Hoje é Dia Mundial das Bibliotecas, comemoração que assenta especialmente bem em Mafra onde podemos desfrutar de uma das mais belas bibliotecas do mundo, a Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra.
“”[…] a famosa Casa da Livraria está situada na frontaria do Palácio da parte do Nascente e ela ocupa quase toda a frontaria e esta está no mesmo olivel do Palácio Real de tal sorte que suas Majestades podem ir a ela sem descomodo algum […]””
Frei José Pereira (1771)
Quando pela manhã, se abre a pesada porta que franqueia o acesso à antecâmara e à biblioteca, invade-nos um aroma único, que apenas quem tem o poder (e a chave) para abrir aquela porta, tem o privilégio de sentir. Um cheiro que mistura aromas de papel e de madeira, com o maravilhoso “aroma das antiguidades”.
Dependendo da época do ano e do estado do tempo, logo pela manhã, a luz que penetra pelas janelas que se situam no topo das estantes mais altas, inunda aquele espaço com uma luminosidade mágica, levando-nos a crer que aquele ambiente se gerou a partir dos livros de magia com que a biblioteca conta no seu acervo.
O chão de pedra mármore de lioz com várias cores (branco, cinzento, rosa, preto…), as estantes em estilo rococó feitas de madeira (trata-se de pinho nórdico e não de madeiras exóticas, como se pensou durante muito tempo) com o seu tom suave e os dourados das encadernações contribuem para que esta biblioteca joaninha seja considerada uma das mais belas do mundo.
As paredes em forma de cruz, limitam um espaço com 85 m de comprimento, 9,5 m de largura e 13 de altura, sendo revestidas por 150 estantes, que contêm cerca de 30 000 volumes (um volume pode conter vários livros no seu interior) dos séculos XV e XIX.
D. João V enviou emissários à procura do melhor e do que de mais recente se tivesse imprimisse e encarregou-os de os adquirir para esta Biblioteca, tornando o seu atual acervo único no nosso pais e muito raro em todo o mundo.
Entre as suas estantes existem exemplares únicos e também livros com apenas mais dois ou três exemplares em todo o mundo.
Destas obras raras destacam-se a segunda edição de “Os Lusíadas”, de Luís de Camões, a coleção de incunábulos (obras impressas até 1500), a “Crónica de Nuremberga” (1493), Bíblias, a primeira Enciclopédia (conhecida como de Diderot et D’Alembert), Livros de Horas iluminados do Séc. XV e um núcleo de partituras musicais de autores portugueses e estrangeiros escritas para os seis órgãos da Basílica.
Os livros desta biblioteca versam Teologia, Direito Canónico e Civil, História, Geografia e Viagens, Matemática, Arte, Música, Medicina… e alguns livros proibidos pela toda poderosa inquisição.
“Existe a mais bela biblioteca de Portugal, possuindo livros sobre todas as ciências e em todas as línguas, adequada à dimensão e grandiosidade do edifício que a contém”
George Borrow, 1843, in The Bible in Spain, Londres, p. 5)
Em 1754, uma Bula papal concedida pelo Papa Bento XIV veio permitir que a Biblioteca do Palácio de Mafra pudesse conter livros proibidos, bula que proibia “sob pena de excomunhão, o desvio ou empréstimo de obras impressas ou manuscritas sem licença do Rei de Portugal, concede-lhe autorização para incluir no seu acervo os livros proibidos pelo Index”.