Durante o congresso do Partido Aliança, que está a decorrer em Torres Vedras, Alexandre Nascimento, empresário, atual Presidente da Comissão Política Distrital de Lisboa daquela força política, cronista político no Jornal de Mafra e candidato à Presidência nacional do Aliança concedeu hoje uma pequena entrevista ao Jornal de Mafra.
Jornal de Mafra – Como definiria as linhas gerais da sua Moções de Estratégia Global?
Alexandre Nascimento – A minha moção chama-se “Por uma Aliança com Portugal e com os portugueses” e defende que o partido deve começar por olhar para o seu umbigo, para dentro, percebendo o caminho que fez até agora, que erros cometeu, avalia-los, e reformar-se a partir das suas entranhas.
A minha moção tem um ímpeto profundamente reformista
A minha moção tem um ímpeto profundamente reformista. Entendemos que o partido tem de passar por reformas profundas, reformas organizativas, de compromisso e reformas de comunicação, porque sem esses pressupostos é muito complicado, um partido, sobretudo um partido pequeno, como o Aliança, apresentar-se ao país de uma forma credível. Porque se não está preparado e não está organizado, se as suas bases e as suas estruturas não têm uma ligação interna intrínseca e se a comunicação falha, a partir daí, o prédio fica frágil e sem sustentação para o exterior.
Isto feito, propomos então, na mesma linha de ímpeto reformista, as reformas profundíssimas de que o país necessita e que os políticos do velho sistema têm vindo a adiar desde o 25 de abril. Campanha após campanha, todos os partidos falam da reforma do estado, da reforma do sistema político, da reforma da justiça…E é disso que trata a moção.
Esta coisa do centro, centro moderado, centro direita e centro esquerda…As pessoas começam a fartar-se de gente que não se afirma, de gente que não tem coluna vertebral, gente que quer agradar a todos e acaba por não agradar a ninguém
Nós somos profundamente reformistas, somos gente da direita moderada, assumimo-lo sem qualquer constrangimento. Esta coisa do centro, centro moderado, centro direita e centro esquerda…As pessoas começam a fartar-se de gente que não se afirma, de gente que não tem coluna vertebral, gente que quer agradar a todos e acaba por não agradar a ninguém.
O Aliança tem de se afirmar dentro do espetro político português e dizer ao que vem.
Eu digo ao que venho, eu sei o que sou e assumo a minha posição. Sou um homem de direita marcada, com princípios de direita, que defende a iniciativa privada, os empresários e o mínimo possível de presença do estado, para que a economia possa funcionar. Defendo a família como célula nuclear da sociedade, defendo a nossa história, os nossos costumes e defendo, sobretudo, uma coesão territorial e social que este país precisa de atingir urgentemente.
Ficarei pessimista em relação ao futuro, se este congresso fragmentar o partido
Tudo tem que ser repensado e reformulado e a moção vai um pouco neste sentido.
Jornal de Mafra – Há pouco, a partir da tribuna, disse que o Aliança tinha cada vez menos gente. Isso significa que está pessimista em relação a futuro?
Alexandre Nascimento – Não. Vamos por as cartas na mesa e com a máxima franqueza. Ficarei pessimista em relação ao futuro, se este congresso fragmentar o partido. Não me parece que nenhum de nós venha a isso, somos gente de bem, todos temos a consciência muito clara de que hoje somos bastante menos do que eramos no congresso fundador de Évora, exatamente pela falta de clarificação, pela falta de impressão digital, pela falta de identidade, que nos levou a não eleger para a Assembleia da República. Com isto, as pessoas acabam por sair, desanimar, sendo que há sempre gente que vinha à procura de outros palcos e em função das suas frustrações, também vai embora… Mas estão cá os bons, pelo menos a maioria deles, daqueles que acreditam que ainda é possível fazer um projeto, fazendo-o lentamente, permitindo-lhe que faça o seu caminho. Repito, reestruturando e reformando por dentro, permitindo-nos estar preparados para falar ao país, para que o país nos reconheça como gente de bem, gente de ética, gente com propostas, gente que quando aponta o dedo, apresenta depois uma alternativa.
Eu espero que ganhemos uma nova alma, uma nova energia e sangue novo, para refazer o caminho
Não foi muito isso que fizemos até hoje. Não estou pessimista, pelo contrário, se o congresso decorrer da forma que eu espero, com elevação, com debate, eu espero que ganhemos uma nova alma, uma nova energia e sangue novo, para refazer o caminho.
Jornal de Mafra – Nas presidenciais, defende o apoio do Aliança a Marcelo Rebelo de Sousa?
Alexandre Nascimento – A minha moção defende que o Aliança deve encontrar uma candidatura dentro do seu espetro político, idealmente, dentro do partido, No entanto, penso que o Aliança tem a obrigação de encontrar uma alternativa junto dos partidos do seu espetro político. O Professor Marcelo Rebelo de Sousa não cumpriu, a nosso ver, duas das tarefas que para nós eram fundamentais, ou seja, distanciar-se equitativamente de todas as famílias políticas, uma vez que se encostou demasiadamente a este governo. Uma coisa é garantir que o estado funciona, outra coisa é uma colagem quase escandalosa ao governo. Por outro lado, o presidente deve ser o estandarte, o baluarte, o pêndulo de todos os cidadãos, aquele que convoca os portugueses, mas na verdade, vejo com tristeza que o país não tem uma estratégia, nem pela ação do governo, nem pelas posições do Presidente de República.
Vejo com tristeza que o país não tem uma estratégia, nem pela ação do governo, nem pelas posições do Presidente de República
Jornal de Mafra – Está preparado para liderar o Aliança?
Alexandre Nascimento – Vamos ver. Preparado, com certeza que nunca estamos, até porque há tanta coisa a fazer, o que espero é estar à altura do desafio. Espero ganhar o congresso, espero depois estar à altura do partido e das expetativas dos militantes, se eles me derem esse voto de confiança, mas também estou preparado para, caso não vença, apoiar uma outra solução, desde que essa solução seja uma solução de ética, de trabalho, de arregaçar as mangas e de pensar as reformas.
Jornal de Mafra – Quanto às autárquicas, há alianças à vista?
Alexandre Nascimento – As autárquicas iremos discuti-las caso a caso, percebendo quais são as famílias políticas às quais nos poderemos aliar, sempre com a humildade de um partido pequeno, mas fazendo o nosso caminho. Neste momento, essa é uma discussão a fazer, que ainda não queremos mostrar nesta altura.