EDITORIAL || Em Mafra o PSD mete mais uma vez o PS “no bolso”

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O PS deixou ontem cair aquela que foi a sua principal bandeira política durante os mandatos de Hélder Silva à frente da Câmara Municipal de Mafra. Na sessão da Assembleia Municipal, o PS Mafra tentou fazer a quadratura do círculo quando votou contra a manutenção do IMI na taxa máxima e simultaneamente, votou a favor do orçamento para 2019 apresentado pela maioria absoluta do PSD Mafra, onde as receitas do IMI surgem de acordo com a taxa máxima que a lei permite para este imposto.

Sabemos bem que alguns políticos portugueses nos habituaram à ideia de que em política tudo é possível, muitas vezes, infelizmente possível, como temos visto sobejamente. No caso vertente, defender a diminuição da taxa do IMI e aprovar simultaneamente um orçamento que considera as receitas desse imposto na sua taxa máxima, arrecadando uma receita superior a 19 milhões de euros, é algo que desafia o entendimento de um comum mortal – e nós, felizmente, não passamos disso mesmo, comuns mortais.

Este voto político favorável do PS ao lado do PSD terá tido como contrapartida política a nomeação política de um vereador do PS, por proposta da maioria absolutíssima PSD, para a futura administração do SMAS (Serviços Municipalizados de Água e Saneamento) de Mafra. O apoio firme do PS à remunicipalização dos serviços de água e saneamento poderá ter contribuído para esta nomeação, é certo, no entanto, a verdade é que, embora com algumas nuances, todas as restantes forças políticas com assento na assembleia municipal apoiaram também firmemente, esta remunicipalização.

Tendo em consideração os muito magros resultados eleitorais do PS nas últimas eleições autárquicas em Mafra, o facto de campanha pela baixa da taxa de IMI ter sido, desde sempre, uma bandeira política major da atual direção do PS Mafra e o facto de esta força política nunca ter sufragado favoravelmente, até ontem, a visão financeira e orçamental que o PSD Mafra tem assumido desde que Hélder Silva ocupa a presidência da Câmara e do PSD Mafra, então, torna-se claro que o momento político ontem vivido na sessão da Assembleia Municipal, constitui uma claríssima alteração da linha política do PS local, representando uma vitória da linha que no interior do PS apoia a aproximação ao PSD, no quadro do chamado Bloco Central, linha essa, à qual se terá agora rendido o atual presidente da concelhia de Mafra do PS.

Em termos políticos, esta noite representou, pois, para o PSD, mais uma clara vitória da visão política e das escolhas táticas e estratégicas de Hélder Silva, diga-se, o único verdadeiro político ativo no concelho – aparentemente, o PSD Mafra mete aqui no bolso, uma vez mais mais, o PS Mafra – e no PS, a vitória política irá direitinha para os defensores – atualmente minoritários no PS nacional – de acordos políticos preferenciais com o PSD.

A confirmar-se este rumo estratégico do PS Mafra, poderemos estar a assistir ao inicio de um caminho em tudo semelhante ao que este partido tem trilhado no concelho de Mafra desde que Ministro dos Santos assumiu por aqui o poder. Um caminho representado pela menorização do seu papel político no concelho, com a aceitação de posições meramente simbólicas na administração local, suscitando assim alguma subalternização do seu papel como maior partido da oposição a nível local.

Num concelho onde as maiorias absolutas de um partido – no caso concreto, o PSD – são já uma imagem de marca, a subalternização do maior partido da oposição  – no caso concreto, o PS – só poderá resultar na continuidade de uma situação historicamente imobilista, pouco criativa, pouco exigente e  fonte de  inércias clientelistas. Uma situação inimiga da cidadania, inimiga do progresso civilizacional, independentemente de o poder assim perpetuado, ser assegurado pelo PSD – como é o caso de Mafra – ou por qualquer outro partido no poder durante dezenas de anos seguidos, no mesmo território.

Urgente: cidadania em Mafra, precisa-se.

 

Paulo Quintela
Diretor do Jornal de Mafra

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