Crónica de Psicologia por Filipa Marques | Corpo escultural – a quanto custo?

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Crónica de Psicologia por Filipa Marques
Corpo escultural – a quanto custo?

 

Corpo escultural – a quanto custo?

O uso de esteroides é um tema na ordem do dia, infelizmente pelos piores motivos. É tempo de parar e pensar sobre isso.

O Miguel tem 21 anos e começou a trabalhar este ano depois de acabar os estudos em engenharia mecânica. Decidiu que é tempo de começar a ser mais independente e a apostar mais em si próprio. Cumpriu a resolução de ano novo e entrou no ginásio em janeiro. Frequenta o ginásio há 9 meses e já vê resultados: os abdominais estão a ficar bem definidos e os restantes músculos estão mais firmes. Mas o Miguel é ambicioso e quer ter um corpo escultural. Na semana passada ofereceram-lhe esteroides no ginásio, para experimentar e comprar se gostasse dos resultados. O Miguel recusou: para ele, um corpo escultural não se obtém por qualquer via e está consciente dos perigos para a sua saúde.

Vivemos numa sociedade em que a imagem corporal é sobrevalorizada. Somos constantemente bombardeados por marcas de roupa, produtos de beleza, estereótipos de perfeição que não conseguimos alcançar. Esta ideia da sociedade, silenciosamente enraizada, faz-nos criar expectativas irrealistas acerca de nós próprios. Leva-nos a desejar estar na pele e no corpo dos outros. Por isso, muitas vezes somos inseguros e não nos aceitamos como somos. Face a isto geralmente as pessoas adotam diferentes atitudes: uns resignam-se à sua condição física e permanecem inseguros, sem nada fazer para mudar (o que não é de todo o mais desejado). Outros trabalham para alcançar os objetivos que perseguem: com muito exercício e um estilo de vida saudável. Outros, não contentes com um corpo bem definido enveredam por caminhos que podem ter consequências graves – o uso de esteroides e/ou outros suplementos hormonais que aumentam o seu desempenho e condição física, nomeadamente o crescimento rápido dos músculos. Mesmo que para isso arrisquem a sua saúde.

Nas mulheres o uso de esteroides pode ter como efeitos secundários a queda e enfraquecimento do cabelo, alterações no timbre da voz, mudanças no ciclo menstrual e aumento da infertilidade. Nos homens há alterações na pele, calvície, impotência sexual e infertilidade, aumento do volume do tecido mamário e até mesmo possíveis alterações hepáticas e intoxicação. Para além destes efeitos, a nível psicológico e comportamental muitas vezes há um aumento da agressividade e irritabilidade, impulsividade, dificuldades a nível da memória e até dependência, principalmente porque o uso de esteroides leva ao alcance de resultados físicos extraordinários, dificilmente conseguidos pela mera realização de exercício.

O que me preocupa? A acessibilidade fácil a este tipo de substâncias. A desinformação face aos seus efeitos negativos. A pressão social para o alcance de padrões de beleza sobre-humanos. A oferta a adolescentes que, cada vez mais cedo, se preocupam com a sua forma física e por vezes não têm capacidade de análise crítica sobre os seus comportamentos e as ofertas que lhe são feitas e que, a todo o custo, desejam ser socialmente aceites e valorizados.

É desejável e necessária uma vida saudável – com uma boa alimentação, exercício físico. É desejável sentirmo-nos bem connosco próprios e com os outros, incluindo a nível físico. Mas não é isso que está em causa. Na minha opinião, é mais do que isso. Aquilo de que estamos a falar, resume-se para mim a uma pergunta: corpo escultural – a quanto custo? Pensemos nisto.

 


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Filipa Marques Psicologia


 

 

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