O Natal, para a maioria das pessoas, é a data em que se celebra o nascimento de Jesus, mas existem centenas de celebrações nesta época, que remontam a tempos anteriores ao cristianismo. Estas celebrações pagãs e pré-cristãs faziam-se em homenagem ao Sol. O Sol foi pois substituído por Cristo.
Em Portugal, nos dias de hoje, ainda se celebram algumas destas festas pagãs e pré-cristãs e entre elas, os Caretos.
Os Caretos são “figuras diabólicas” que “transpõem o lado obscuro do ser humano para a realidade (…) e assim levam à libertação do lado mais trapaceiro e diabólico da alma humana, de forma a expurgá-lo e a purificar a comunidade para o novo ano.
Os Caretos, associados às festividades do solstício de Inverno, no nordeste transmontano são habitualmente representados por rapazes solteiros mascarados. Os caretos usam máscaras “com um nariz saliente, que pode ser feita de couro, latão ou madeira, e pintada de vermelho, amarelo, preto ou simplesmente com a madeira adornada por chifres ou outros adereços. Para além da máscara, os Caretos vestem um fato colorido feito de colchas com franjas compridas de lã ou outro tecido, sendo estas franjas maioritariamente coloridas de vermelho, amarelo e verde.” A tudo isto, na cintura, juntam-se chocalhos ou pequenos sinos com badalo”.
Na aldeia de Varge, em Trás-os-Montes, os Caretos de Varge, ou Festa dos Rapazes, celebra-se no Natal, quando os homens solteiros, mascarados, espalham a desordem absoluta na aldeia, chocalhando as mulheres.
“No dia 25 de Dezembro (…) Caretos, espalhando o caos e a desordem pela aldeia, saltando, gritando e rindo ao som dos seus chocalhos e de um gaiteiro acompanhado por bombo e caixa. O feno é atirado ao povo, as raparigas são achocalhadas, a água das fontes é espalhada e os animais são provocados. A atmosfera da aldeia transforma-se e cria-se a sensação de um mundo sobrenatural onde até o frio parece desvanecer. (…) Estes representam o espírito do ano novo, e a promessa de fertilidade e abundância, sendo as loas o exorcizar de negativismo no seio da comunidade.”
Por altura do Natal, nos dias 24, 25 e 26 de Dezembro, em Ousilhão, concelho de Vinhais, no Nordeste transmontano celebra-se a Festa de Santo Estêvão, da qual os Caretos de Ousilhão fazem parte.
Aqui, os “(…) mordomos da festa de Ousilhão têm uma configuração particular, visto que são constituídos por um “rei”, dois “vassalos” e quatro “moços”. Os moços são os mordomos propriamente ditos, mas o rei e os vassalos tem uma função altamente simbólica, sendo o rei um jovem que o desejou ser anteriormente ou alguém que deseja pagar uma promessa.”
Os caretos “animam com as suas tropelias, travessuras e o achocalhar, andando pela aldeia a gerar o caos entre a população após as missas e fazendo das suas tradicionais rondas em busca de oferendas de enchidos.”