Crónica de Psicologia de Filipa Marques
Relações em pandemia ou pandemia das relações?
Estamos em tempo de quarentena.
Longe de muitas pessoas que gostamos. É agora a altura em que mais sentimos a falta delas. É importante, mais do que nunca, manter as relações. Reforçá-las, cuidá-las.
Em primeiro lugar, enquanto humanos somos seres relacionais. Vivemos em interligação uns com os outros e, por isso, manter a socialização em tempo isolamento é um importante fator para a manutenção de uma boa saúde mental.
Distância não implica ausência de relação. Pelo contrário! Uma relação positiva e saudável (entre pais e filhos, elementos de um casal, entre amigos) é aquela que nos permite estar longe e manter a segurança de que o outro continua a gostar de nós e vice-versa. Não obstante, se as relações não forem cuidadas, não sobrevivem. É necessário manter agora e prolongar para o nosso dia a dia “normal” o cuidado com o outro, porque a vivência social é uma das várias dimensões que permite ao ser humano sentir-se realizado.
Não é ao acaso que ao longo da história nos fomos agrupando em comunidades. É pela troca de bens materiais, afetivos e emocionais que o ser humano sobrevive e se sente útil e integrado. É por isso que, neste momento, elogio todas as iniciativas comunitárias de apoio aos que mais precisam, especialmente os idosos e mais isolados. Este apoio prático torna-se mais do que isso. Torna-se um meio para diminuir a ansiedade, medo ou até tristeza que muitos possam sentir neste momento, como é aliás normal face à gravidade do panorama mundial. Lamento apenas que seja necessária uma situação sanitária delicada para prestarmos atenção às necessidades prementes da população idosa em Portugal. É urgente criar meios para combater o isolamento e a débil saúde mental dos nossos idosos.
Lamento ainda que seja necessária uma pandemia para percebermos que muitas famílias têm dificuldade em relacionar-se. Dentro ou fora de uma quarentena, é importante o reforço do diálogo na resolução de problemas familiares. Pouco adiantam as fugas, evitamentos ou adiamentos dos problemas. É urgente também olhar para e pelas famílias. Criar planos de promoção de bem-estar familiar e terapia familiar acessível a todos.
Não querendo, de todo, romantizar a pandemia gravíssima que vivemos, podemos tirar dela ensinamentos que não devemos esquecer.
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