A arquitecta Paula Silva assumiu a Direção Geral do Património Cultural (DGPC) em 2016, e sai agora da direção geral, sem que sejam dadas explicações cabais. No comunicado emitido pelo Ministério da Cultura onde se anunciam as alterações que irão ocorrer a 24 de fevereiro, pode ler-se, simplesmente “o Governo está, portanto, empenhado na implementação de um novo ciclo de políticas públicas para o património cultural e para as artes. Este novo ciclo exige uma nova equipa para a Direção Geral do Património Cultural (DGPC), constituída por uma complementaridade de diferentes competências e perfis adequados aos novos desafios“.
Eram conhecidas algumas divergências entre Paula Silva e Luís Filipe Castro Mendes, o anterior Ministro da Cultura, nomeadamente no que dizia respeito à instalação do Museu da Música nas instalações do Palácio Nacional de Mafra, decisão esta, que acabou por ser confirmada pela atual ministra, Graça Fonseca. Por um lado, Paula Silva ter-se-à mostrado contra a decisão de instalar em Mafra o Museu da Música, e por outro lado, esta saída coincidiu com a recente decisão de cedência das obras de arte da Colecção Rainer Daehnhardt, ao grupo hoteleiro privado Vila Galé, “à excepção de 13 obras cujo interesse a Companhia das Lezírias também já manifestou”, como noticia hoje o jornal Público, situação esta, que já levou o PCP a pedir uma audição da Ministra da Cultura, no parlamento.
O novo diretor geral será Bernardo Alabaça, uma personalidade que tem uma carreira de mais de 20 anos na área do imobiliário
O novo diretor geral será Bernardo Alabaça, uma personalidade que tem feito carreira há mais de 20 anos na área do imobiliário, na Edifer Imobiliária e na CBRE, sendo sócio-gerente da empresa Valueinsight, uma sociedade por quotas fundada em 2017, que se dedica a consultadoria na área imobiliária. A sua carreira de gestor é ainda marcada pela passagem por empresas como a Estradas de Portugal, ANA, Sagestamo, Parpública e Pelicano. Na primeira década do século, Bernardo Alabaça pertenceu também ao conselho de administração da Parvalorem, empresa criada para gerir os ativos e para recuperar os créditos do BPN.
Será pois um gestor que ficará à frente da DGPC, num momento em que se prepara a entrada em vigor de um novo regime jurídico destinado a institucionalizar a autonomia de gestão dos museus, monumentos e palácios. No momento em que se prepara a instalação do Museu da Música no Palácio Nacional de Mafra, a instalação do Museu do Tesouro Real e intervenções nas reservas arqueológicas e museológicas de São Bento de Castris, a reabilitação da Fortaleza de Peniche, a instalação do Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática, bem como, intervenções em vários monumentos, como o Mosteiro de Alcobaça, o Convento de Cristo, o Mosteiro da Batalha, a Igreja de S. João de Almedina, a Fortaleza de Sagres, a Igreja de Santa Clara do Porto, a entrada de um gestor profissional para encabeçar a DGPC poderá representar a vontade política de gerir os fundos disponíveis de um modo mais racional e mais profissional. O tempo dirá se, a ser este o objetivo, ele será alcançado.
Com Bernardo Alabaça entrarão também em funções, Fátima Marques Pereira e Rui Santos
A fazer fé em fontes da área da cultura contactadas pelo Jornal de Mafra, Bernardo Alabaça tem fama de bom gestor e a sua passagem por funções de gestão na área pública – foi subdirector geral das infraestruturas (Ministério da Defesa) e subdirector geral do Tesouro – parece ter deixado boa impressão. No entanto, colocar um gestor profissional da área do imobiliário à frente de uma direção geral que tem por função a valorização e a recuperação do património, poderá constituir um perigoso sinal de aproximação entre os negócios e a cultura, algo que em Portugal tenderá a revelar-se bom para os negócios e mau para o estado. Por outro lado – e porque todas as moedas têm duas faces – a entrega da direção geral a alguém que “está fora das tricas miudinhas” que habitualmente dominam este setor, pode vir a revelar-se uma boa opção. O tempo o dirá.
Com Bernardo Alabaça entrarão também em funções, Fátima Marques Pereira, “com competências nas áreas da arte contemporânea, políticas museológicas e gestão de coleções. Foi Diretora do Arquipélago – Centro de Arte Contemporânea e exerceu o cargo de Subdiretora na Direção Geral das Artes. Mestre em História Contemporânea pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, exerceu diversos cargos de gestão académicos e científicos” e Rui Santos, que “reforça as competências da DGPC nas áreas financeiras e de gestão de recursos humanos. Exerceu funções de Secretário Técnico do Programa Operacional de Valorização do Território e de outros programas operacionais, no âmbito do Portugal 2020. É licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra“.
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Atualizado em 15FEV2020 às 16:03