Muito furor está fazer a novíssima carrinha de exteriores da Câmara Municipal de Mafra, o material de reportagem audiovisual e o material de estúdio, também novinho em folha, que um já numeroso grupo de funcionários da Câmara de Mafra manuseia e utiliza ao serviço da promoção daquela entidade do poder local, enquanto o município se prepara para contratar mais 5 trabalhadores que exercerão funções na área de apoio logístico a eventos.
“Aquisição de equipamento de vídeo para criação de estúdio” é a designação de um contrato por consulta prévia datado de 27 de abril de 2021, pelo valor de 33.661,00 €, celebrado entre o Município de Mafra e a empresa Parauniverso, Unipessoal Lda., uma empresa sediada em Faião, na freguesia de São João das Lampas e Terrugem, propriedade de Nelson David Ramos Parcelas. O contrato desta aquisição não se encontra disponível para consulta pública. Esta empresa, que iniciou a sua atividade em meados de 2016, faz aqui o seu primeiro contrato com uma entidade pública.
Em ano de pandemia, com os recursos públicos sob grande pressão, num momento em que na Europa e em Portugal a covid-19 parece não estar para ficar, quando o país começou já a assistir a eventos presenciais, alguns deles promovidos pela própria câmara, esta aquisição por parte do município mafrense parece, no mínimo, a contracorrente.
Tendo em conta, que esta aquisição surge no exato momento em que se espera a transição definitiva da covid 19, de doença pandémica, para doença endémica, com a progressiva extinção das medidas sanitárias de distanciamento social e tendo em conta, por outro lado, os poucos meses que faltam para as eleições autárquicas, então, mais que não fosse por razões de cautela, de parcimónia orçamental e de pudor político, esta aquisição devia, no mínimo, ser postergada para um momento não pré-eleitoral, para um momento com menos pressão orçamental sobre as contas do estado e por tabela, do município.
Operando no concelho 6 órgãos de comunicação social, 3 deles alojados em edifícios/estruturas municipais, a maior parte deles tendo as iniciativas da câmara como principais temas de notícia, acrescendo o facto de o município de Mafra já editar um Boletim Municipal e preparar-se para lançar um novo “Boletim Cultural”, não se vislumbram para este investimento, justificações de estrita ordem comunicacional, desviando-se funcionários municipais para esta atividade, não se vislumbram para este investimento, razões que não sejam aquelas que passam pelo calendário eleitoral, já que teremos eleições autárquicas em setembro.
Com tanta reportagem efetuada por este órgão do poder local – sem que nos mais de 6 anos de trabalho informativo que levamos no concelho, tenhamos recebido uma só nota de agenda que fosse, um só comunicado que fosse ou uma simples nota de agenda, que nos fosse enviada pela edilidade mafrense – estas extensivas reportagens oficiais constituem-se como concorrência desleal, até porque jamais teremos, nós ou qualquer dos outros OCS (órgãos de comunicação social) do concelho, a possibilidade de concorrer com os mais de mil funcionários ou com os muitos milhões de orçamento público ao dispor desta entidade do poder local em Mafra.
Estes investimentos em tempo pré-eleitoral não são marca de uma só cor política, perpassando todo o espectro partidário com responsabilidades autárquicas, dando-se assim um triste espetáculo de falta de rigor financeiro e cívico, para além de serem passíveis de forte crítica no plano da ética política.
Este furor comunicacional da câmara de Mafra, cuja gestão está há décadas na mão da mesma força política, resultará por um lado, do longo jejum promocional a que foi obrigada pelo confinamento pandémico, e por outro, pelo receio que a entrada de uma nova força política da área da direita, na liça eleitoral, possa fazer mossa.
Paulo Quintela
Jornal de Mafra
[editado]
Entretanto um artista/performer (eu) pioneiro na arte das estátuas vivas, com 6 recordes mundiais, residente no concelho, esteve à beira da fome e de perder a casa sem qualquer apoio por parte da autarquia. Também é verdade que não fui lá pedir nada à porta, não faz o meu género.
Mas que já me recusaram um festival completamente na temática de Mafra (o Barroco), já.
Enfim, siga a vida….