Para assinalar o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, a APRUPP (Associação Portuguesa para a Reabilitação Urbana e Protecção do Património) organizou uma visita técnica à obra de reabilitação dos carrilhões e torres sineiras do Palácio Nacional de Mafra. O grupo de cerca de 20 pessoas foi acompanhado por técnicos da AOF e pelo carrilhonista Abel Chaves.
Um dos princípios da intervenção passa por manter o mais possível as soluções originais, com a mínima intervenção possível em termos de modificação, no entanto, existem algumas alterações que se justifica serem executadas. Um dos exemplos que nos foi apresentado relacionou-se com a introdução de inox em vários locais, como elementos de estabilização e de fixação, por exemplo, os cabeçotes em madeira, que suportam os sinos.
Ao longo da obra vamos encontrando várias alterações de melhoramento. Um dos melhoramentos que não estava previsto efetuar, mas que se decidiu executar já no decorrer da obra, consistiu em transformar a sala do carrilhonista numa sala onde pudessem ser dadas aulas, onde alunos de pós-graduações ou de doutoramento possam sentir-se ali em ambiente de trabalho.
Outro dos melhoramentos ocorre ao nível das instalações elétricas, a que o técnico da obra se referiu assim, “se me perguntarem de 1 a 10 quanto é que eu dava, em nota, às instalações eletricas originais aqui de Mafra no local onde estamos a intervir, dava 3, não mais do que isso”. Os quadros elétricos estavam mal protegidos, as instalações eletricas mal passadas. “ Não sei porque ardeu Notre Dame mas…“
Um dos exemplos que nos foi dado a conhecer foi o do para-raios que não estava a funcionar completamente como devia, tendo o seu funcionamento sido agora reposto.
Foram encontrados muitos problemas de estrutura e de fundição, existem sinos com alças partidas, sinos furados para colocação de fixação de badaleiras postiças (em ferro, que provocaram grandes danos nos sinos com o aparecimento de ferrugem). Isto, a par da utilização de madeiras que teoricamente seriam de sucupira mas que… (subentende-se que não eram), das tintas utilizadas nas madeiras dos cabeçotes não serem porosas, prova que as intervenções anteriores foram feitas sem cuidado, tendo adulterado o conceito original.
Existem fissuras nos sinos, que só na Holanda podem ser reparadas com garantia, quer da solda em si, quer de que o sino depois vai tocar com a nota que se espera. A afinação dos sinos de um carrilhão é muito especifica, sendo um processo complicado e quem sabe o “segredo” guarda-o a sete chaves.
O Carrilhão da torre sul foi sempre um carrilhão de concerto desde que foi fundido. Já o carrilhão da torre norte foi projetado para ser um carrilhão de concerto mas não foi bem fundido, o seu fundidor não tinha a o tal segredo, pelo que, segundo Abel Chaves “não há um único intervalo musical correto“ no carrilhão da torre norte.
Como nota curiosa e insólita, o facto de na semana passada se ter recorrido a alpinistas para proceder à limpeza de um poço de cerca de 15 metros, localizado na zona dos pesos do relógio da Torre Norte. No meio do “lixo” encontraram-se contrapesos e outras peças, bem como, um sino de pequenas dimensões que está a ser ainda a ser estudado.