Há quantos anos é militante do PSD?
Não sou militante do PSD.
Já se tinha candidatado a algum cargo político antes das autárquicas de 2017?
Foi a minha primeira experiência como político.
Como é que surge a oportunidade de se candidatar à Junta de Freguesia de Mafra (JFM)?
A oportunidade surgiu a convite da atual presidente, depois de ter trabalhado, cerca de um ano, num programa de rádio, o 1717 da RCM. Achei que tinha de dizer sim, entretanto, falei com o presidente [Hélder Silva], no sentido de saber se estava no caminho certo ou não, e se podia dar esse passo. Disse-me que sim e foi isso que fiz.
O que que o impeliu a candidatar-se?
Depois de passar à reserva, vim para Mafra e tentei fazer algo pela minha terra. Voluntariei-me a trabalhar na rádio, onde estive um ano, depois fui trabalhar para Timor, e ao regressar, o bicho da rádio levou-me novamente à rádio, onde esteve mais um ano com emissões diárias.
Surge então o convite para ingressar numa equipa da junta de freguesia. Tendo tempo disponível para colaborar, decidi fazê-lo, e numa área que conheço bem, a administração, a gestão, a contabilidade pública.
Como é que encontrou as contas da Junta de Freguesia de Mafra?
As contas encontrei-as com algumas imprecisões em termos de contabilidade pública, sendo natural que assim seja. As pessoas não são técnicas de contabilidade pública, sendo, pois, natural que quem se candidata não tenha esse conhecimento, assim sendo, podem cometer-se algumas falhas técnicas. Para que estas falhas não ocorram, contratam-se empresas externas que possam ajudar e vir a fazer as prestações de contas.
Foi então isso que aconteceu?
Com a gestão anterior sim. Nós mantivemos a mesma empresa, no entanto, a relação era diferente, já pública, porque as coisas foram feitas mais à nossa maneira.
Não há responsabilidade política, o problema é técnico e a responsabilidade incide sobretudo sobre a pessoa que assessorava nessa matéria?
Vou dar o exemplo de uma imprecisão técnica. Um elemento da junta faz uma despesa, uma despesa que é necessária, mas faz essa despesa numa rubrica que não estava cabimentada, não existia essa rubrica. Para abrir a rubrica e para que possa haver autorização, a Assembleia de Freguesia terá de aprovar uma alteração ao orçamento, incluindo a nova rubrica e o valor em causa. Este é um procedimento técnico que pode apresentar algumas dificuldades, porque os pagamentos têm de ser efectuados, as aquisições têm de ser feitas, e as assembleias de freguesia podem estar a dois ou três meses de acontecer. Estes mecanismos funcionam mal numa instituição pública. As despesas são feitas, fica uma factura pendente, que necessita aprovação da Assembleia de Freguesia. Estas coisas acontecem. Estamos a falar em muito dinheiro.A Freguesia de Mafra é muito grande, e embora pouca gente saiba, a própria localidade de Mafra não é da responsabilidade da JFM, mas sim da câmara Municipal. Há muitas críticas que se fazem, por exemplo ao estado das ruas de Mafra, embora isso não seja da responsabilidade da junta de freguesia. Para uma área de grande dimensão à sua responsabilidade, a junta tem 5 funcionários operacionais.
Tem chamado à atenção para estas questões?
Eu não quero, de forma nenhuma, alijar-me das responsabilidades que tive durante este período. Os trabalhos e as solicitações foram sendo cada vez maiores, a limpeza, a manutenção e a conservação representam muitas solicitações e o pessoal é muito diminuto para fazer face a todas as solicitações. Havendo pouca gente, a solução é recorrer a prestações de serviços, e há alguma diferenciação entre esquerda e direita, é isto que me diferencia, pois considero que não temos todos de ser funcionários públicos.
As compras superiores a 5 000 euros deveriam ser tornadas públicas, a JFM nunca fez compras superiores a áquele valor?
Enquanto fui tesoureiro da JFM nunca houve compras superiores a 5 000 euros, não houve, com certeza, não houve. As contas são públicas, e se as pessoas assinarem só por assinar, a responsabilidade deixa de ser minha. As contas são aprovadas pelo Tribunal de Contas, mas sabemos que quem sabe fazer bem, também sabe fazer mal. Estas empresas estão cá para ajudar, não é maldade nenhuma. Imagine uma despesa de 6 000 euros, e ninguém está aqui a falar em corrupção, ora, com este valor, teria de fazer-se uma consulta. Em vez disso, fazem-se duas faturas, e não estou a fazer qualquer revelação, toda a gente sabe, as pessoas têm é medo de dizer estas coisas. De resto, desde o dia 1 de janeiro, este limite 5 000 euros foi alargado até 75 000 euros. Isto significa que, agora, a consulta tem a ver com o bom-senso, já ninguém precisa de fazer consultas ao mercado, isto foi dar liberdade para as pessoas gerirem da forma que querem. 75 000 euros é como dizer, façam, e façam a gestão da maneira como querem. Neste momento, as regras já estão muito facilitadas em termos de despesa e de utilização de meios públicos, isto significa uma responsabilidade muito grande das pessoas e das equipas eleitas para cargos públicos, especialmente nestes lugares pequeninos, nas juntas de freguesia. Há um reverso da medalha, e em Portugal temos sempre de ver o reverso da medalha, pois sempre que deixamos o caminho livre, em Portugal, isto dá sempre barraca. Os problemas iniciaram-se no dia 1 de janeiro de 2018, pois o poder está nas mãos de muitas pessoas que poucos conhecimentos têm e, por vezes, o bom-senso falta.
Quando é que a ideia da demissão se começou a colocar e que razões que estiveram na sua base?
Eu gosto das pessoas que gostam de mim, gosto de ajudar, dou a cara sempre que é preciso ajudar, muitas vezes com benefício de tudo o que está ao meu lado, da minha vida, da minha família. Conheci a professora Fátima Caracol, tivemos algumas conversas, mas esta relação era uma relação telefónica, muitas vezes em directo [referência ao programa 1717 na RCM], sempre fiquei com a ideia da professora Fátima Caracol, como sendo afável, uma pessoa alegre, uma pessoa competente. Quando me convidou para a política, eu, num pensamento rápido e despido de qualquer coisa, pensei, bom, se a senhora me ajudava, porque é que eu não hei de ajudar? Estou com tempo e Mafra é a minha terra.
Reconhece-se alguma ingenuidade política…
Sim, sim. Por isso mesmo pedi aconselhamento a Hélder Sousa Silva, sendo presidente, sendo meu camarada e considerando-o como amigo. Sim, vai, é uma boa maneira de começares, de entrares, de dares os primeiros passos, foi o que ele me disse, e eu fiz.
As razões que levaram à sua demissão foram de carácter pessoal, relacionadas com a actual presidente da Junta de Freguesia de Mafra?
Pessoal, não, e quero fazer aqui uma separação clara, eu continuo a gostar da Fátima Caracol. A frase que utilizaria aqui, seria, estarmos ou não estarmos competentes para uma determinada área. Não me revejo no comando de Fátima Caracol, falando como militar. Não me revejo. Como militares temos de ser bem comandados, ou sabemos comandar, ou somos comandados.
Não se revê no comando de Fátima Caracol, especificamente, em relação a que critérios?
Quando estamos inseridos num grupo e as decisões, ou são sempre contrárias, ou muitas delas são contrárias àquilo que a pessoa pensa, ou somos nos que não estamos bem ou são os outros todos que não estão bem ou sou eu que estou a marchar sozinho, e havia muitas decisões em que eu não me revia, então, só havia um caminho.
No executivo da junta, essa solidão política que refere, não era comum a outros eleitos?
Olhos que não vêem, coração que não sente.
Quer esclarecer o sentido dessas palavras?
A junta de freguesia é composta por um executivo de cinco pessoas, em que Fátima Caracol ganhou com maioria absoluta, estando a junta a executar o projecto de Fátima Caracol. Para quem conhece a junta de freguesia, tínhamos a presidente de junta, tínhamos uma secretária, como todas as juntas têm, o tesoureiro, não sendo melhor ou pior que os outros, tinha a responsabilidade de estar mais presente, tinha de estar a par, pois a minha assinatura era obrigatória, e volto a referir, não era nem melhor nem pior que os outros, mas pelo menos estava lá e a par de todos os assuntos, e se estava lá, eu tinha opinião, as pessoas não estando, não têm opinião.
Porque é que não tornou pública a sua demissão no momento em que ela ocorreu?
Nunca pensei nisso. Quando tomei a decisão, depois de uma reunião do executivo, reuni com a minha família, para tomar uma decisão final. Antes de enviar a carta de demissão ao Presidente da assembleia de Freguesia, conversei com o senhor presidente, Hélder Sousa Silva, fui chamado ao seu gabinete.
Foi chamado ao gabinete do presidente Hélder Silva, na Câmara Municipal de Mafra?
Fui chamado ao gabinete da câmara municipal.
Mas há alguma relação hierárquica…[entre a junta de Freguesia de Mafra e a Câmara Municipal de Mafra?] Foi uma reunião de amizade, por uma questão de ser mais fácil, tendo coincidido com uma deslocação a propósito do 1717, uma apresentação oficial, aproveitei o facto de lá estar, para falar com o Hélder Sousa Silva, não como presidente, com o Hélder Sousa Silva.
Com o Presidente da Comissão Política do PSD Mafra?
Isso. E depois de termos falado, chegámos à conclusão que o melhor, seria mesmo demitir-me. Não quis empolar a situação, continuo a pensar que quem está mal sou eu, não cantei a mesma canção do que a equipa e eu quis sair, não quis incomodar. Uma coisa é certa, as pessoas votaram em Fátima Caracol, quer se goste, quer não se goste, votaram em Fátima Caracol, e eu sou um dos elementos da equipa, não sou mais importante do que qualquer dos outros. O mais importante era estarmos a trabalhar em prol de Fátima Caracol, assim, não quis empolar a situação. Podia ter feito uma declaração e não o fiz. A notícia que saiu no Jornal de Mafra, e como sabe, não fui eu que lha dei. Deixai de ter responsabilidades na junta no dia 3, com pena minha, porque estão muitas coisas por fazer. Com esta experiência ganhei o saber estar com o trato de político, saber estar preparado como oposição, quando ela existe, saber estar preparado para falar com as pessoas, saber ter soluções e fazer com que as pessoas pensem em prol da nossa terra, e isso é difícil. Não é fácil assumir um cargo público, dizermos que fazíamos, e que fazíamos, e depois, quando lá chegamos, perguntam porque é que não fez? Porque a realidade é completamente diferente.
Haverá aí uma critica implícita à qualidade da classe política?
Se formos analisar bem, e deixo aqui uma critica construtiva a quem faz a escolha das equipas da junta de freguesia – nomeadamente de uma junta com as responsabilidades da de Mafra –, quem faz essa escolha escolhe para este executivo Fátima Caracol, com experiência política zero, António Galambas, com experiência política zero, Patrícia Príncipe e Cláudia Batalha com experiência política zero. Foi uma equipa cheia de vontade, onde as pessoas não se conheciam. eu não conhecia nenhum dos elementos da junta, à excepção de Fátima Caracol, que conhecia da forma como referi anteriormente, nunca tinha falado com eles. Estava tudo preparado para quem as coisas ou corriam muito bem, ou correm bem, ou vão correr bem, sem a minha presença.
Foi condicionado a não revelar publicamente a sua demissão até uma determinada data?
Não. Eu sou independente
Quais são os principais problemas com que a freguesia se debate e quais são as prioridades políticas que definiria para a freguesia?
Conservação e manutenção. Porque é este o papel principal de uma junta de freguesia. Cuidar das nossas ruas, é isto que as pessoas vêem, mais nada, é para isto que nos dão o dinheiro. É para isto que nos pagam, é para servirmos a população. Pode perguntar-se, então e o turismo? Claro que sim, mas a partir do que sobrar da conservação e manutenção, porque isso é que é o importante. O resto? A Câmara Municipal também apoia o associativismo, não é preciso ser a junta de freguesia a dar esse apoio. Vamos gastar 40 ou 50 mil euros no apoio ao associativismo, mas porquê? Porque é que a Câmara Municipal não direciona um subsídio para a junta, destinado a apoiar as associações? As juntas de freguesia exercem a sua atividade numa perspetiva de proximidade, e o que é que as pessoas sentem? Sentem as ervas a crescer, sentem a falta de um varredor, sentem os problemas que encontram à sua porta, e são estes os problemas da junta de freguesia. Faltam transportes na freguesia… e o que é que a junta consegue fazer? Se me perguntar como é que uma pessoa da Barreiralva que não tenha carro, consegue vir trabalhar…
O que é que o concelho pode esperar do político António Galambas? A vontade de assumir responsabilidades políticas mantem-se?
Os meus amigos mais próximos têm-me dito para não fechar portas. A porta, neste momento, está meia fechada. Se a porta se abrir, o Galambas só irá trabalhar com pessoas em quem confie, com um conhecimento muito grande daquilo que eu penso. Não é fácil haver uma candidatura minha ao que quer que seja, mas se estas condições se realizarem, serei o primeiro a dar a cara, ou o primeiro a ajudar quem quer que seja. Não estou a pedir que pertençam a uma cor política, nem que gostem da mesma música do que eu, mas que sejam pessoas qualificadas e amigas.
O fim do seu programa 1717, na RCM ocorreu efectivamente por razões de carácter financeiro relacionado com o valor das chamadas telefónicas ou houve influencias políticas?
Isso foi o que me foi comunicado. Se houve influência política da força A ou da força B, se quer que lhe diga, não sei. Não foi essa a intenção com que entrei na Rádio do Concelho de Mafra. No entanto, posso referir que sem saber muito de política, a verdade é esta, tinha a professora Fátima Caracol, Artur Claudino, Pedro Portela, Júlia Ribeiro, General Lemos Pires, tinha uma equipa fabulástica, não era fabulosa, era fabulástica.
De alguma forma, muitas personalidades ligadas à mesma força política.
Na altura, eram as pessoas que eu conhecia mais, também sou sincero.
Os convites foram da sua inteira responsabilidade?
Sim, sim. Também posso referir o professor Alves Pardal, que foi a pessoa que mais me impressionou, sem ter a ver com cores, mais azuis ou mais vermelhas, mas sim pela postura da pessoa, é alguém com muita competência. Começaram a dizer que havia muita gente que intervinha, de um lado e de outro, e eu disse, então, está aqui realmente um problema. Enderecei então um convite a Alves Pardal para ser colaborador do meu programa, no entanto, por se deslocar ao estrangeiro com frequência, o senhor disse-me que não podia assumir essa responsabilidade, tendo sugerido Mário de Sousa. O meu conhecimento com as pessoas foi feito na rádio. Compreendi que havia ali realmente um problema político, com a primeira intervenção de Pedro Portela, que fez uma intervenção de 15 minutos e em cada minuto, fazia uma critica à parte política de Mafra. Comecei então a receber chamadas e chamadas [telefónicas]… referindo que tinha dado privilégio a uma pessoa para denegrir ou criticar tudo o que se estava a passar. A partir daqui, ou tirávamos o Portela e passávamos a falar de assuntos banais, ou não. Decidimos mante-lo, decidimos mexer com Mafra, as pessoas têm o direito de, com liberdade, se expressarem da forma como querem.
Dá, portanto, como boa, a explicação dos 200 euros?
Dou por boa. Eu e o Medina de Sousa nunca fomos remunerados, fazíamos o programa de forma voluntária. Se achavam que um programa com aquela dimensão e com aquela mexida na rádio, não devia ter 206 euros para pagar as chamadas telefónicas [relacionadas com as intervenções dos colaboradores externos], face a uma despesa total da rádio, na ordem dos 600 euros, mais a mais, tendo em conta que a sugestão que me foi feita, para que o programa se mantivesse, passava por eu comprar o espaço e fazer um programa de autor, tendo de ser eu a pagar 1 500 euros por mês…
Como é que vê o panorama geral da comunicação social no concelho de Mafra?
No concelho de Mafra esse é um dos assuntos mais importantes. Gostava de ver uma comunicação social não manipulada, uma comunicação social não interesseira, uma comunicação social mais livre. E só se consegue ser livre, quando as portas estão abertas. Gostava de saber se houve alguma vez, uma conferência de imprensa de uma junta de freguesia. Nós não gostamos de ser criticados, eu também não gosto de ser criticado, mas quando nos expomos, somos criticados, e a crítica dói, mas quem assume funções públicas e políticas, sabe que não podemos agradar a gregos e troianos, assim, os meios de comunicação social são os canais de informação para a população. Pergunto, como é que um cidadão normal consegue saber o que se está a passar na câmara municipal? Indo ao site. Mas toda a gente vai ao site? Mas toda a gente é obrigada a ir ao Facebook e a ter Internet? Mais, os meios públicos só têm que dar press releases, não têm que se alargar em comentários, no entanto, vamos a um site oficial e lemos, “que lindo, foi um espectáculo, foi maravilhoso”. Os organismos públicos não fazem comunicação social, esta deve ser feita por órgãos de informação independentes e à parte e não pode haver Mafra.Tv, não podem ser subsidiadas por órgãos públicos, não pode. Temos de dar à comunicação social, o direito de se exprimir à sua vontade, como todos os outros órgãos de comunicação social, e os meios públicos não podem e não devem ter órgãos de comunicação social. Aqui exagera-se nisso. O 1717 Acreditar não é um órgão de comunicação social, é um conjunto de pessoas completamente diferentes, com pensamentos díspares, para a direita, para a esquerda, para o centro, e somos livres de nos exprimirmos, sendo por isso que nos damos bem. O grande problema é tomar-se por inimigo e considerar-se persona non grata, quem pensa diferente. Não é isso que se passa no grupo do 1717 Acreditar, onde todos nos respeitamos, todos temos de saber viver desta forma.