Crónica de Psicologia de Filipa Marques | O Estar em Multidão
O Estar em Multidão
Olá leitores. Hoje vamos pensar sobre o fenómeno das multidões.
Todos nós sabemos que o comportamento das pessoas muda consoante as situações. Uma situação em que muitas vezes há mudança nas atitudes individuais é quando as pessoas estão em multidão. Isto é visível por exemplo no estádio no decorrer de um jogo de futebol, em que as emoções de cada um podem ser demonstradas com maior intensidade do que o habitual ou a pessoa pode eventualmente tornar-se mais agressiva do que é no seu dia-a-dia. Outro exemplo prende-se com uma situação em que, numa multidão, alguém grita “fogo”: aí será fácil as pessoas (até as mais calmas!) estremecerem de medo e agirem de modo pouco racional.
Mas, porque é que este fenómeno acontece? Porque é que o facto de uma pessoa estar numa multidão a leva a agir de forma diferente do seu modo habitual?
Os estudos na área de Psicologia têm apontado dois caminhos para responder a estas questões.
Uma das hipóteses refere que as pessoas tornam-se irracionais quando se encontram em multidão, cedendo a impulsos e instintos que, geralmente, estão inibidos em situações comuns do dia-a-dia. Isto acontece porque há uma desinviduação ou seja, a pessoa perde a consciência de si própria enquanto pessoa individual e autónoma e passa a assumir a identidade do grupo onde está inserida nesse momento. Neste caso, a natureza dos comportamentos que a pessoa passará a adotar dependem do grupo e da situação. Por exemplo, adotar comportamentos agressivos numa manifestação.
A outra hipótese considera que o comportamento das pessoas numa multidão depende daquilo que cada pessoa acha que é a melhor solução para aquela situação e do que pensa que os outros vão fazer. Por exemplo, no caso de um incêndio, se eu achar que os outros vão manter a calma e cooperar para sair pelas saídas de emergência, então eu vou fazê-lo. Se eu achar que esse é o melhor método de agir, mas penso que os outros vão entrar em pânico e correr para ver quem sai primeiro do edifício, então eu vou correr também para assegurar a minha segurança. No entanto, a solução mais viável para todos ocorre quando há um pensamento coletivo de cooperação, em que todos conseguem manter a calma. Com maior probabilidade todas as pessoas conseguem ficar em segurança. Porque, se uma só agir em função do medo, então porá em risco a segurança daqueles que estão a agir calmamente para sair do edifício.
Muito mais haveria a explorar sobre este tema e daqui derivam questões mais profundas e muito delicadas. Por exemplo, porquê a escalada das multidões para a violência?
Sem criar alarmismos nem pessimismos pensemos na alteração do comportamento individual face às multidões e estejamos abertos a falar sobre isso. Para além disso, analisemos as nossas próprias ações (é sempre esse o nosso ponto de partida). Como me comporto em situações de multidão? Mais consciente disso, devo alterar em alguma coisa o meu modo de estar em multidão?
Referências Bibliográficas
Gleitman, H., Fridlund, A. J., & Reisberg, D. (2011). Psicologia (9ª ed). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
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