Autárquicas 2021 | Mafra – Entrevista com Renato Santos [Partido Socialista]

 

Jornal de Mafra – Quem é Renato Santos, na vida, na profissão e na política?
Renato Santos –
Tenho 33 anos feitos há meia dúzia de dias, sou casado e pai. Fui escuteiro e procuro seguir o ensinamento de uma frase de Baden Powell, que reza assim, “Procura deixar um mundo melhor do que aquele que encontraste”, e é essa a minha função. Fui Presidente da Mesa da Filarmónica da Ericeira E sou dador de sangue.

Profissionalmente, neste momento desempenho funções na Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, em Lisboa, como colaborador na área da contratação pública e trabalho com start-ups. Em regime de voluntariado, e por opção própria sem ajudas de custo, sou Presidente da Associação das Obras Assistenciais da Sociedade de S. Vicente de Paulo, temos lares em Mafra, na Ericeira e em Sintra, em Odivelas temos centro de dia e creche, empregamos cerca de 150 funcionários e temos um volume de negócios na ordem dos 3 milhões de euros.

Não apareci ontem no concelho nem vou desaparecer daqui amanhã

Sou nascido e criado em Mafra, estudei na primária de Azenhas dos Tanoeiros, fiz a telescola no Barril, passei pela Escola António Bento Franco da Ericeira, depois pela José Saramago em Mafra e finalmente fui para a faculdade.

Em 2009 fui candidato à Junta de Freguesia da Encarnação, onde o melhor resultado até aí tinha sido 200 votos, e eu tive 400, quase sem fazer campanha.

Não apareci ontem no concelho nem vou desaparecer daqui amanhã.

Jornal de Mafra – Como surgiu a política na sua vida?
Renato Santos –
Um dos momentos-chave ocorreu quando conheci o André Couto, atual Presidente da Junta de Freguesia de Campolide. Mais tarde, fundei a JS em Mafra, que passou de 50 para 400 militantes, de resto, no último mandato do presidente Ministro dos Santos, quem fez a verdadeira oposição fomos nós.

Em 2010, na Encarnação conseguimos o orçamento participativo e a utilização do período antes da ordem do dia, que até aí não existia, a duração da reunião da Assembleia de Freguesia não ia, então, além de meia hora.

É este o caminho que me traz aqui hoje, talvez mais cedo do que aquilo que tinha contado.

Jornal de Mafra – Há alguma explicação para que haja pelo menos cinco dirigentes do PS Mafra a trabalhar na Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, em Lisboa, uma junta do PS?
Renato Santos –
Não. Não, acho que a competência é reconhecida e acima de tudo, eu acho que vai muito por aí. Todos nós temos funções diferentes, fazemos coisas das nossas áreas de formação, estar ali ou estar na Câmara Municipal de Torres Vedras é exatamente igual. Pessoalmente, não vejo como um cacique ou como um meio de pressão, não posso.

Jornal de Mafra – Quais foram as principais propostas estruturadas e as principais iniciativas políticas defendidas pelo PS nestes últimos 4 anos na Câmara e na Assembleia Municipal?
Renato Santos –
As águas, uma proposta nossa desde o início. A habitação, o programa que foi aprovado, que é curto, mas que é um início, foi uma proposta do partido socialista. A requalificação do Largo da Feira da Malveira é uma proposta do partido socialista. Estas são três propostas emblemáticas que foram do partido socialista.

Não é difícil entender que a GIATUL não passa do braço armado da câmara municipal

Posso referir outra, que foi anunciada na campanha há 4 anos e que hoje é uma realidade, refiro-me à requalificação do posto da GNR do Livramento.

Jornal de Mafra – Como se explica que o PS tenha votado a favor da esmagadora maioria das propostas que foram à Câmara e à Assembleia Municipal apresentadas pela gestão do PSD, propostas que representaram, naturalmente, o cumprimento do programa eleitoral da maioria. Onde está a diferença entre as duas forças políticas?
Renato Santos –
Dou um exemplo, surge a proposta de construir um parque na freguesia X, uma proposta do PSD. Há duas hipóteses, ou votamos a favor, ou votamos contra, não consideremos neste exercício a possibilidade de abstenção.

Jornal de Mafra – Poderiam, eventualmente, apresentar uma proposta alternativa, não é assim?
Renato Santos –
Pois, mas quem tem o dinheiro é o PSD. Por muito barulho que eu faça, o PS tem dois vereadores e o PSD tem 7. Eu tenho de votar a favor, porque é um parque para a população, mas se me perguntarem qual é a minha opinião em relação a este parque, eu faria outra coisa.

Também é importante ser responsável, porque votar não, simplesmente porque não, também não é caminho, porque seriamos então como a CDU ou como o Chega. Como diz o povo, não se pode querer sol na eira e chuva no nabal.

Se me perguntarem se faz sentido a quantidade de parques com 3 máquinas e ervas de metro e meio à volta, a resposta é não, como não faz sentido a falta de médicos em Mafra, e se calhar, fazia sentido utilizar o dinheiro da construção de mais um parque, para incentivar os médicos a vir para o concelho.

Mas temos de votar a favor, porque eu não posso ser faccioso e votar contra propostas boas para Mafra, venham elas da CDU, do BE e do PAN.

Jornal de Mafra – Isso não corresponde, de algum modo a reconhecer a bondade da política da maioria, esvaziando assim as potencialidades do vosso programa enquanto alternativa na gestão da autarquia?
Renato Santos –
A diferença é essa, o caminho alternativo. Gastar 2,5 milhões de euros num parque verde deixa a população toda encantada, eu até votei a favor do parque verde, porque é um parque para a população, mas com 2,5 milhões de euros pode fazer-se tanta coisa.  Há muita gente a viver mal no concelho de Mafra, nomeadamente, com problemas de habitação. Aqui encaramos uma questão de prioridades. Quero ter um concelho com muitos parques verdes ou quero um concelho com habitação? E por se votar a favor de uma coisa, não quer dizer que não queira a outra.

Que sentido faz, nos dias de hoje, manter um matadouro na esfera pública? Ou não passará de mais um local para…

Jornal de Mafra – Mas a política não é isso mesmo, a escolha de um caminho entre vários caminhos disponíveis?
Renato Santos –
Sim, a escolha é exatamente essa, mas eu não posso inviabilizar um parque, o que eu posso dizer é “este dinheiro fazia falta era aqui”.

Vou dar o exemplo da CDU, que sendo favorável à remunicipalização das águas, não foi a favor do empréstimo para pagar a indemnização à Be Water. É preciso ser intelectualmente honesto nas votações.

Jornal de Mafra – A propósito dos SMAS, que balanço faz da gestão destes serviços, tendo em conta que um dos vice-presidentes é um vereador do PS? O preço da água afinal aumentou ou reduziu-se? E o serviço melhorou?
Renato Santos –
O preço reduziu-se.

A existência de um vereador do PS na administração dos SMAS é suis generis, porque eu não posso dizer que quero governar uma câmara municipal e depois, quando surge a possibilidade de demonstrar no terreno a forma do PS fazer diferente, dizer que não vai para a administração porque a gestão é do PSD.

Sei que têm sido levadas propostas ao Conselho de Administração dos SMAS propostas que representam posições nossas.

Jornal de Mafra – Quer especificar?
Renato Santos –
A integração dos trabalhadores a recibos verdes e a adoção de algumas aplicações que permitam a ligação entre o cidadão e os SMAS foram propostas do PS.

O nosso caminho não é um caminho que se faça em 6 meses ou num mandato. Hoje olha-se para as eleições em Mafra, quase como um rumo inevitável, mas temos duas alternativas, ou me coloco à margem e fico à espera que um dia ganhe, ou temos de nos afirmar como um partido que consegue fazer diferente. Deem-nos uma oportunidade. E a oportunidade dada, foi nos SMAS, e vamos usar essa oportunidade para mostrar que sabemos fazer diferente.

Jornal de Mafra – Portanto, o serviço melhorou e os preços reduziram-se?
Renato Santos –
As pessoas confundem os SMAS com a SUMA e o contrato com a SUMA tem falhas e o serviço piorou substancialmente. Nos SMAS verifica-se um investimento na cobertura e há um investimento reduzido no saneamento, mas está a existir.

No dia em que tomarmos posse queremos reunir com o Conselho de Administração da GIATUL, para nos elucidar de tudo o que se passa nesta empresa municipal

Jornal de Mafra – Após as eleições, o PS Mafra pretende manter um administrador nos SMAS?
Renato Santos –
Após as eleições, se tudo correr bem, o Presidente do Conselho de Administração dos SMAS serei eu.

Jornal de Mafra – E caso isso não aconteça…
Renato Santos –
Faremos uma análise da situação e decidiremos em função daquilo que for melhor para o partido socialista. De resto não há nada na estrutura dos SMAS que obrigue à presença de um administrador do partido socialista, ou na GIATUL ou no Matadouro Municipal.

Jornal de Mafra – Que avaliação faz das atividades da empresa municipal GIATUL?
Renato Santos –
Mas o que é que a empresa faz? Toma conta do parque de campismo, organiza em subcontratação o Sumol Summer Fest e adjudica obras. Se a GIATUL faz obras, que contrato possui para fazer as obras? Sai mais barato, de certeza, comprar material e fazer as obras, ou então extingam a GIATUL.

Não é difícil entender que a GIATUL não passa do braço armado da câmara municipal. Porque quem a gere, quem ganha os ordenados, atua como o braço armado da câmara, e se na câmara não há uma total transparência, a GIATUL está envolta num denso nevoeiro.

Temos de olhar para isto e perceber aquilo que a GIATUL é realmente. Olhemos também para o Matadouro, onde temos administradores altamente conectados com o PSD, alguns deles, potenciais candidatos às juntas de freguesia, e quando se soube que estavam a arrumar a casa para os candidatos, cria-se uma vacatura no conselho de administração, com um vencimento para um administrador que não é administrador.

Que sentido faz, nos dias de hoje, manter um matadouro na esfera pública? Ou não passará de mais um local para…

Jornal de Mafra – O PS já levantou essas questões na vereação e na Assembleia Municipal?
Renato Santos –
Já. A questão foi levantada no mandato anterior, mas deparámo-nos com os subterfúgios da lei, argumentando-se que está tudo legal. E é verdade, legalmente está tudo certo, eticamente está tudo errado.

Uma empresa que aparece hoje, e seis meses depois fatura meio milhão de euros à GIATUL, e para fazer o quê? Ninguém sabe, não é mostrado. Pior ainda é o facto de eu ver contratos com empresas e depois não as ver na rua a fazer trabalho, não têm carrinhas? Não têm coletes? Não têm material com o nome da empresa?

Que empresas são estas? São empresas satélite. São empresas que ganham contratos mas que ninguém consegue identificar. Provavelmente, em termos legais estará tudo perfeito, mas eticamente é terrível.

No dia em que tomarmos posse, queremos reunir com o Conselho de Administração da GIATUL ou com o administrador delegado, para nos elucidar de tudo o que se passa nesta empresa municipal. Se a empresa não passa de um mero veículo de contratação, porque tem 10 empregados para fazer meia dúzia de passeios, então, ou contratam pessoal, ou que se extinga a GIATUL, ou que fique só a tratar do parque de campismo.

Jornal de Mafra – Que avaliação faz da gestão da maioria no mandato que agora termina?
Renato Santos –
Agora torna-se simples invocar a pandemia, pois embora a pandemia tenha criado muitos problemas, ela não pode ser uma explicação para tudo. Na verdade, construíram-se parques, o parque da Venda do Pinheiro, recuperou-se a capela da Venda do Pinheiro, já se construiu um parque no Milharado, fez-se o Parque Intermodal da Ericeira.

Embora por baixo do tapete, a habitação é um grande problema do concelho de Mafra. Hoje, ninguém consegue morar na Ericeira, a menos que ganhe mais de 2 mil euros líquidos por mês

Ao contrário daquilo que o presidente da câmara gosta de dizer, estas são obras do governo. É certo que a câmara municipal colocou algum dinheiro, como fazem todas as outras câmaras, não é só o coitado do Hélder Sousa Silva que tem de colocar dinheiro nas obras do governo.

O presidente da câmara que mostre as transferências do estado central para o Posto da GNR do Livramento, para os Centros de Saúde, para a retirada do amianto da escola da Ericeira e para a recuperação das escolas, ele que mostre.

Há outra coisa que nos preocupa. Vamos sensivelmente a meio dos contratos com a Mafraeduca, algo que ainda ninguém percebeu, vamos a meio dos contratos. É necessário discutir esta questão no próximo mandato. O PS já levantou esta questão, mas muitas vezes, nós perguntamos A e respondem-nos B.

Nós temos feito propostas de peso e com coerência, uma coisa que o PS não fez noutros tempos, também tenho sido crítico com o passado, mas nestes últimos oito anos tivemos muita coerência. Destaco a questão do IMI e das águas, são propostas nossas, têm o carimbo socialista.

Hoje as pessoas reconhecem que fazemos uma oposição responsável, que não queremos só dizer não, e pela primeira vez o PS repetiu um vereador, enquanto antigamente, eles desapareciam, nem sei bem porquê, prefiro nem pensar.

Jornal de Mafra – Quais são as principais propostas do PS para o próximo ciclo autárquico?
Renato Santos –
Desde logo, baixar a taxa do IMI, e depois, criar um parque habitacional digno e que as pessoas possam pagar.

Embora por baixo do tapete, a habitação é um grande problema do concelho de Mafra. Hoje, ninguém consegue morar na Ericeira, a menos que ganhe mais de 2 mil euros líquidos por mês.

É necessário resolver o problema da Tratolixo. Já visitei a Tratolixo umas 20 vezes e nem os técnicos me conseguiram explicar. Continua o cheiro nauseabundo que dali se emana e o problema financeiro mantém-se, a solução passa por integrar a Tratolixo na Valorsul, mas para isso tem de se perder o amor à quintinha, até porque esta empresa trata a tonelada a um preço mais baixo, o que se refletiria depois na fatura do utilizador. Incinerar lixo não é bonito, mas enterra-lo, como se faz na Tratolixo, é bem pior.

A construção de um viaduto que faça a ligação da A16 à A21 é essencial por razões económicas e por questões de segurança, pois morre gente naquela estrada caótica. A construção deste viaduto é uma obra fundamental, que o atual executivo devia ter feito e não fez, porque preferiu fazer coisas que dão inaugurações pomposas.

Temos hoje 8 anos de Hélder Sousa Silva e eu pergunto, qual foi a obra que marcou o concelho? Zero. Não há um hospital, nem uma universidade há em Mafra. Os cursos CTCS não são cursos universitários. Sintra tem, Odivelas tem, Torres tem um polo universitário, não peço a Universidade de Mafra, peço um polo universitário.

À exceção da câmara municipal e da Associação de Socorros da Encarnação, esta na área da saúde, não há emprego qualificado em Mafra. Para além da Cubotonic, que tem alguns programadores, não há outras empresa tecnológicas em Mafra.

Queremos uma política para as pessoas, não queremos uma política de inaugurações e de corta fitas. Os idosos do concelho estão ao abandono, nas creches não há vagas e ninguém diz nada, ninguém faz nada será porque não dão inauguração?

Estive na Business Factory de Mafra, onde há 5 ou 6 empresas. Não há uma única tecnológica, o gabinete do empreendedor só tem uma mesa vazia e uma placa com os dizeres “Gabinete do Empreendedor”. Quantas startups foram criadas em Mafra?

Queremos uma política para as pessoas, não queremos uma política de inaugurações e de corta fitas. Os idosos do concelho estão ao abandono, nas creches não há vagas e ninguém diz nada, ninguém faz nada, será porque não dão inauguração? A CPCJ de Mafra tem duas técnicas a tempo inteiro, o resto são técnicas cedidas. Não há casos sociais em Mafra? O último diagnóstico social de Mafra é de 2015.

Jornal de Mafra – Que utilização defende para os fundos do PPR no concelho de Mafra? O PS produziu uma proposta alternativa?
Renato Santos –
É simplesmente hilariante quando um autarca que se diz não subsídio-dependente, apresenta um plano com o módico valor previsto de 790 milhões de euros.

Há ali coisas que fazem sentido e que eu defendo. Um hospital, um viaduto, mas não numa central de dessalinização, isto é Israel e vivemos num deserto? Quando se lê a proposta da câmara para utilizar as verbas, só lá falta uma pista de Fórmula 1 e um Aeroporto.

Jornal de Mafra – Qual é a vossa proposta para utilizar estas verbas?
Renato Santos –
Dotar Mafra de condições. Um hospital é fundamental, o parque habitacional privado tem de ser renovado e temos de investir nas pessoas.

Este comboio só vai passar uma vez e se nos concentramos em elefantes brancos e em criar estruturas que ficam ao abandono e cheias de ervas perderemos o comboio. O PRR tem de ser muito mais do que uma oportunidade para cortar fitas, tem de ir diretamente às pessoas e não deverá passar por distribuir dinheiro pelos amigos.

Hélder Sousa Silva também é o presidente dos autarcas social democratas e não o é, só quando lhe dá jeito, mas o que ele não pode fazer é dizer uma coisa em Lisboa e outra em Mafra. Em Lisboa queixa-se do aproveitamento político do PRR e aqui promete o mundo.

Jornal de Mafra – Mas o PS tem uma proposta estruturada para aplicar estas verbas?
Renato Santos –
Tem. A construção de um hospital que sirva Mafra, Torres Vedras e Sobral de Monte Agraço, que abrange 180 mil pessoas. Temos que apostar na contratação de pessoal médico, e não me venham dizer que não há dinheiro, temos de ter no concelho todos os meios auxiliares de diagnóstico. É preciso construir uma nova escola secundária. É preciso atalhar a transformação do eixo Malveira/Venda do Pinheiro, num dormitório.

A ideia é levar Mafra para o século XXI, com todos, sentando todos à mesma mesa e não tratando ninguém como se fossem filhos de um deus menor

Jornal de Mafra – O exercício da transparência municipal no concelho de Mafra e o respeito pelo estatuto das oposições estão vivos em Mafra? Que propostas apresentou o PS na câmara ou na Assembleia Municipal para salvaguardar o exercício destes dois valores democráticos?
Renato Santos – 
O PS tem uma visão que é deferente da visão do PSD. Se o PS ganhar a câmara, a ideia é levar Mafra para o século XXI, com todos, sentando todos à mesma mesa e não tratando ninguém como se fossem filhos de um deus menor.

Temos diferenças ideológicas, às vezes abissais, com os outros partidos de esquerda, mas sabemos que a nossa génese é a mesma, consistindo em criar uma Mafra melhor para as pessoas, o que varia é a forma de lá chegar.

Jornal de Mafra – O PS tem acedido facilmente aos documentos que pede à câmara?
Renato Santos –
A título de exemplo, eu levantei uma série de questões e pedi uma série de dados na primeira Assembleia Municipal presencial pós-covid, e ainda hoje estou à espera das respostas.

O Portal Base veio trazer luz aos ajustes diretos, às consultas prévias e aos concursos públicos, mas é preciso fazer luz sobre os ajustes diretos simplificados, que não carecem de publicação, mas que também contam. Apostaria que iremos encontrar aí muitas surpresas.

Jornal de Mafra – O caso dos censos na freguesia da Encarnação e o caso da divulgação de dados dos doentes covid por parte de Hélder Sousa Silva mereceram ao PS alguma tomada de posição na câmara ou na Assembleia Municipal?
Renato Santos –
A questão da divulgação das moradas dos doentes covid mereceu uma tonada de posição nossa na Assembleia Municipal. Este caso mostrou a essência a vir ao de cima e mesquinhez, eu tenho de saber quem é o vizinho que tem covid, tenho que lhe pintar uma estrela e um símbolo na porta… Não posso ter presidentes de junta que se alegram de fiscalizar os cidadãos. Isso era no tempo da outra senhora. Isso é grave.

Quanto ao caso dos censos na Encarnação, a questão é ética, ética pura e dura, vai da consciência de cada um. Vemos os que estão na primeira fila arvorar-se nos arautos da verdade, batendo com a mão no peito, dizendo-se ultra educados, ultra conservadores e depois cometem um erro caraterístico de alguns regimes africanos, que nomeiam para uma empresa de petróleos, enquanto aqui nomeiam para os censos.

Há uma frase que me ensinaram e que quero aqui registar, “um porco é sempre um porco, o que muda é o tamanho da pia”.

Jornal de Mafra – Tiago Alves que foi eleito pela lista PS da Igreja Nova em 2017 vai concorrer pelo PSD. O que se passou? Esperam manter a junta?
Renato Santos –
Vamos a uma analogia futebolística, chegou o clube que paga mais e que dá menos chatices. A questão do Tiago é muito simples, quando foi nomeado na Assembleia Municipal, para a Comissão de Defesa Florestal, sem dar conhecimento ao Presidente da sua Junta de Freguesia, deu um sinal. Quando o Presidente da Junta da União de Freguesias da Igreja Nova e Cheleiros decide que se limpe a rua x, porque a população assim o pediu, e a rua que é limpa é a rua y… Tiago Alves não pode vir dizer que é independente e depois aparecer na lista do PSD. Ética cada um tem a sua.

Jornal de Mafra – Esperam manter a junta?
Renato Santos –
Perdemos o número dois, mas o Tiago nunca teve a coragem de romper com o Elísio Varandas e sair no meio do mandato, preferiu ficar ali a queimar em lume brando. A ética não se ensina, ou se tem ou não se tem.

Jornal de Mafra – Que avaliação faz das relações entre a câmara e a comunicação social do concelho? Há 3 órgãos de comunicação social (OCS) a viver em espaços municipais, incluindo uma rádio comodatada, onde o senhor presidente do concelho se dirigiu semanalmente aos munícipes. Como é que o PS olha para a equidade de tratamento dos vários OCS?
Renato Santos –
Estou aqui desde 2009, já passei por diversos cargos, mas é a primeira vez que vou à RCM, estou entusiasmadíssimo…

A questão da RCM deixa-me espantado, porque ninguém percebe. Não consigo perceber se a rádio só faz futebol e festas e um misto de programa “Olhó Baião” com aqueles programas de futebol do Rui Santos. Quanto ao resto, não há um programa de política, não há nada. Há quase um Goebbels, chamemos-lhe assim, que agora tomou conta dos cartazes e que tudo aquilo que o senhor presidente de câmara faz merece loas e ámenes.

Se até ditadores caem, porque é que Mafra não há de cair?

Uma das visitas que vou querer fazer depois de ganhar a Câmara Municipal de Mafra é à RCM. Quero que me expliquem como é que funciona, qual é a sua atuação, a câmara cede o espaço e eles vivem de quê? Vivem dos anúncios? É a máquina da câmara que anuncia na rádio? Não consigo entender como é que a rádio subsiste.

A Mafra TV é só imagem, faz umas coisas, acho que faz umas coisas para fora, não sei se faz as reportagens e as vende, ainda não consegui perceber. Está num espaço municipal, mas paga uma renda e até pagam um valor bastante elevado, também não consigo entender como é que subsiste.

E depois há o jornal Daqui, se eu lá quiser escrever é simples, ponho lá um anúncio grande. A candidata do PSD à Junta da Malveira e S. Miguel de Alcainça começou a escrever nesse jornal no dia em que a sua empresa familiar comprou uma página de publicidade. Isto não é física quântica, 1 mais 1 são mesmo 2.

Os apoios municipais devem ser equitativos, gerais e transparentes, os anúncios da câmara devem ser publicados em todos os jornais locais. Excluir órgãos de comunicação social local é uma coisa do tempo da outra senhora, por mais duros que sejam, desde que não mintam e se mentirem também há meios legais para os penalizar.

Jornal de Mafra – Parece haver uma alteração qualitativa e de empenho político nesta pré-campanha do PS Mafra, trata-se de uma inflexão estratégica ou isto é apenas conjuntural?
Renato Santos –
Isto é um caminho e daqui a 4 anos será ainda mais evidente. Isto vai mudar, não haja dúvidas. Almada caiu, Loures também caiu, se até ditadores caem, porque é que Mafra não há-de cair?

Jornal de Mafra – Afirmou recentemente que o objetivo é duplicar o número de votos no PS. Acredita mesmo nisso?
Renato Santos –
A minha declaração não foi essa, eu disse, isso sim, que se duplicarmos o número de votos ganhamos a câmara.

Há muita gente nova no concelho, gente que veio de fora, gente que conhece outras realidades. Os cidadãos que chegam a Mafra, e que já viveram noutros locais, podem comparar, é gente que não está ligada à máquina, gente que pode viver, por exemplo na Venda do Pinheiro, onde se construiu um parque bombástico que tem 2 hectares, mas que é aqui vendido como sendo a melhor coisa do universo, mas que só o é para quem não tiver termo de comparação. O Parque Urbano da Rinchoa, por exemplo, custou metade do dinheiro, tem dez vezes o tamanho do parque da Venda, mas não tem os Guardiões do Parque, não tem este pensar pequenino.

Quem vem de fora e olha para estas ciclovias, acha que isto é uma estupidez. As pessoas têm de saber que há outro caminho.

Hélder Sousa Silva visitou esta semana uma instituição e disse o seguinte: “não podemos baixar o IMI porque deixamos de ter o carro do lixo a passar duas vezes por semana, nem pavimentar as estradas de x em x anos”. Pergunto, em Sintra, em Odivelas ou em Loures, em Torres, Sobral de Monte Agraço ou em Cascais, concelhos onde o IMI não está na taxa máxima, o camião do lixo só passa uma vez por mês? E as estradas são em terra batida?

Posso até não ganhar, só se saberá no dia 26, mas quando me sentar para conhecer os resultados, terei a consciência que fiz o melhor que sabia e que fui intelectualmente honesto

Jornal de Mafra – Há novos partidos na liça autárquica, há um partido que governa o concelho há muitos anos com maioria absoluta. Parte para a campanha eleitoral com que objetivos concretos?
Renato Santos –
O cenário é aqui o mesmo que se discute em todo o país. Como é que isto vai ficar? Ninguém sabe. Em 2017, o PS ficou a 200 votos de colocar o 3º vereador.

Acredito que o Iniciativa Liberal eleja um deputado municipal, já que eleja um vereador, tenho muitas dúvidas.

A pancada que o PSD vai apanhar agora, nós já a apanhámos com o BE e com o PAN. Nas últimas eleições, o PS manteve sensivelmente o mesmo número de votos, enquanto o PSD aumentou a sua votação depois de aniquilar o CDS, que desapareceu de Mafra, e deu uma forte pancada na CDU.

Com o Chega, o André Ventura teve 4.500 votos expressos nas presidenciais. Se o partido tiver agora 2.500 votos irá colocar um vereador. Isto é preocupante. Por que eu digo que eles são fascistas, podem pintar-se de ouro, mas são fascistas.

Acredito que vamos ganhar a câmara municipal e acredito que vamos ter mais vereadores. Por outro lado, o reforço de meios de campanha em Mafra por parte do PSD é enorme, mostrando grande preocupação. Se Hélder Sousa Silva perder 2 vereadores, ganha e fica com maioria, mas a imagem que vai projetar para fora do concelho será uma imagem de derrota.

 

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One Thought to “Autárquicas 2021 | Mafra – Entrevista com Renato Santos [Partido Socialista]”

  1. Maria Magalhães

    Na minha opinião fazia falta fazer habitação para os jovens na Ericeira a preços acessíveis com os salários praticados e o valor que pedem por um apartamento o banco não financia assim como arrendamento a preço acessível não existe na Ericeira o que é uma pena

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