“A Memória da Paisagem” – Manuel Vilarinho expõe na Ericeira [imagens]

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“A Memória da Paisagem” – Manuel Vilarinho expõe na Ericeira

 

Muitas das histórias que a Ericeira conta, passam não só por aqueles que nela nasceram, mas também por aqueles que dela fizeram a sua casa permanente ou de lazer. Destes, muitos são gente desconhecida, mas outros há que fizeram nome em Lisboa e noutros lugares. Da política à cultura, às artes, ao desporto ou aos negócios.

Ontem ao fim da tarde, um desses portugueses, o artista plástico Manuel Vilarinho, viu inaugurada na Casa de Cultura da Ericeira, mais uma exposição de pinturas e desenhos – “A Memória da Paisagem”.

Com curadoria de Hélder Alfaiate e apresentação de Elísio Summavielle, a inauguração da exposição contou com a presença de bastante gente ligada à cultura e às artes. Em representação da Câmara Municipal de Mafra, proprietária do espaço, esteve Joaquim Sardinha, que insistiu em encerrar os discursos que moldaram esta inauguração.

O autor e a sua obra foram apresentados por Elísio Summavielle, também ele, um dos que fez da Ericeira a sua segunda “pátria”. Esta apresentação, mais do que uma elegia à Ericeira, constituiu um olhar crítico, estético e politico para para este espaço de ontem e de hoje, a partir da tela ou da pena daqueles que se deixaram contagiar pela alma da vila.

“(…) Recordo um mês de Outubro, nas últimas eleições da ‘primavera marcelista’, em que a pintura já era a aprendizagem do Manuel e inundava os nossos temas. Era difícil separá-la do nosso compromisso conspirativo contra o moribundo regime. Estávamos já, involuntária e precocemente a partir o muro de Berlim… e no entanto não resistíamos aos longos serões cheios de histórias junto daquela gente, de onde saíamos mais doutrinados que doutrinadores.

E depois havia os pintores. Os que lá iam, como a Paula Rego, o David Evans, a Nela Muller, e os que já não iam, como o Alberto de Sousa, o Abel Manta, Bernardo Marques, Roque Gameiro, e fugazmente o Almada, ou a Vieira da Silva. Os pintores locais, os autodidactas, os pormenores notáveis do saudoso Orlando Morais, a pintura respirava-se mesmo que não existissem pintores. Para o Manuel já começava a fase da pintura-pintura, na Escola, que colocaria depois entre parêntesis, no calor ‘monástico’ de uma aventura revolucionária por esse país fora, necessariamente curta e
desnecessariamente frustrante. Mas sobreviveu o essencial, a luz, a cor, as formas, reforçado por mais de quarenta anos de experiência, aprendizagem, mestria, maturidade. Mudou o tempo dos nossos passeios à Foz do Lizandro, pela falésia, e dos passeios em grupo no barco a remos, com lindas fotografias kitsch de mar chão ao pôr-do-Sol. Mudou o repousante sem sentido dos dias, que se sucediam iguais e cheios de enredos. Mudou até a paisagem das ruas, agora mais ‘politicamente correctas’, globalizadas e domesticadas. Serão porventura maus ajustes de contas com o passado, tiques de autoritarismo estético que sendo perigosamente involuntário, e sempre com a ‘melhor’ das intenções, destrói implacavelmente a
autenticidade das paletas, a diversidade orgânica e a peculiar autenticidade do meio. Isso entristeceu-nos. Andámos demasiado tempo por aquelas ruas, e aprendemos muito a andar nelas. Foi quando o filtro do tempo se começou a esbater e a fazer com que as cores do Manuel, tão vivas e exuberantes, se tornassem pouco a pouco mais densas e trabalhadas com extrema minúcia (…)”. [Elísio Summavielle]

 

Esta exposição ficará patente até  dia 6 de outubro na Casa de Cultura da Ericeira
Todos os dias exceto 2ªs e feriados

 

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