42.º aniversário do Serviço nacional de saúde sob o signo da falta de médicos de família na região de Lisboa

baixas médicas

 

O Serviço Nacional de Saúde celebra hoje o seu 42.º aniversário, um aniversário de algum modo ensombrado pela falta de médicos de família “um problema que se arrasta há algum tempo” segundo as palavras de Luís Pisco, presidente da região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT).

Na região de Lisboa e Vale do Tejo existem 700 mil pessoas sem médico de família. Luís Pisco esteve esta manhã numa audição parlamentar sobre a falta de médicos de família, em especial na região LVT, em que se discutiu também a aparente incapacidade para solucionar este problema.

A região LVT tinha em média cerca de 2.000 médicos de família, mas nos últimos anos este número caiu para cerca de 1.700/1.800. Entre 2009 e 2019, não entrando em linha de conta com os dois anos de pandemia, entraram 1.013 médicos na ARSLVT e saíram 1.355, a região de LVT perdeu assim 342 médicos em 10 anos.

Ainda de acordo com Luís Pisco, o pior ano “o ano em que batemos no fundo” foi 2014,  em que entraram 53 médicos e saíram 196. Nos anos de 2016, 2017 e 2018 foram os “únicos 3 anos, neste ciclo de 12” em que entraram mais médicos na ARSLVT do que saíram.

A falta de médicos de família é um problema a nível nacional e internacional. Luís Pisco referiu que países como Canada, França (pais que vem aliciar médicos a Portugal) e Inglaterra deparam-se com o mesmo problema e o motivo é o facto da especialidade de medicina familiar se ter “tornado cada vez mais difícil”.

Portugal tem uma população muito envelhecida, com um elevado número de pessoas na faixa etária dos 80 ou mais anos e a “profissão de médico de família tornou-se uma profissão com uma carga de trabalho muito grande. Os doentes são cada vez mais complexos e isso tem afastado alguns possíveis candidatos”.

O presidente da ARSLVT referiu ainda que o facto de não ter médico de família […] não quer dizer que não tenham cuidados de saúde” e que todos os médicos que nos últimos anos se aposentaram fotam contactados no sentido de continuarem a trabalhar para o SNS, tendo a ARSLVT sido “bem-sucedida” visto que agora, cerca de cento e poucos médicos de família reformados continuam a trabalhar o que “é uma boa ajuda”.

A situação da falta de médicos de família agravou-se este ano, entre janeiro e o início do mês de agosto, meses em que a ARSLVT ficou com menos 154 médicos, sendo que 92 se reformaram e 45 pediram a rescisão do contrato. Luís Pisco referiu que “infelizmente, a demografia médica não é favorável” e nos próximos 2 anos vão reformar-se cerca de 100 médicos por ano na região de Lisboa e Vale do Tejo.

A ARSLVT vai continuar a tentar que os médicos que se aposentam não “deixem totalmente o Serviço Nacional de Saúde, se não puderem trabalhar 40 horas connosco, pelo menos trabalharem 20″.

Estabeleceram-se protocolos com algumas misericórdias, no sentido de aquelas contratarem com os médicos, uma“prestação de serviços, sobretudo na doença aguda, para se conseguir consultas no próprio dia”. Estes acordos “têm funcionado bastante bem”  e vão continuar.

Na região de LVT existem agora mais de 800 médicos em formação, mas apenas 46,4% das vagas abertas para médicos de família foram preenchidas no primeiro concurso aberto este ano.

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