Eram velhos jagozes, homens e mulheres, aqueles que ontem se deslocaram às instalações dos bombeiros da Ericeira para manifestar as suas preocupações, na sessão da Assembleia Municipal que ali teve lugar. Foram 5 os “porta-vozes” que se dirigiram à assembleia.
Hélder Silva disse-o, não desta forma, mas disse-o, que aquela era uma guerra entre jagozes e ericeirenses, entre aqueles que trazem do passado a sua forma de viver, daqueles para quem o peixe é/era uma forma de vida, para quem a Ericeira verdadeira era a de outros tempos, doutras vivências, com menos gente, com menos forasteiros e com espaço para todos, e os ericeirenses mais jovens e também aqueles que vierem viver para a Ericeira, com outro interesses e outras formas de viver o mundo, que por aqui vivem e por aqui pagam os seus impostos.
“a policia aparece e ela sai, a polícia sai e ela ofende tudo e todos […] as licenças foram dadas até à 1 hora da manhã mas a música é para chamar as pessoas e toca a bombar”
A Ericeira está diferente. Muitos estrangeiros, muito mais gente nos meses de verão, restaurantes mais cheios, mais bares, mais barulho, alojamentos locais à pinha durante meses, mais dinheiro para os negócios, mais reboliço, mais lixo, mais fumos com desconhecidos odores, muitos forasteiros com penteados e linguajares diferentes, e talvez mesmo, com mais um ou outro pequeno crime ao logo do ano. Esta é a Ericeira de hoje.
“a Ericeira sempre foi terra de restaurantes, bares e discotecas, mas nuca o ruído passava para o exterior […] havia respeito, o problema é o respeito ou a falta dele. Além do ruído há sujidade […] e têm as ditas licenças, até às 2 da manhã […] fazem o mais barulho possível para chamar o pessoal ali à volta”
Foram os jagozes antigos que vieram dizer aos novos ericeirenses, que quando o desenvolvimento chegou, as autoridades se esqueceram que ao lado dos bares e das discotecas vivem os velhos jagozes, já cansados, já desejosos de sossego, já com os seus sonos suficientemente perturbados pela vida, para que ainda tenham de suportar os hip hop’s da moda ou o rock da pesada, as cervejolas em excesso e outros costumes mais libertários. Vieram dizer aos políticos que antes de licenciarem bares, discotecas e alojamentos locais, devem estudar a sua inserção urbanística e social, devem condicionar as licenças à realização das necessárias obras de insonorização, devem estudar os meios em que se inserem e as relações que entretanto se geram. Devem fazer tudo isso antes do licenciamento, em vez de correrem atrás do prejuízo, armados com discursos populistas de gente condescendente.
“não vim cá por causa do ruído, mas se soubesse, também vinha” [freguesa que veio protestar sobre a implementação da taxa turística]