A função de um líder político, seja ele azul, vermelho, rosa, laranja ou de qualquer outra matiz (porque a cor de um político pouco importa, como a História tem demonstrado à sagacidade) passa por colocar-se ao serviço da comunidade, de preferência durante um período de tempo limitado, tendo por objetivo melhorar a vida dos cidadãos sobre os quais exerce poder ou influência, fazendo isto com honestidade, sem espírito de seita, sem hooliganismo político e sem se aproveitar do cargo que exerce para beneficiar familiares, amigos ou correligionários.
É uma perspetiva idealista? É capaz de ser, mas correr por objetivos frouxos, medíocres, egoístas, semelhantes a aquilo que já foi feito, não nos parece um caminho que mereça ser trilhado.
Ver políticos locais, sejam vereadores municipais, deputados municipais ou dirigentes partidários responsáveis pela comunicação (neste caso concreto, sendo simultaneamente colaboradores regulares de um órgão de comunicação social da mesma área geográfica onde exercem atividade política), a utilizar as redes sociais encarniçando-se contra um órgão de comunicação social local, corresponde, não querendo ir mais longe, a assistir a um triste espetáculo de insensatez política, corresponde a assistir em direto a um sintoma claro, da razão pela qual em Mafra, há cerca de 40 anos que não se vislumbra sinal do tão celebrado benefício da democracia, que é a alternância democrática entre as várias forças políticas.
Qualquer dirigente político responsável, numa situação como aquela a que assistimos na sexta feira passada nas redes sociais que apoiam Jornal de Mafra, teria feito o que faria qualquer pessoa medianamente culta e informada. Exerceria o seu direito de resposta ou de retificação, exerceria os seus direitos num plano ético e inibir-se-ia de dar um triste espetáculo público de insensatez e nervosismo.
Vamos a factos. Na última Assembleia Municipal (como em todas as anteriores que foram cobertas pelo JM) aconteceram mais intervenções do que aquelas a que o artigo do Jornal de Mafra fez/faz referência. Todos os intervenientes disseram mais do que aquilo que o JM refletiu no artigo. A seleção é jornalística, aqui e em todos os outros OCS´s. O que é que isto quer dizer? Quer dizer que, com equidade, o jornal seleciona os factos que na sua perspetiva (somos vulgares seres humanos) marcaram, no caso vertente, a última sessão da Assembleia Municipal.
Na verdade, o referido artigo constituiu um relato resumido do período antes da ordem do dia, comportando: relatos breves de duas intervenções da CDU, de uma das intervenções da deputada do PAN, que apresentou 2 moções, de uma intervenção de um deputado do PSD, a intervenção de um Presidente de Junta eleito pelo PS (esta sim, citada quase na íntegra e ocupando grande parte da mancha gráfica do artigo). Estávamos certos de que Elísio Varandas fora eleito pelo PS, mas depois da hiperbólica reação a que assistimos nas redes sociais, ficámos na dúvida e fomos verificar. Assim, estamos em condições de confirmar, o atual Presidente da União de Freguesias de Igreja Nova e Cheleiros foi efetivamente, inegavelmente e substantivamente eleito pelo PS, embora, pelos vistos, aquele partido político o pareça desconhecer.
Para além da intervenção de Elísio Varandas (PS) também a intervenção de uma moradora da Quinta de Santa Bárbara mereceu destaque, constituindo estas duas intervenções, a parte substantiva do artigo, isto, porque na avaliação que fizemos, aquelas duas intervenções foram, no plano informativo, o que de mais significativo ali aconteceu.
O comentário ácido de um dos deputados municipais do PS, despoletado pelo facto de não ter visto a sua intervenção refletida na reportagem, deixou-nos perplexos. Diz esse deputado, que a sua intervenção até foi aplaudida, algo que na sua perspetiva será coisa boa, mas rara. Pudera, houve realmente um (1) elemento do publico que aplaudiu a sua intervenção, embora o Regimento da Assembleia não admita manifestações por parte do público. Será por isso, dizemos nós, que os aplausos são tão raros?
Temos de ser humildes, sobretudo aqueles que estão na política têm de ser humildes, ou então assumir que não estão a prestar um serviço, funcionando a atividade política, mais como uma catapulta social e/ou económica ou então, como um simples e neurótico exercício de poder.
Optar por valorizar uma intervenção meramente reflexa (que se limitou a responder a iniciativas de outras forças políticas), relativamente a uma intervenção de fundo de um deputado municipal e presidente de junta do mesmo partido, isso sim, é uma posição com um legítimo significado político, seja esse significado, qual for. Desancar no único órgão de comunicação que cobre as Assembleias Municipais, por ter outro critério na análise jornalística da importância das intervenções naquela sessão, é não só insensato, como pode ser interpretado como uma forma de pressão sobre a imprensa.
Nós, como já provámos inúmeras vezes, não somos pressionáveis.
Estou certo, que sem qualquer relação direta ou indireta com aquilo que referimos nos parágrafos anteriores – dito isto, de modo a impedir interpretações abusivas -, mas no seguimento da publicação do artigo a que temos vindo a fazer referência, o diretor do Jornal de Mafra foi alvo de ameaças diretas, de insultos e de tentativa de coação.
Não é a primeira vez que isto acontece, mas até aqui, temos desvalorizado as ameaças e as muitas ofensas pessoais e profissionais de que temos sido alvo, tendo-as encarado como “ossos do ofício”, e como inconsequentes formas de pressão, que nunca resultaram e que nunca resultarão, venham elas de onde vierem, tenham elas que cor tiverem.
No entanto, desta vez, as ameaças estenderam-se a familiares nossos, assumindo assim uma gravidade substantivamente diferente, razão pela qual, decidi apresentar uma queixa junto das autoridades, juntando à queixa as provas que foi possível reunir. Essa queixa foi já formalizada hoje mesmo.
Paulo Quintela
Diretor do Jornal de Mafra