“D. Manuel, regressado do banquete em Belém, tirara o grande uniforme de almirante e envergara o de general, entretendo-se a jogar bridge com o Marquês do Lavradio e o Conde de Sabugosa. Quando os cruzadores “S. Rafael” e “Adamastor” tomam posição frente ao Palácio das Necessidades, o pânico apodera-se de quantos aí se encontravam. D. Manuel refugia-se na tapada, no pavilhão mandado construir por seu pai, “o atelier onde D. Carlos pintava e recebia as visitas patuscas”. Após o bombardeamento, o Presidente do Ministério, Teixeira de Sousa, insiste telefonicamente com o rei para que abandone o Palácio. Este hesita, «não iriam dizer que ele desertara?», mas, cerca das duas da tarde, acaba por fugir pelas traseiras, dirigindo-se para Mafra, de automóvel, “embrulhado numa manta, na caixa, escondido”, acompanhado pelo marquês do Faial, que conduz, e pelo Conde de Sabugosa, tendo sido escoltado até à Buraca pelo 3.º esquadrão da Guarda Municipal. Ao mesmo tempo, avisa a mãe e a avó, que se encontravam no Palácio de Sintra, para se lhe juntarem em Mafra.” [Fundação Mário Soares]
D. Manuel II, então com 20 anos, passou a sua última noite em Portugal, no quarto do Torreão Sul do Palácio Nacional de Mafra, antes da sua partida para o exílio.
“Deitei-o eu [Tomás de Melo Breyner] Emprestei-lhe eu uma camisa de noite. Veio só com o fato que trazia vestido (à paisana) (…) Toda a força da Escola Prática de Infantaria está armada na arcada sul. Na galeria à porta do quarto de El-Rei no Torreão Sul estão os guardas da Tapada armados e alguns populares.“ [Tomás de Melo Breyner 4º Conde de Mafra, in Diário de um Monárquico, 1906-1910]