológico, está tudo dito – da Venda do Pinheiro, num jornal seu concorrente, podia ler-se que, quando a inauguração estava prestes a acontecer, verificou-se um problema numa saída de águas, mas o senhor presidente resolveu-o logo, o senhor presidente é “algo estratosférico”, quando ele aparece, até as águas amansam. Algo de semelhante tinha já ocorrido a propósito dos carrilhões, quando o senhor presidente foi ao “Prós e Contras”, e acertou ao lado, porque as coisas nessa altura já estavam resolvidas, e apareceu no mesmo jornal, na primeira página, a palavra “Carrilhões” com um carimbo enorme onde se lia, “Resolvido”, “o nosso presidente foi ao “Prós e Contras”, meteu aqueles tipos todos na ordem, e pronto, está resolvido”.
“Um dos graves problemas deste executivo é o secretismo, a desmobilização do munícipe, evitando que ele tenha ideias”
Esta forma de idolatrar as pessoas, é terrível, até porque desmotiva a maior parte das pessoas, para dar ideias, porque o sr presidente resolve. Talvez seja por isto, que também não há um orçamento participativo, embora o senhor presidente o tenha prometido em 2018. Um dos graves problemas deste executivo é, pois, o secretismo, a desmobilização do munícipe, evitando que ele tenha ideias. No concelho não há debate político, e não é por acaso, é porque o debate político foi morto. A forma como o presidente da Assembleia Municipal se dirige a alguns deputados, tecendo comentários a aquilo que os deputados dizem com a liberdade que lhes é inerente, é um bom espelho das ideias de quem o lá pôs, e não espelha o respeito por todos os munícipes do concelho, que ele devia representar, e não só pelos munícipes do PSD. A remunicipalização da água é também um engano. Foi uma cenoura na ponta de um pau, “vamos baixar o preço da água e o preço das taxas”. No entanto, remunicipalizada a água, o que é que se diz? Diz-se que a câmara suportou o aumento da água em alta, ou seja, acabou-se a baixa de preços da água. A água não baixou, nem irá baixar. Finalmente, temos o IMI, onde as pessoas também foram enganadas, quando o executivo afirmou ter baixado o IMI, não foi isso que aconteceu, manteve-se a taxa máxima, com a reduçãozinha imposta por lei. O IMI é um verdadeiro banco quando se fala das contas do concelho, é uma forma de extorquir dinheiro ao munícipe, mas como não há debate, também aqui, o munícipe é mantido “a leste”.
“O Bloco de Esquerda fez o pior que se pode fazer ao seu próprio eleitorado, abandonou-o”
JM – E em relação à oposição?
M.S. – As oposições, permita-me um parêntesis, as oposições que não desertaram e tenho que dizer isto, o Bloco de Esquerda fez o pior que se pode fazer ao seu próprio eleitorado, abandonou-o. Na tropa, isso tem um nome, e até é punido. Um partido que faz isto devia ser civicamente punido. A oposição… é aquela fotografia que o Jornal de Mafra publicou, os três tristes tigres.
JM – Refere-se à imagem das individualidades que constituem a administração dos SMAS?
M.S. – Exatamente, foi de algum modo, um “anda para o pé de nós, porque se isto correr mal, a gente apoia-se”. Fala, vai dizendo umas coisas, mas na prática, não consubstancia nada. Sempre que leio algo em relação a essa oposição, a ideia é sempre “nós vamos fazer”, mas depois… Quanto ao resto da oposição, deixam-nos falar, faz parte do jogo. Tudo isto se relaciona-se com a existência de maiorias absolutas, onde, tanto faz que se fale, como não se fale, nunca há consequências políticas. Pode dizer-se que no concelho não existe oposição
“Temos consciência que o partido está muito debilitado e não sabemos ainda qual será a força anímica que resultará do Congresso de Janeiro”
JM – Já começaram a preparar as autárquicas de 2021?
M.S. – Ainda não. Mas como já tive ocasião de dizer, esta nova comissão política vai ter isso como projeto, tendo mesmo sido escolhida, tomando em consideração as próximas eleições autárquicas. Temos consciência que o partido está muito debilitado e não sabemos ainda qual será a força anímica que resultará do Congresso de Janeiro. Acredito que saia de lá uma solução robusta. Um inverno rigoroso, muitas vezes, cura as árvores, o que é para morrer, morre, mas o que fica vivo dá rebentos e com força, e eu quero crer que é isso que irá acontecer ao CDS, até porque já aconteceu isso no passado.
JM – Quem é que o CDS-PP de Mafra apoia para a liderança nacional?
M.S. – Para já, não apoiamos ninguém em concreto. Acredito que haverá neste momento mais portugueses preocupados com o CDS, do que o número de militantes do partido.
JM – O CDS-PP de Mafra vai manter aqui a sua sede?
M.S. – Esta sede não poderá ser nunca fechada ou alienada. Esta sede foi cedida ao CDS. No dia em que o CDS a quisesse alienar, ela reverterá imediatamente para a Santa Casa da Misericórdia de Mafra. Mais ainda, há uns anos, quando o partido mudou o seu nome para CDS-PP, a ideia inicial passava por deixar cair a designação CDS e o partido passar a designar-se, simplesmente PP (Partido Popular). Isso só não aconteceu, porque o partido perderia esta sede para a Santa Casa da Misericórdia de Mafra. A questão dos bens e das finanças dos partidos é muito importante, todos eles têm dívidas brutais aos bancos. O mais deficitário é o PS, são 6 milhões de euros de défice, nem entendo como é que isto pode acontecer. A exceção é o PCP, porque aluga umas casinhas, e quando é preciso mete uns velhinhos na rua, para aumentar as rendas dos outros que vêm a seguir, mas enfim, lá vai fazendo o seu negócio, e na verdade, cada um, na sua casa é rei, e eu respeito isso. Uma das grandes oportunidades que temos agora no CDS é precisamente a que passa por fazermos contas reais e ver qual é a despesa e qual é a receita, sendo que a receita deve ser exclusivamente a que resulta das quotizações e da subvenção do estado, e depois, gerir a casa com isso. Eu não tenho nada de PSD, não gosto de “sacos de gatos”, andam sempre todos à tareia uns com os outros, mas têm agora à frente, um homem que faz contas, e sabe fazer contas. É mal amado? É. Acabou com uns almoços, com uns carros e com umas sedes, não sei se é bom ou mau politicamente, mas não tenho dúvidas de que é um bom gestor. Um partido político, seja ele qual for, tem de ser gerido como a nossa casa, caso contrário, os partidos serão facilmente manipuláveis pelo pior que temos na nossa sociedade, a banca.
JM – Como é que o presidente da comissão política do CDS-PP Mafra vê o estado da comunicação social no concelho de Mafra, em termos de independência editorial e financeira dos vários órgãos de comunicação social face ao poder político concelhio, e em termos de estarem asseguradas a todos as mesmas condições concorrenciais?
M.S. – A primeira vez que falámos, eu tive ocasião de manifestar a desconfiança que tinha relativamente à comunicação social. Nunca tinha falado para a comunicação social, mas sabia que existiam aquelas frases que dizendo tudo, não dizem nada, permitindo-nos desmentir tudo no dia seguinte. Entretanto, não modifiquei muito a minha opinião sobre ela, deve haver liberdade, mas a comunicação social não nos deve obrigar a dizer o que não queremos dizer, refiro-me por exemplo aos jornalistas mal pagos que as redações colocam no meio de uma estrada às tantas da manhã, a ganhar 30 ou 40 euros e que, mais não seja por isso, tentam condicionar quem faz declarações. Focando-me no concelho, temos um jornal institucional chamado “Carrilhão”, para onde eu mando sistematicamente as notícias da nossa concelhia, devidamente assinadas por mim, pedindo a sua publicação. Nunca tinha tido uma resposta. Há algum tempo recebi uma resposta referindo que os estatutos do jornal não lhes permitem fazer notícias políticas. É um jornal que tem uma página fabulosa de artes e letras, feita por Raul Portela, mas à parte esta página, tem obituários e umas reportagens, mas é um jornal onde não há debate.
“Em Mafra, o poder trata a comunicação social, do mesmo modo, como trata os munícipes. Trata-a mal […] sonegando informação, escondendo informação, dificultando-lhes o acesso à informação”
Depois temos “O Ericeira”, um jornal de culto para todo o ericeirense, mas é um jornal envelhecido, ficou lá nos anos 80 do século passado, vive, digamos assim, de velhas glórias. Eu não gosto de ver morrer nada e no dia em que “O Ericeira” morrer, perde-se qualquer coisa, até por ser um jornal impresso, e ver desaparecer um jornal impresso, é uma coisa que me faz muita impressão. “O Ericeira” vai fazendo a gestão da sua reforma. Temos também o “Azul Ericeira Mag”, que tem coisas muito giras, coisas muito boas, mas alterna o muito bom com o muito mau. Deu algum apoio ao PAN, quando foi do Circo Chen. No mesmo barco ponho a RCM e a Mafra Tv, embora esta não seja um órgão de comunicação social, não têm outro sitio onde estar, que não seja num espaço que é da câmara. Quem é que pode imaginar que eles possam ser independentes? Em relação ao Jornal de Mafra, eu não sei que pensamento esteve na base da criação de deste jornal online, mas sei que tomei conhecimento do jornal, quando Alves Pardal me perguntou se eu não queria começar a escrever uma crónica política no Jornal de Mafra, em representação do CDS. O jornal foi fazendo o seu caminho, o caminho das pedras, e foi-se desenvolvendo. O que me disseram sempre foi, “não ligues muito a esse tipo, porque ele anda a ser pago pelo PS”, mas a mim não me interessa se é ou não pago pelo PS, o que me interessa mesmo é o produto final. No produto final há coisas que me desagradam e há coisas que me agradam, mas há mais coisas que me agradam, assumindo-me aqui como munícipe e não como presidente da comissão política do CDS. Já me habituei a recorrer ao jornal e concluir, em relação a situações concretas, “se não aparece no Jornal de Mafra, então, é porque é treta”. A nível local, o Jornal de Mafra é um bom jornal, que tem dado estabilidade à informação no concelho, e pelo que me é dado observar, acredito que o jornal não dependa seja no que for, do executivo municipal, porque se dependesse, isto já tinha dado uma volta. Nesta altura, o Jornal de Mafra é o único onde vai havendo, não posso dizer, propriamente, debate político, porque mesmo quando eu intervenho e os pico, eles não respondem. Creio que isso acontece porque as pessoas fazem política atrás da ideologia e isso tira-lhes a capacidade de verem com clareza. É por isso que digo, nesta altura, o Jornal de Mafra é talvez a única fonte onde podemos ir à procura de algum debate, à procura de alguma informação, e vamos-nos habituando a que aquilo que lá lemos é verdade. Ainda não vi o Jornal de Mafra ser desmentido. Em Mafra, o poder trata a comunicação social, do mesmo modo, como trata os munícipes. Trata-a mal. Sonegando informação, escondendo informação, dificultando-lhes o acesso à informação. A começar pelo site da câmara municipal, aquilo é uma selva, é preciso um curso para navegar naquele meio, pois o site está cheio de escolhos. A comunicação social aqui em Mafra, não tem de que se queixar, porque é tratada em pé de igualdade com o resto dos munícipes. Ou seja, vocês não sabem nada, nós não queremos que vocês saibam nada, e vocês não têm que saber nada, “nós estamos aqui para cuidar de vocês”. A comunicação social é, toda ela, muito maltratada no nosso concelho. Mais tarde ou mais cedo, tudo isto irá levar uma volta. Pode levar muito tempo, mas depende só de as pessoas entenderem o que é cidadania e democracia, e o que é a liberdade. Quando as pessoas descobrirem o que são estas três coisas, sem ter em consideração a esquerda, a direita ou o centro, estes problemas tenderão a ser resolvidos.