Crónica de Psicologia por Filipa Marques
Velhos são os trapos!
Velhos são os trapos!
O aumento da população idosa no mundo é uma preocupação gritante.
Vivemos cada vez mais anos graças ao progresso da ciência, nomeadamente a nível dos cuidados de saúde. Perante uma maior longevidade surge um novo desafio – melhorar a qualidade de vida de cada pessoa, o que engloba o bem-estar psicológico.
Infelizmente, o bem-estar psicológico dos idosos é muitas vezes descuidada, visto como um bem secundário colocado atrás da necessidade dos cuidados de saúde e bem-estar físicos. Hoje gostaria de reavivar a mensagem de que ambos, bem-estar físico e psicológico, são igualmente importantes!
Que fatores contribuem para o bem-estar e saúde psicológicos dos adultos idosos?
Em primeiro lugar aponto as relações interpessoais, concretamente as relações familiares e sociais. Todos sabemos que a família é um núcleo imprescindível para a pessoa idosa na maioria dos casos. Muitas vezes, quando os familiares não são presentes e/ou não dão o apoio prático e emocional necessário, surgem sentimentos de isolamento e mal-estar, que podem até culminar em sentimos depressivos e falta de sentido para a vida. Também a relação com amigos, vizinhos e outros significativos é de extrema importância e deve ser mantida tanto quanto possível. É dos vizinhos que muitas vezes vem a ajuda prática para situações de urgência no dia-a-dia ou um simples gesto de levar um pedaço de bolo acabado de fazer, que permite à pessoa idosa sentir-se segura e acarinhada.
Aponto como segundo fator a realização de atividades que mantêm a pessoa ativa, como por exemplo a manutenção de hábitos de leitura, participação em universidades séniores ou realização de hobbies que a pessoa goste. Estas atividades estimulam cognitivamente e fisicamente a pessoa idosa e tornam-se essenciais para o seu sentimento de utilidade e competência enquanto pessoa.
Por último, um tópico de grande relevância para o bem-estar psicológico da pessoa idosa prende-se com a autonomia pessoal. Enquanto estiver na posse das suas habituais capacidades de raciocínio e discernimento a pessoa idosa deve ser ouvida e tomada em consideração nas decisões sobre si própria, bem como realizar as tarefas que sempre realizou sozinha. Vejamos o seguinte: durante toda a vida a pessoa teve autonomia e foi adulta o suficiente para tomar as suas decisões e se responsabilizar pelos seus comportamentos. Porque é que, chegando a determinada idade, a pessoa deixa de ser vista como um adulto e passa a ser olhada como alguém com poucas capacidades só pela idade que tem? Porque é que muitas vezes lhe são retiradas tarefas que fazia com regularidade, por exemplo algumas tarefas domésticas, quando ainda o consegue fazer? Manter a autonomia pessoal dá às pessoas sentimento de bem-estar.
Este é um tema de debate urgente. É uma realidade que deve ser pensada e agida o quanto antes. Muito mais haveria a dizer, mas deixo-vos apenas um desafio: Olhemos para os adultos idosos que se encontram à nossa volta e examinemos à luz do nosso entendimento, qual o sentimento de bem-estar que cada um sente. Poderá ser melhorado? Como podemos nós proporcionar-lhes um maior bem-estar?
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